Gaste suas economias e viva para sempre na nova Atlantic City

Gaste suas economias e viva para sempre na nova Atlantic City

Paula Zogbi

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(SÃO PAULO) – Houve um tempo, acredite se quiser, em que Atlantic City era considerada o lugar mais saudável da América. O fundador da cidade, Jonathan Pitney, era um médico de interior e político falido que, em 1850, decidiu transformar a costa sudeste de Nova Jersey em uma “cidade à beira mar”, exaltando as propriedades regeneradoras da maresia e da água salgada. Por décadas – antes das aflições do crime organizado, e muito antes da praga urbana, Donald Trump, Don King e o desespero fiscal – físicos enviavam pessoas inválidas e convalescentes para recuperação por lá. Um médico chegou a dizer, em 1881, que o ar da cidade poderia curar a malária.

Agora, mais de um século depois, temos um herdeiro do doutor Pitney, com um plano similar aos de Trump. E tudo começou com a ideia de fazer com que Atlantic City parecesse boa para a sua saúde novamente.

No dia 8 de abril, após passar meses em tribunais de falências, Glenn Straub – industrialista independente e rico de 68 anos de idade – ganhou o direito de comprar o Revel Atlantic City, um hotel e cassino quase novo em folha que abriu em 2012 e havia fechado em setembro de 2014. Os planos improváveis de Straub para a propriedade combinam a chance de perder todas as suas economias no cassino com a oportunidade de estender sua vida em instalações médicas futuristas.

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“Esses hospitais não estão fazendo o que deveriam fazer”, diz Straub, que tem planos de criar uma universidade de longevidade para ensinar a legiões de pessoas sobre a terapia dos quatro nutrientes, a crioterapia de baixas temperaturas e a genoma-terapia. “Eu estenderei sua qualidade de vida em 20 anos extras, garantidos. Se não aumentarmos sua vida e você não se sentir confortável, não pague”.

Straub possui mais de 600 propriedades ao redor do mundo. Era apenas uma questão de tempo até o investidor nascido na Flórida cair na tentação da perturbada Atlantic City. Quando a Brookfield Asset Management abandonou um leilão inicial de US$110 milhões para comprar o falido Revel, Straub entrou com uma oferta de US$95,5 milhões. Uma corte em janeiro anulou sua oferta, então ele entrou com uma ainda mais baixa em uma batalha com credores do Revel. No mês passado, uma decisão judicial deu a Straub o complexo inteiro por US$82 milhões – nada mal para um hotel que custou US$2,4 bilhões para ser construído.

O Ravel é uma pequena parte do plano de investimento de US$1,5 bilhão por um novo distrito no norte da cidade. Ele imagina um centro de polo, saltos com obstáculos, e adestramento para fazer da cidade uma nova parada no circuito de cavalos, entre a Flórida e o Canadá. Uma marina acomodará os iates gigantescos do mesmo grupo de pessoas – patronos de cavalos e oligarcas com barcos tão grandes que não cabem em Greenwich. Straub preencheu a papelada para assumir o campo de aviação inativo da cidade e soltar uma frota de duas dúzias de pequenos aviões para voar para qualquer lugar que ele quaira – gratuitamente. Straub diz que precisará atrair dezenas de milhares de visitantes por mês para ser bem-sucedido, e o novo heliporto que quer construir no teto de uma garagem do revel não consegue atender a essa demanda por si só. Sua visão se estende a um parque aquático de um amigo da família, e um longo píer até o oceano, com um show de luzes à noite.

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Mas Revel tem um ponto alto. O cassino-clínica promete algo próximo da tentativa da imortalidade. “Podemos fazer você viver até os cem anos de idade”, diz Straub pelo telefone. “Eu não sei se você quer isso, mas nós podemos fazer isso por você”.

O que deixa Straub mais ansioso a respeito da sua aquisição são os planos de terapia de extensão da vida. Em anos recentes, ele explorou diversas técnicas vitais. Após cada partida de polo, Straub tem uma sessão de crioterapia de alta temperatura – um jato de vapor de nitrogênio em uma cabine especial – para reparar tecidos danificados. “Todos os times de esportes profissionais fazem isso agora, chocar o corpo com água gelada”, ele diz.

Ele também acredita no poder de análises sanguíneas e transfusões eletivas, às quais ele se submete uma vez por semana por US$165. “Eu tenho dinheiro, então eu vou viver até os cem anos de idade – e há muitas outras pessoas como eu por aí”, ele diz.

“Eu tinha o sangue fino”, ele diz, e por isso passou a fazer transfusões ricas em nutrientes. “Então depois de todos aqueles testes, eles decidiram que devo tomar 12 comprimidos, e eu estou pronto para brigar com qualquer um”.

Straub teve uma infância de classe média. Seu pai, que tinha revendedoras de carros e tratores e companhias de licenciamentos de carros, morreu quando Straub ainda estava no ensino médio. Ele desistiu da faculdade para começar um negócio com seu irmão, George, expandindo de construção de estradas a imóveis antes de ramificar os negócios. “Nós tínhamos toda aquela terra, e começamos a procurar por petróleo e gás nelas”.

Em 1983, ele mudou-se para a Flórida e tornou-se um barão de imóveis. “Eu tinha jogado cinco partidas de golfe na vida”, ele diz, “mas eu tinha mais campos de golfe do que Donald Trump”. Straub tem admiração por Trump: “nós damos piscadas um ao outro quando estamos nos mesmos leilões e fazemos piadas a respeito disso”. Trump diz que Straub é um “investidor realmente maravilhoso” com um “ótimo senso de valor”.

Entre partidas de polo e conversas com locais, Straub construiu uma segunda fortuna como credor de empréstimos sem garantias. “Nós compramos coisas que estão prestes a falir, propriedades em crise, por centavos”, ele diz. “Deixamos administradores a cargo desses investimentos e dizemos ‘nos dê cinco anos de sua vida, cuide dessas propriedades como se fossem suas e nós o financiaremos’”. Os termos são diferentes de um banco normal: “não emprestamos dólares por dólares. Nós vamos te dar US$25 milhões, mas é melhor você nos dar US$100 milhões em efeitos. Também não nos importamos em ter ativos não líquidos em efeitos”.

Inevitavelmente ele acaba assumindo alguns desses negócios. Straub não é conhecido por permanecer com o que tem por muito tempo. Ele normalmente vende em pedaços – ou simplesmente estraga tudo. Em 2004 ele comprou a Miami Arena, onde o time de basquete Heat jogava, apenas para acabar com o local quatro anos depois quando não conseguiu lidar com competição.

O que o torna diferente de Trump e outros que tentaram controlar Atlantic City, ele diz, é que ele paga por tudo em dinheiro. “Somos livres de dívidas. Tenho todo esse dinheiro entrando, obtendo uma taxa de meio por cento. Mantemos dinheiro em três bancos com US$100 milhões ou mais em cada um deles. Nossas propriedades e imóveis alugados estão tirando dinheiro o suficiente e temos que colocar esse dinheiro em algum lugar”.

O revel parece amaldiçoado, mesmo para os padrões de Atlantic City. Um acidente aéreo em 2008 matou três executivos da desenvolvedora original. O projeto ficou sem dinheiro em 2009. O Morgan Stanley teve perdas de US$932 milhões e largou o negócio em 2010. O estado ajudou a reiniciar o projeto em 2011 com um incentivo fiscal – e então um trabalhador da construção morreu em uma tempestade, atingido por um raio. O hotel e cassino finalmente abriu em 2012, mas nunca chegou perto de se pagar. O pico infame de público ocorreu em fevereiro de 2014, quando Ray Rice, do Baltimore Ravens, foi pego em um vídeo agredindo sua noiva nas dependências do hotel. O Revel declarou falência e fechou sete meses depois.

Foi aí que chegou Straub. Seu primeiro trabalho é encontrar um inquilino para tomar conta do cassino. “Podemos abrir nesse ano, ou não”, ele diz. “As máquinas estão todas lá, assim como as câmeras de segurança”. O parque aquático pode demorar um pouco mais, assim como a construção do píer: Straub admite que está preocupado com os desafios de engenharia do projeto. Ele também negocia uma fusão com o vizinho do Cassino, o Showboat, que tem um novo inquilino na Stockton University, uma faculdade local que forma muitos gerentes de cassinos e hotéis. A Universidade ainda está debatendo o possível acordo, e Straub diz que vai prosseguir com seus planos seja qual for a resposta.

A universidade de extensão de vida é um plano separado – o bebê de Straub, sua paixão. Ele conversa atualmente com três fornecedoras médicas que podem fechar com o Revel imediatamente, oferecendo serviços de alto padrão: “tudo, de reabilitação para dependentes químicos a criogênicos para melhorar o seu sangue”.

Ele não é o primeiro a buscar aumentar a expectativa de vida das pessoas. O Human Longevity, de Craig Venter, explora genomas e terapias com células-tronco. A Calico, empreendimento do Google que supostamente busca a “cura da morte”, possui um esforço de pesquisa coam remédios. O capitalista de risco do Vale do Silício Peter Thiel gastou milhões para apoiar o trabalho de Aubrey de Grey, gerontologista inglês mais conhecido por declarar que a primeira pessoa a viver até os 1.000 anos já está viva atualmente.

Straub, entretanto, é o primeiro empreendedor de longevidade pronto para ir ao varejo e oferecer um cardápio completo de terapias anti-idade de uma fonte única. Já era tempo de essa ideia ser posta em prática, ao menos para o chefe da organização da tendência do movimento. “Agora está tudo em pedaços”, diz Ronald Klatz, um dos fundadores da Academia Americana de Medicina Anti-idade, um grupo com 26.000 membros. “Uma clínica faz terapia de substituição de hormônios, outra faz terapia de metabolismo de DNA, etc. Cada uma delas é como uma camada de um bolo de muitas camadas. Por que não oferecer tudo no mesmo lugar?”

Ele tem dados demográficos a seu favor. Em 2029, espera-se que os baby boomers tenham ao menos 65 anos, sendo 20% da população total. Os tratamentos de que Straub gosta estão lentamente tornando-se populares. Atletas profissionais como Kobe Bryant adoram crioterapia, e tratamentos IV pegaram entre viajantes com jet-lag e pessoas de ressaca após festas. “Vimos um crescimento substancial”, diz Jonathan Globerman, um dos fundadores da Biostation, uma “administradora de idade” que oferece substituição de hormônios, nutracêutica e terapias de nutrientes IV.

Se existe um problema, é que nenhuma das terapias que Straub apoia tem bases científicas para apoiar suas reinvindicações de extensão da vida. “Estamos pedindo que as pessoas gastem seu dinheiro em uma coisa que não sabemos se funciona, e ignorem as coisas que sabemos que funcionam, como mudanças de estilo de vida”, diz David Kratz, diretor fundador do Centro de Pesquisa de Prevenção da Yale University.

Straub, é claro, pensa diferente. Ele vê uma base potencial de clientes para o que está oferecendo. Na Flórida, ele investe pesado em comunidades de ricos idosos. Ele quer construir uma ao lado do Revel. “São pessoas que não estão prontas para morrer e não estão prontas a ir a Chicago para cuidar de seus netos”, ele diz. Seu cassino de longevidade será, no fim das contas, uma aposta de que existem muitas pessoas ricas dispostas a experimentar na luta contra a idade.

Parte do apelo estará na nostalgia do destino, a noção de voltar no tempo. “É aqui onde as pessoas se lembram de como Atlantic City costumava ser”, ele diz. E ele é, de certa maneira, uma dessas pessoas. “Eu estava aqui quando tinha 6 anos de idade, e andava nessas calçadas com minha mãe”.

Traduzido por Paula Zogbi

Paula Zogbi

Analista de conteúdo da Rico Investimentos, ex-editora de finanças do InfoMoney