Frigoríficos têm nova baixa e BRF (BRFS3) acumula queda de 10% em três pregões, com gripe aviária e China no radar do mercado

Declaração de emergência zoossanitária em todo o território nacional aumentou os temores sobre doença, ainda que analistas estejam cautelosos sobre impactos

Equipe InfoMoney

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Se os resultados do primeiro trimestre de 2023 (1T23) não foram positivos para os frigoríficos, a pós-temporada de balanços também não traz boas notícias, com atenção para algumas ações do setor.

Desde a semana passada, a notícia sobre a chegada da gripe aviária no Brasil, ainda que com detecção em aves silvestres (sem atingir as comerciais) tem abalado o setor.

As ações da BRF (BRFS3) fecharam a sessão desta quarta-feira (24) em queda de 5,55%, a R$ 7,32, com queda acumulada de 10,62% nesta semana. Já JBS (JBSS3) fechou em baixa de 4,89%, a R$ 16,15, com baixa de 5% em três pregões. Já Marfrig (MRFG3), com participação em BRF, caiu 2,43%, a R$ 6,43, com queda de 7% desde o fechamento de sexta-feira. Minerva (BEEF3, com impacto mais indireto, caiu 4,23%, a R$ 9,73, em baixa de 4,6% na semana.

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Cabe destacar que, na última segunda-feira (22), o Ministério da Agricultura e Pecuária declarou estado de emergência zoossanitária em todo o território nacional em função de casos de gripe aviária detectados em aves silvestres. A portaria, assinada pelo ministro Carlos Fávaro, foi publicada em edição extra do Diário Oficial da União e tem validade de 180 dias.

A medida, de acordo com a pasta, tem como objetivo evitar que a doença chegue à produção de aves de subsistência e comercial, além de preservar a fauna e a saúde humana. Ainda segundo o ministério, a declaração de estado de emergência zoossanitária possibilita a mobilização de verbas da União e a articulação com outros ministérios, organizações governamentais nas três instâncias e não governamentais.

Na tarde de segunda, o Laboratório Federal de Defesa Agropecuária de São Paulo confirmou três novos casos positivos para influenza aviária (H5N1) no Espírito Santo, que estavam em investigação desde a semana passada. Em nota, o ministério informou que as aves silvestres da espécie Thalasseus acuflavidus (nome popular trinta-réis-de-bando) foram encontradas nos municípios de Linhares, Itapemirim e Vitória.

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Até o momento, são oito casos confirmados em aves no país: sete no Espírito Santo, nos municípios de Marataízes, Cariacica, Vitória, Nova Venécia, Linhares e Itapemirim; e um no estado do Rio de Janeiro, em São João da Barra. Além da espécie Thalasseus acuflavidus, há ainda aves da Sula leucogaster (atobá-pardo) e Thalasseus maximus (trinta-réis real).

A orientação da pasta é que a população não recolha aves que encontrar doentes ou mortas e acione o serviço veterinário mais próximo, no intuito de evitar que a doença se espalhe.

Ainda segundo o governo, não há mudanças no status brasileiro de livre da influenza aviária de alta patogenicidade perante a Organização Mundial de Saúde Animal, por não haver registro na produção comercial.

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Na segunda-feira, logo após a notícia da portaria declarando emergência zoossanitária, as ações da exportadora brasileira de frango BRF reverteram o desempenho positivo e fecharam em queda de 0,49%, enquanto caíram 4,91% na terça.

O Bradesco BBI, contudo, destacou que a visão positiva para a ação permaneceria inalterada, seguindo com recomendação outperform (desempenho acima da média, equivalente à compra) para o ativo.

“Isso porque, embora a declaração de emergência zoossanitária do Brasil possa ter levado os investidores a acreditar que a situação está piorando no Brasil, entendemos que essa medida pode ter sido lançada de fato para permitir gastos maiores e mais rápidos para evitar a propagação da gripe aviária”, avalia o banco.

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Os analistas do BBI também apontam que, apesar das preocupações de mercado, nenhuma proibição das exportações brasileiras de frango foi implementada pelos parceiros comerciais, uma vez que nenhum caso foi encontrado em aves comerciais (apenas em animais selvagens).

A Levante, por sua vez, afirma que o “fantasma da gripe aviária” parece ter vindo para ficar e se inicia agora uma discussão polêmica em relação à doença envolvendo a aplicação da vacina, que também poderia implicar na imposição de barreiras comerciais por parte de muitos países, segundo a Agência Reuters. Cabe ressaltar que o Brasil é o maior exportador mundial de aves,

Em comunicado, a ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal) declarou apoiar a realização de estudos sobre a vacina
contra a influenza aviária, em linha com os pontos defendidos pelos conselhos internacionais do setor, mas lembrou que a eventual adoção da vacinação vai ser dar estritamente por decisão do MAPA.

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“A chegada da doença às aves comerciais do país parece iminente e as autoridades, bem como demais participantes do setor, agora correm contra o tempo não só na criação de medidas preventivas como também em um plano de ação no caso do pior”, afirma a Levante.

Em avaliação na semana passada, quando os primeiros casos em aves silvestres surgiram, o Itaú BBA apontou que “o evento é de baixo risco e de alto impacto para o segmento, por ora”.

De acordo com os analistas, episódios anteriores de gripe aviária tiveram impactos variados na dinâmica de exportação em outros países onde foram registrados, mas esta é a primeira vez que a doença é registrada no Brasil.

A restrição de exportação de frango na Argentina, em março, pode ser usada como um comparativo recente, enquanto a restrição chinesa imposta às exportações de frango dos EUA em 2015 pode ser comparável em um cenário mais pessimista para os exportadores brasileiros.

Em meados de fevereiro, o primeiro caso de gripe aviária em uma ave selvagem foi anunciado na Argentina, levando o país a declarar emergência sanitária nos dias seguintes. Em 28 de fevereiro, a Secretaria de Agricultura da Argentina confirmou um caso da doença em uma fazenda de produção, suspendendo imediatamente as exportações de aves até 31 de março, quando a proibição autoimposta foi levantada. No caso dos EUA, o surto durou de dezembro de 2014 a junho de 2015 e levou ao abate de mais de 50 milhões de animais no país. Na ocasião, mais de 20 países proibiram importações dos estados americanos afetados pela doença.

Para os analistas, se restrições sanitárias forem impostas às exportações de frango do Brasil, o BBA avalia que os potenciais impactos em um cenário negativo seriam mais relevantes para a BRF (BRFS3) e para a JBS (JBSS3), em menor escala. Além disso, a Marfrig (MRFG3) poderia ser impactada negativamente diante de sua exposição indireta ao mercado de aves por meio da sua participação na BRF.

Por outro lado, esperam efeitos mistos para a Minerva (BEEF3): por um lado, o excesso de oferta doméstica de proteína poderia pressionar os preços da carne bovina brasileira, comprimindo inicialmente. Por outro lado, isso também levaria a preços mais baixos de gado, já que competidores domésticos teriam dificuldades com uma dinâmica de lucratividade desafiadora, potencialmente levando a um ambiente mais benigno para exportadores.

Além da gripe aviária, outra fonte de preocupação reside em uma possível nova onda de Covid na China, o que pode afetar novamente as exportações para o gigante asiático caso haja aumento das restrições de mobilidade no país. De acordo com o Washington Post, as autoridades chinesas estão correndo para lançar vacinas para combater uma possível onda da doença, que deve atingir o pico em junho e infectar até 65 milhões de pessoas por semana.

(com Agência Brasil)