Gigante de gás russa coloca igreja e estado antes de investidor

O conselho da Gazprom aprovou elevar em 60% a meta de doações deste ano, para o recorde de 26,3 bilhões de rublos (US$ 438 milhões), e rejeitou os pedidos de redução de custos feitos por minoritários, diz um documento interno obtido pela Bloomberg

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(Bloomberg) — Na hierarquia econômica de Vladimir Putin, muitos investidores de empresas estatais russas estão abaixo da Igreja, do país e até mesmo do esporte.

O conselho da gigantesca empresa de gás Gazprom aprovou elevar em 60 por cento a meta de doações deste ano, para o recorde de 26,3 bilhões de rublos (US$ 438 milhões), e rejeitou os pedidos de redução de custos feitos por acionistas minoritários, segundo um documento interno visto pela Bloomberg. Um funcionário da empresa, que pediu anonimato porque a informação não é pública, confirmou o número.

Entre os principais beneficiados pela generosidade estão a Rússia: Minha História, uma rede nacional de parques de diversões patrióticos financiada pelo Kremlin e pela Igreja Ortodoxa Russa, e fãs de esportes na cidade siberiana de Irkutsk, onde a empresa construiu um complexo de treino com uma piscina olímpica.

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A empresa com sede em Moscou vem há muito frustrando seus investidores ao financiar projetos que não fazem sentido economicamente, como o fornecimento de grãos à Coreia do Norte em 2011 e a construção de resorts de esqui para os Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi. Aumentar o gasto com doações até o nível da Exxon Mobil, uma petroleira americana com o dobro de vendas e sete vezes seu valor de mercado, provavelmente frustrará as esperanças de que a empresa leve a sério a redução de despesas, segundo Pavel Kushnir, analista do Deutsche Bank.

“Para pessoas como eu, que acham que o controle de custos da Gazprom está melhorando, sem dúvida este aumento de despesas não essenciais é uma notícia negativa”, disse Kushnir. “Para quem nunca mudou de opinião e considera que a Gazprom é uma empresa ineficiente – a maioria, infelizmente –, esta notícia não muda muita coisa.”

Gastos

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A Gazprom, que gastou centenas de milhões de dólares para transformar seu time de futebol profissional, o Zenit São Petersburgo, em um campeão nacional, além de patrocinar também times alemães e sérvios, afirmou que leva a sério a redução de gastos. Excluindo “coisas pontuais”, como Rússia: Minha História e o complexo de Irkutsk, neste ano haverá menos doações do que no ano passado, informou a assessoria de imprensa.

As ações da Gazprom tiveram o pior desempenho entre as maiores empresas russas de petróleo e gás nos últimos três anos, com uma queda de cerca de 7 por cento, em comparação com ganhos entre 60 por cento e 45 por cento para a Lukoil e a Novatek, as maiores produtoras não estatais de petróleo e gás do país.

Em parte, isso se deve ao forte crescimento da linha dos relatórios da empresa que mais preocupa os investidores – “outros”, que normalmente inclui consultoria, propaganda e doações. Os gastos desta categoria deram um salto de 18 por cento no primeiro semestre, para 178 bilhões de rublos. A Gazprom não fornece uma projeção desses custos para o ano cheio.

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“A Gazprom não pode ficar de braços cruzados enquanto ações grandiosas e gloriosas estão sendo realizadas na Rússia”, disse o vice-CEO Valery Golubev neste mês, na inauguração de um parque histórico na região de Samara.

–Com a colaboração de Gregory L. White

Versão em português: Patricia Xavier em Sao Paulo, pbernardino1@bloomberg.net.

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Repórter da matéria original: Elena Mazneva em Moscou, emazneva@bloomberg.net.

Para entrar em contato com os editores responsáveis: Lars Paulsson, lpaulsson@bloomberg.net, Torrey Clark, tclark8@bloomberg.net, Brad Cook

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