Forte resultado não basta: o que está “tirando o sono” dos investidores no caso de Fibria?

Mercado começa a colocar em xeque a manutenção dos altos preços da celulose

Rafael Souza Ribeiro

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SÃO PAULO – Quando divulgou seu resultado acima do esperado referente ao segundo trimestre na manhã da última terça-feira (25), grande parte dos analistas esperavam por uma reação positiva para Fibria (FIBR3), tendo em vista o resultado 5% superior ao previsto pelo consenso no quesito receita líquida e Ebitda (lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização). Porém, o mercado parece ter ignorado o bom desempenho trimestral e as ações recuaram 2,21% com volume acima da média naquela oportunidade, levantando uma dúvida: o que o mercado está precificando para os papéis?

Falando um pouco sobre os resultados, segundo os analistas do Itaú BBA e do BBI (Banco do Brasil Investimentos), os bons números foram guiados pelos preços mais altos da celulose no segundo trimestre, crescimento do nível de embarque (aumento da demanda) da commodity, em especial na Europa e América do Norte, como também o controle de custos da produção de celulose. O custo caixa de produção de celulose no segundo trimestre foi de R$ 660 por tonelada, 12% inferior ao trimestre passado, em função da ausência de paradas programadas para manutenção, maior resultado da venda de energia e menor consumo de químicos e energéticos. Olhando friamente os números, a queda de 4,3% das ações desde a divulgação do resultado parece injustificada, mas uma preocupação está “tirando o sono” dos investidores e pressionando o papel: o rumo do preço da celulose.

Somente neste ano, foram anunciados quatro aumentos no preço da celulose e o mercado está começando a questionar se o atual nível é sustentável. Na teleconferência dos resultados, o diretor executivo da Fibria, Henry Philippe, ressaltou que os preços devem seguir “saudáveis” por conta da forte demanda da China e Europa. Entretanto, a própria Fibria colocará em operação em setembro o projeto Horizonte II e “essa nova oferta que virá para o mercado deverá impor novas pressões [negativas] no preço da celulose”, projeta o BBI. Além deste projeto, os analistas do Bradesco lembram que a APP (Asia Pulp & Paper) também colocará em operação a fábrica OKI (localizada na Indonésia) e que terá capacidade para processar cerca 3 milhões de toneladas por ano. 

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Além dos receios do lado da oferta, o preço alto da celulose também é uma fonte de preocupação do mercado. Segundo dados retirados do Terminal Bloomberg, o índice PIX BHKP China, referência para o mercado asiático, está próximo da máxima em 2013, quando o PIB (Produto Interno Bruto) chinês registrava crescimento na casa de 8% – para 2017, as projeções apontam para 6,5%. No mesmo compasso, o índice do mercado europeu (PIX BHKP Europe) caminha para o topo marcado em 2010, levando o mercado questionar sobre o poder de penetração de novos aumentos no preço da commodity:

PIX BHKP China


Fonte: Bloomberg

PIX BHKP Europe


Fonte: Bloomberg

No limite?
Apesar das expectativas positivas da empresa, a grande dúvida dos investidores é se o preço da celulose atingiu o seu pico e está prestes a iniciar um processo de correção. De acordo com as estimativas da consultoria RISI, agência especializada no mercado de papel e celulose, o mercado está excessivamente otimista com o preço da celulose e a tendência agora é de estabilização, ao passo que prevê uma queda de 20% para o início de 2018 pelo excesso de oferta. Segundo os analistas do Bradesco, os estoques chineses estão voltando para os níveis normais depois de reabastecidos ao longo da metade do ano e o mercado não pode esquecer dos efeitos sazonais entre junho e setembro, que devem impactar negativamente na demanda por celulose.

Por conta dessas premissas, o time do Bradesco reforçou sua recomendação de venda para as ações da Fibria, assim como os analistas do UBS. Segundo os analistas do banco suíço, os níveis atuais de preço não são sustentáveis em vista da demanda pela commodity e fazem o alerta: “embora o mercado esteja colocando na conta a queda da celulose, acreditamos que o sentimento se deteriorará ainda mais quando os preços de fato começarem a corrigir”. Para eles, o risco x retorno atual não é favorável para ficar posicionado na ação, tendo em vista também a perspectiva de queda para o dólar.

“Apesar disso, continuamos otimistas que a Fibria poderá trazer resultados positivos de sua nova planta, não apenas com relação a maior capacidade de produção, mas também em termos de ganhos de margens e maior geração de caixa”, relevam os analistas do BBI, que seguem com a recomendação de compra para os papéis, assim como o Itaú BBA. Em geral, o mercado ainda segue bastante otimista com a empresa – segundo dados do terminal Bloomberg, dos 14 bancos de investimento e corretoras que realizam a cobertura de Fibria, 10 possuem sugestão de compra. Somente Bradesco e UBS recomendam venda para o papel.