Frigoríficos: como o setor pode ganhar um novo impulso na Bolsa com o Ano Novo Chinês

Esgotamento do estoque de carne de porco no país deve resultar em aumento nos preços das commodities

Ricardo Bomfim

SÃO PAULO – As ações de frigoríficos brasileiros podem ganhar força no final de janeiro, graças ao ano-novo chinês, que ocorre no dia 25. Este ano, a data é especialmente importante, e há uma explicação para isso, baseada na particularidade cultural chinesa de utilizar um calendário diferente do ocidental.

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A China não adota o calendário gregoriano, usado no Ocidente e que acompanha um giro completo da Terra em torno do Sol, mas um calendário lunissolar, em que o ano-novo começa na noite de lua nova mais próxima ao dia em que o Sol passa pelo décimo quinto grau de Aquário.

Essa referência diversa faz com que a data não coincida sempre com um dia específico no calendário ocidental. Na maioria das vezes, o ano-novo chinês cai no começo de fevereiro, mas em 2020, ele será mais cedo, em 25 de janeiro.

A data festiva é o feriado mais longo do país asiático, durando uma semana inteira – em 2020 começará no dia 24 e terminará no dia 30 – e historicamente é uma data em que os chineses consomem muita carne de porco.

Em relatório, a equipe de análise do Bradesco BBI projeta que os estoques congelados de carne suína da China serão esgotados neste período, o que gera temores de escassez no país, uma vez que os produtores chineses estão ainda começando a se recuperar dos efeitos da peste suína africana. No ano passado, a doença dizimou direta ou indiretamente pelo menos um quarto do plantel chinês.

Para os frigoríficos brasileiros, a epidemia acabou se tornando uma oportunidade de negócios, pois a produção interna de carne na China não foi o suficiente para dar conta da demanda e muita carne foi exportada para suprir o descompasso. O rali das ações de empresas como BRF (BRFS3), JBS (JBSS3), Marfrig (MRFG3) e Minerva (BEEF3) tem tudo a ver com esse cenário.

“Nós acreditamos que os preços das importações de proteína da China vão subir durante as comemorações do ano-novo, o que deve beneficiar os frigoríficos brasileiros”, escreveram os analistas Leandro Fontanesi, Tiago Mello, João Pedro Grandi e Milenna Okamura, do Bradesco BBI.

A equipe do banco elaborou um gráfico comparando a evolução dos preços da carne de porco do fim de novembro de 2019 à primeira semana de 2020 com o comportamento médio histórico desses valores no mesmo período. A imagem revela que se a tendência de anos anteriores for mantida o rali dos preços da carne suína pode não ter atingido ainda seu pico.

Os analistas recomendam exposição a JBS e BRF. Fontanesi projeta um preço-alvo de R$ 37,00 – valorização de 30% sobre a cotação atual – para as ações da JBS até o fim deste mês, mantendo recomendação outperform (expectativa de desempenho acima da média do mercado) para os papéis. Para BRF, a recomendação também é outperform, com preço-alvo de R$ 47,00, o que corresponde a uma alta de 29,9% sobre o valor de negociação nesta terça-feira (14).

Ao todo, BRF acumula 12 recomendações de compra e cinco neutras, com preço-alvo médio de R$ 40,75 (upside de 12,7%), enquanto JBS soma 13 recomendações de compra e duas neutras, com preço teórico médio de R$ 35,01 (upside de 23%).

Não cobertas pelo Bradesco BBI, a Marfrig tem oito recomendações de compra e duas neutras, com preço-alvo médio de R$ 13,42 (upside de 19,5%) e a Minerva possui nove recomendações de compra e três neutras, com preço-teórico médio de R$ 13,18, (downside de 9,29%).

Vácuo de dados

Para quem acompanha o mercado de uma forma mais geral, o ano-novo chinês em janeiro também terá um impacto relevante. Os analistas Vincent Chan e Wenting Yu, do Credit Suisse, ressaltam que todos os indicadores econômicos de dezembro e o Produto Interno Bruto (PIB) do quarto trimestre serão divulgados antes desta sexta-feira (17).

Na economia real, a produção industrial chinesa dos meses de janeiro e fevereiro ficará comprometida em razão do longo feriado, com boas chances de que o indicador se acelere a partir de março. As vendas no varejo devem apresentar um padrão parecido, na visão dos analistas.

Os dados de exportações e importações, por outro lado, costumam ser muito voláteis na China durante os meses de janeiro e fevereiro, de modo que não é possível prever o impacto do feriado neles.

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Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.