Grécia: cronograma de uma tragédia que ainda não tem data para terminar

País tenta se recuperar de uma crise que desequilibra a economia global e que coloca em xeque sua permanência na moeda única

Nara Faria

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SÃO PAULO – A Grécia vem há tempos sendo citada como a vilã do mercado financeiro por conta dos efeitos do alto endividamento e seus reflexos na economia europeia e mundial. Os problemas financeiros no país abriram margens para a declaração de default de sua dívida e, mais recentemente, a sua possível exclusão da moeda única.

O fato é que Grécia gastou muito mais do que devia nas últimas décadas e por conta desses gastos fez uma série de pedidos de empréstimos de grande valor, que deixaram sua economia cada vez mais dependente deste endividamento. Em complemento, o país aumentou os gastos públicos e os salários do funcionalismo praticamente dobraram.  

No final de 2009, o país começou a ganhar os holofotes sendo apontado como “o próximo Dubai” por sua complicada situação fiscal. Nos anos seguintes, o mercado acompanhou uma série de notícias de renegociação de dívidas, medidas de austeridades fiscal e rebaixamento de ratings por agências de classificação de risco que colocam em xeque a capacidade de o país se recuperar. 

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Para entender um pouco da tragetória econômica deste país – que além de conhecido por suas belezas naturais passou a ser foco pelos seus sérios problemas econômicos e políticos -, o Portal InfoMoney compilou os principais eventos ocorridos entre os anos de 2010 até os primeiros meses de 212,  com base em notícias publicadas pela imprensa e pelo Portal InfoMoney durante o periodo. Confira:

2010

Data Evento
25 de março 

Angela Merkel (chanceler alemã) e Nicolas Sarkozy (presidente da França) chegam a um acordo do pacote de ajuda a ser prestado à Grécia.

29 de março  Grécia realiza a primeira emissão de títulos após a promessa de ser resgatada pela União Europeia e o FMI (Fundo Monetário Internacional).
9 de abril Fitch corta o rating de longo prazo soberano da Grécia de BBB+ para BBB-, com perspectiva negativa.
12 de abril Ministros das finanças da Zona do Euro acertam pacote de resgate à Grécia no valor de € 30 bilhões.
13 de abril

Os membros do BCE, o austríaco Ewald Nowotny e o espanhol Miguel Ángel Fernández Ordóñez, celebram o pacote orçado em € 30 bilhões.

22 de abril Moody’s rebaixa o rating soberano da Grécia, de A2 para A3, listando ainda a possibilidade de uma nova revisão à frente.
27 de abril Standard & Poor’s reduz os ratings soberanos da Grécia. A nota de longo prazo passou de BBB+ para BB+ – um patamar especulativo -, enquanto de curto pazo foi de A2 para B.
29 de abril Grécia aceita um pacote de austeridade no montante de € 24 bilhões. Em contrapartida ao empréstimo dado pelo FMI e pela União Europeia, o país teria concordado com um plano de congelamento de salários para servidores públicos por três anos.
2 de maio Grécia, UE e FMI finalmente chegaram a um acordo para liberação da linha de crédito, estimada em € 110 bilhões ao longo de três anos, que busca evitar um calote da dívida grega. A liberação do pacote de resgate à Grécia impôs condições severas ao país.
6 de maio Parlamento Grego aprovou o pacote de medidas para combater a crise fiscal, abrindo caminho para o recebimento da ajuda financiada por outros 15 países membros da União Europeia e pelo FMI.
6 de maio

No Mesmo dia, o parlamento grego aprovou as medidas de austeridade fiscal para melhorar a situação de suas contas públicas. O plano de corte de gastos levanta greves e protestos em todo o país.

9 de maio FMI aprovou o pacote de € 30 bilhões em empréstimos para socorrer à Grécia, que serão somados aos € 80 bilhões fornecidos pelos países que integram a Zona do Euro.
11 de maio

FMI confirma o desembolso da primeira parcela de uma série de créditos que serão concedidos à Grécia para que o país não seja obrigado a declarar a moratória de sua dívida no valor de € 5,5 bilhões.

18 de maio Grécia recebe mais uma parte do empréstimo no valor de  €  14,5 milhões.
14 de junho Moody’s reduz a nota da dívida soberana da Grécia em quatro pontos, de A3 para Ba1,  grau especulativo.
5 de agosto UE e FMI aprovam nova parcela do empéstimo no valor de € 9 milhões.
29 de novembro Em troca de uma taxa de juro fixa maior, a Grécia conseguiu estender o pagamento de seu empréstimo de € 110 bilhões junto ao FMI e à União Europeia para 2021.
2 de dezembro S&P coloca o rating de crédito de longo prazo da Grécia, atualmente em “BB+”, em revisão, com perspectiva negativa.
16 de dezembro  Moody’s coloca o rating Ba1 dos títulos públicos da Grécia em revisão para possível rebaixamento – tanto em moeda local quanto estrangeira.

2011

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Data Evento
14 de janeiro Fitch corta novamente o rating da Grécia. Desta vez, a classificação de risco foi para “BB+” – o que significa que o país perdeu o grau de investimento. A perspectiva da nota é negativa.
7 de março Moody’s anuncia o corte do rating soberano da Grécia de Ba1 para B1, mantendo perspectiva negativa.
9 de maio Standard & Poors rebaixa o rating de crédito soberano do país de longo prazo de “BB-” para “B” após as autoridades europeias informarem que devem reformular o plano de resgate ao país. 
20 de maio Fitch corta o rating grego em três níveis, de “BB+” para “B+”, e manteve a perspectiva negativa da nota
3 de junho Governo da Grécia chega a um acordo com o BCE e o FMI  para que o país possa receber a 5ª parcela do resgate anunciado em 2010, de € 110 bilhões.
8 de junho  Grécia fecha novo pacote de medidas de austeridade para o ano de 2011 em troca de aproximadamente € 6,5 milhões
13 de junho  Standard & Poor’s corta o rating de longo prazo da Grécia de “B” para “CCC”, com perspectiva negativa.
29 de junho

Parlamento grego aprova um conjunto de medidas de austeridade fiscal exigidas por FMI e UE para a liberação de nova parcela do pacote de ajuda financeira, bem como para a elaboração de uma novo resgate.

8 de julho FMI aprova o pagamento de € 3,2 bilhões à Grécia referentes a mais uma parcela de seu programa de resgate ao país aprovado no ano anterior.
13 de julho Fitch reduz o rating para os títulos de longo prazo do governo grego, de B+ para CCC, com perspectiva negativa. Ao mesmo tempo, a agência revisa para baixo o rating da dívida de curto prazo do governo, de B para C.
20 de julho Merkel e Sarkozy chegam a um acordo sobre uma posição conjunta em um novo plano de resgate à Grécia com participação do setor financeiro.
21 de julho Líderes europeus concordam com um novo programa de resgate à Grécia, desta vez no valor de € 109 bilhões
25 de julho  Moody’s anunciou ter realizado o corte do rating soberano da Grécia de Caa1 para Ca, com perspectiva em desenvolvimento.
27 de julho Standad & Poor’s corta o rating soberano da Grécia de CCC para CC, com perspectiva negativa.
11 de setembro Ministro de finanças da Grécia, Evangelos Venizelos, cria um imposto especial para o mercado imobiliário, de modo a cobrir um rombo de € 2 bilhões no orçamento no ano.
21 de setembro Grécia anuncia medidas de austeridade adicionais, com objetivo de criar condições para o recebimento de novas parcelas do resgate financeiro, conforme publicaram agências internacionais.
23 de setembro Venizelos, afirmou a parlamentares do seu partido que o país enfrenta o risco de um default desordenado, conforme a edição do jornal grego Ta Nea. A publicação acrescenta que o ministro sugeriu um possível desconto de 50% na dívida do país.
2 de outubro

Por conta de uma recessão mais intensa do que a esperada, a Grécia não vai cumprir a meta de redução do seu déficit público neste e no próximo ano, segundo o orçamento preliminar apresentado pelo Ministério de Finanças.

19 de outubro

Principais sindicatos gregos iniciam protestos de 48 horas contra os planos do governo de adotar novas medidas de redução de gastos para combater os crescentes problemas com a dívida do país. 

20 de outubro

Parlamentares gregos aprovam medidas adicionais de austeridade fiscal. A decisão levou manifestantes para as ruas de Atenas e deixou uma pessoa morta e outras 74 feridas.

21 de outubro Ministros de finanças da Zona do Euro e do FMI aprovam uma nova parcela de apoio à Grécia.
1 de novembro George Papandreou, primeiro-ministro grego, anunciou que conduzirá um voto de confiança no parlamento e posteriormente um referendo para que o povo do país aprove as decisões da União Europeia.
10 de novembro

Ex-vice presidente do BCE, Lucas Papademos, foi confirmado para o cargo de primeiro-ministro interino da Grécia, após a renúnica de George Papandreou.

11 de novembro

Novo gabinete grego manteve Venizelos como ministro de Finanças do país e também mantém o cargo de vice-primeiro-ministro.

29 de novembro Ministros das finanças da Zona do Euro confirmam que os governos do grupo irão liberar a sexta parcela da ajuda financeira para a Grécia. O auxílio somou € 8 bilhões e teve por objetivo evitar que o país declarasse a moratória de sua dívida.
5 de dezembro FMI aprova a entrega de € 5,5 bilhões para o governo da Grécia. Esta foi a sexta parcela de um pacote de resgate de € 30 bilhões, acordado com o órgão de crédito norte-americano e a União Europeia em 2010.

2012

Data Eventos
7 de fevereiro

Principais sindicatos gregos iniciam uma greve geral contra novas medidas de austeridade indispensáveis para o recebimento do segundo pacote de resgate ao país.

7 de fevereiro

Primeiro-ministro grego, Lucas Papademos, reúne-se com os líderes dos principais partidos políticos para discutir uma nova rodada de medidas de redução de gastos, de modo a combater os crescentes problemas com a dívida do país. 

8 de fevereiro Papademos chega a um acordo com os líderes dos três partidos da coalizão governamental. Segundo a agência de notícias Bloomberg, o país cortou os pagamentos de pensão e reduzir o salário mínimo em 20% de seu valor.
9 de fevereiro

Após a decisão de manter os juros na Zona do Euro, o presidente do BCE,  Mario Draghi disse, que recebeu um telefonema de Lucas Papademos, primeiro-ministro da Grécia, no qual ele confirmou que o acordo para as medidas de austeridade foi finalmente alcançado.

9 de fevereiro Lucas Papademos, anunciou oficialmente que o acordo com a Troika, entidade internacional formada pelo FMI, UE e o BCE, foi concluído com sucesso.
10 de fevereiro

George Karatzaferis, líder do partido de extrema direita grego, o LAOS, afirma que o partido não concorda com as novas medidas de austeridade exigidas pela Zona Euro em troca de um pacote de resgate.

10 de fevereiro

Ministros do partido da extrema-direita grega, o LAOS, e a vice-ministra de Relações Internacionais da Grécia, Marilisa Xenogiannakopoulou, anunciam suas renúncias.

12 de fevereiro

Grécia aprova as medidas exigidas pela Troika, de modo a garantir um novo pacote de austeridade, avaliado em € 130 bilhões.

16 de fevereiro País fecha um acordo para alcançar cortes orçamentários no valor de € 325 milhões neste ano. Esta é uma das últimas exigências para que o país receba um pacote de resgate de € 130 bilhões.
21 de fevereiro

Na reunião de ministros da Zona do Euro, em Bruxelas, que durou quase 13 horas, foi aprovado um novo pacote de ajuda à Grécia no valor de € 130 bilhões.

22 de fevereiro Fitch Ratings rebaixa o rating de longo prazo da dívida grega de “CCC” para “C”. Do mesmo modo, a curto prazo, o rating foi afirmado em “C”.
23 de fevereiro

Parlamento da Grécia aprova a legislação necessária para a troca de dívida com os credores privados, que faz parte do segundo pacote de resgate ao país no valor de € 130 bilhões.

26 de fevereiro

Contrário aos esforços da chanceler Angela Merkel, o ministro de Interior da Alemanha, Hans-Peter Friedrich, declarou que a Grécia deve deixar a Zona do Euro.

27 de fevereiro Parlamento alemão aprova o segundo pacote de resgate à Grécia, no valor de € 130 bilhões.
27 de fevereiro Standard & Poor’s reduz o rating de dívida soberana longo prazo e o de dívida soberana de curto prazo de CC e CCC, respectivamente, para SD, indicando um default seletivo no país.
28 de fevereiro

BCE suspende temporariamente a elegibilidade dos bônus gregos para uso como garantia em suas operações de financiamento.

2 de março Moody’s corta o rating soberano da Grécia de Ca para C, sem designar uma perspectiva para os ratings do país.
9 de março

Grécia anuncia que 95,7% da dívida do país será reestruturada. Desta forma, o país cumpre com mais uma exigência da União Europeia e do FMI  para receber o socorro financeiro de € 130 bilhões.

9 de março Fitch Ratings rebaixa a nota de crédito da dívida de longo prazo da Grécia de “C” para “default seletivo”.
9 de março

Ministros das Finanças da Zona do Euro aprovam o pagamento do segundo pacote de auxílio à Grécia, no valor de € 35,5 bilhões, como consequência ao acordo para reestruturação da dívida grega.

9 de março

ISDA (Associação Internacional de Swaps e Derivativos, na sigla em inglês) decidiu classificar a reestruturação da dívida grega como um “evento de crédito”, decretando oficialmente o default do país.

13 de março Grécia terá que cortar mais 5,5% do PIB (Produto Interno Bruto) em gastos do governo em 2013 e 2014, segundo relatório da Comissão Europeia obtido com exclusividade pela Reuters.
13 de março

Conselho da União Europeia aprovou o desembolso da assistência financeira que faltava à Grécia, no valor de € 130 bilhões.

13 de março Fitch eleva o rating de longo prazo em moeda estrangeira e local da Grécia de “default restrito” para ‘B-‘, com perspectiva estável. 
14 de março

Países da Zona do Euro formalizam o segundo programa de resgate à Grécia e autorizam o desembolso de uma primeira parcela, no valor de € 39,4 bilhões. 

15 de março

Conselho executivo do FMI aprova o pacote de financiamento ampliado para a Grécia, no valor de € 28 bilhões.

15 de março Standard & Poor’s mantém a nota de crédito CCC, ou default seletivo, para a Grécia.
21 de março Lucas Papademos confirmou que o economista Filippos Sachinidis assumirá o cargo de novo ministro das Finanças do país, após a renúncia de Evangelos Venizelos.
21 de março

Parlamento da Grécia ratifica os termos do segundo pacote europeu de resgate, o qual prevê a liberação de € 130 bilhões ao país.

30 de março

Lucas Papademos disse que o país poderá precisar de mais ajuda financeira, mas que trabalhará duro para evitar outra rodada de recursos.

24 de abril Economia da Grécia deverá encolher mais do que o previsto em 2012, estima o presidente do Banco Central do país, George Provopoulos.
25 de abril

Grécia diz ter concluído a reestruturação de sua dívida, exigida pelos credores internacionais do país em troca do segundo pacote de resgate, de € 130 bilhões.

2 de maio Standard & Poor’s eleva o rating de longo prazo da Grécia de default seletivo para CCC, com perspectiva estável.
7 de maio

Eleições na Grécia terminam sem a formação de um governo. 

8 de maio

 Líder do partido Coalizão da Esquerda Radical, Alexis Tsipras, afirma que o compromisso da Grécia com o acordo de resgate da União Europeia e do FMI pode tornar-se sem valor.

9 de maio

Conselho de diretores do EFSF (Fundo Europeu de Estabilização Financeira) confirmou que a Grécia receberá na próxima quinta-feira € 5,2 bilhões, como já estava previsto, em ajuda emergencial ao país.

11 de maio

Fitch Ratings alerta que a saída da Grécia da Zona do Euro, conforme especulações do mercado, poderia colocar os ratings soberanos de todos os demais Estados-membros do bloco em risco. 

15 de maio Negociações para a formação de um governo de coalizão na Grécia falharam.
16 de maio

Presidente do Conselho do Estado da Grécia, o juiz Panayiotis Pikramenos, anunciou que novas eleições legislativas ocorrerão em 17 de junho. Interinamente, Pikramenos exercerá a função de primeiro-ministro.

17 de maio

BCE interrompeu negociações com alguns bancos da Grécia nas suas operações regulares de política monetária, até que essas instituições tenham sido adequadamente recapitalizadas.

17 de maio Fitch rebaixa o rating de longo prazo em moeda estrangeira e local da Grécia de B- para CCC – grau considerado especulativo.
22 de maio Diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, indica que apoiará qualquer governo de coalizão a ser formado na Grécia.
23 de maio Ex-primeiro ministro da Grécia, Lucas Papademos, afirmou que os gregos não têm escolha, a não ser aceitar o doloroso programa de austeridade ditado por seus credores ou enfrentar uma saída da Zona do Euro.
24 de maio

Pesquisa revela que o partido de esquerda, Syriza, lidera as intenções de voto nas eleições de 17 de junho.