Fundo de Dubai traz nova incerteza aos mercados e pressiona a sessão

Dubai World tenta postergar dívida e reforça declarações recentes de fragilidade do setor financeiro internacional

Beatriz Nantes

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SÃO PAULO – Nesta quinta-feira (26), o Dubai World, fundo de investimento administrado pelo governo de Dubai, propôs aos credores atrasar em seis meses o pagamento de suas dívidas. Além de forte exposição de bancos estrangeiros ao fundo, o Dubai World possuía relações com a construtora brasileira Odebrecht.

O anúncio de Dubai foi feito após recente venda de US$ 5 bilhões em bônus do Tesouro do emirado árabe, mas o governo afirmou que estes bônus não seriam utilizados para apoiar a Dubai World, que deve ser reestruturada pela empresa britânica Deloitte. A dívida total de Dubai foi calculada em US$ 80 bilhões em 2008 e a Dubai World ficou com US$ 59 bilhões deste total.

Exposição internacional

Bancos europeus podem ter uma exposição ao fundo de Dubai de até US$ 40 bilhões, e segundo analistas do Credit Suisse, uma perda de 50% na exposição que os bancos possuem pode levar a um aumento de 5% nas provisões de perdas para 2010. O setor financeiro europeu registra forte queda nas ações durante os pregões dessa tarde.

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O default, que pode impactar o setor financeiro, vem um dia após o presidente do FMI (Fundo Monetário Internacional) Dominique Strauss-Kahn, afirmar que os principais bancos da Europa e dos EUA ainda têm muitas perdas a revelar em seus próximos resultados, apesar do clima reinante nos mercados de que o pior da crise já passou.

O Barclays afirmou que a exposição do banco não é “significativa”, e que está monitorando de perto o impacto do anúncio. Adotando o mesmo tom, o ING disse que sua exposição aos títulos de Dubai é insignificante.

Odebrecht e Embraport

Em agosto deste ano, a Odebrecht adquiriu, em conjunto com a Dubai World, participação majoritária na Embraport, novo porto que está sendo construído na cidade de Santos. O projeto deve ficar pronto em 2012, a um custo de aproximadamente US$ 500 milhões. O FGTS e Coimex também possuem participação acionária na empresa.

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Portfólio

O fundo foi lançado pelo governo de Dubai em 2006 e a construção do porto em Santos, juntamente com a Odebrecht, representa a entrada do fundo no País, sendo que no restante da América Latina já há operações, também em portos, na Venezuela e na Argentina.

Entre as principais participações da empresa, está o controle do Barney’s New York, nos EUA, além de investimentos no setor industrial de Cingapura. A empresa ainda possui 100% de participação na Inchcape Shipping, do Reino Unido, e 37% de participação acionária na empresa chinesa Beng Kuang.

Agências diminuem classificação

Como resposta aos incidentes, as agências de classificação de risco Moody’s e Standard & Poor’s reduziram a classificação de diversas companhias de Dubai. A Moody’s rebaixou a nota de seis empresas do governo, enquanto a Standard & Poor’s reduziu a nota de cinco, e afirmou que o anúncio representa “o fracasso do governo de Dubai em dar apoio financeiro a uma companhia de primeiro plano”.