Fim da negociação BRF-Marfrig não surpreende e analistas apontam futuro das empresas separadas

O mercado já havia começado a precificar com uma probabilidade maior de que a fusão não iria ocorrer

Lara Rizério

(Shutterstock)

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SÃO PAULO – Se, há 40 dias, a notícia de negociação para a fusão entre a BRF (BRFS3) e a Marfrig (MRFG3) pegou analistas e investidores de surpresa, o cancelamento da operação anunciado na noite da véspera não foi tão surpreendente assim. 

O mercado já havia começado a precificar com uma probabilidade maior de que a fusão não iria ocorrer.  

Em maio, Antônio Barreto, analista de bebidas e agronegócio do Itaú BBA, havia apontado que o negócio não deveria trazer sinergias relevantes, além dos ganhos administrativos e operacionais de praxe.

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A combinação dos dois negócios criaria uma gigante global de carnes, com receita de R$ 76 bilhões. Pelo acordo, a BRF ficaria com 85% da companhia que seria criada a partir da fusão, enquanto a Marfrig seria dona de uma fatia de 15%.

Porém, do ponto de vista da redução do endividamento da BRF, haveria outras alternativas, segundo Barreto. O mercado já esperava que, com a gripe suína na China, os resultados da BRF melhorassem de forma sensível ao longo de 2020 e 2021. Tanto que esse fator já tinha começado a aparecer nas ações da empresa, que subiram cerca de 50% nos últimos seis meses.

Vale destacar que as ações da BRF tiveram um desempenho inferior ao Ibovespa em 4 pontos percentuais na sessão do dia 31 de maio, após o anúncio do potencial acordo, mas superou o índice em 9 pontos percentuais desde então.

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Por outro lado, a Marfrig superou o Ibovespa em 1 ponto percentual no ??dia seguinte ao anúncio, mas teve um desempenho abaixo do índice em 8 pontos percentuais desde então.

Boa parte do mercado já havia previsto que a fusão poderia não ser concluída em meio às dificuldades já evidenciadas para chegar a um acordo sobre governança corporativa e estrutura de gestão entre os acionistas. 

A falta de consenso sobre governança pode ter sido gerada pelo anúncio prematuro da fusão, que teria sido realizado antes de as empresas amadurecerem o tema, segundo destacou fonte ouvida pelo Estadão. 

A dificuldade em definir claramente os papéis dos executivos da BRF e da Marfrig na nova companhia também pesou desfavoravelmente. “Havia muitas dificuldades”, definiu essa fonte.

Conforme destaca o Bradesco BBI, não estava claro se a estrutura de controle difusa (de corporação) da BRF prevaleceria, uma vez que a Marfrig tem um acionista controlador, o que seria fundamental para os minoritários da BRF aprovarem o acordo.

Os fundos de pensão – Petros (da Petrobras) e Previ (do Banco do Brasil), que são sócios relevantes na BRF, não viam a união com bons olhos. Já na Marfrig, haveria dúvidas se a fusão seria positiva para o empresário Marcos Molina, que ficaria sem poder no novo negócio.

Contudo, avalia o Bradesco BBI, o fato da decisão de encerrar as discussões antes do período de exclusividade de 90 dias indica um bom alinhamento entre o conselho de administração e acionistas minoritários. 

Futuro separadas

Com a fase de negociações superada, os investidores agora se voltam para o futuro das duas companhias com suas negociações separadas. 

A BRF deve voltar seu foco à simplificação de suas operações e, com isso, recuperar a sua rentabilidade. Porém, a alavancagem segue em patamares bastante elevados. Enquanto isso, a Marfrig deve voltar a carga para a internacionalização de sua plataforma global de carnes. 

A XP Research mantém recomendação de compra para Marfrig, que ainda negocia a desconto e pode se beneficiar do ciclo positivo para proteínas. 

Já a recomendação é neutra para a BRF. “Na nossa visão, a peste suína africana pode ser benéfica para a geração de caixa da empresa e ajudar na desalavancagem mas preferimos nos posicionar nesse tema via JBS que já vem entregando resultados, múltiplos de 2020 ainda estão descontados e tem sido vocal com potencial IPO nos EUA, que destravaria valor adicional”, afirma a equipe de análise da XP.

Enquanto isso, o Bradesco BBI segue com a BRF como a top pick do setor, com recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado). 

Contudo, vale destacar, “apesar do término das tratativas para a combinação de seus negócios, o relacionamento comercial entre a companhia (BRF) e a Marfrig permanecerá e não haverá quaisquer modificações nas práticas, condições e termos previstos em contratos por elas celebrados”, informou a dona de Sadia e Perdigão, em fato relevante. Hoje, a Marfrig fornece carne bovina à BRF para produção de hambúrgueres, por exemplo.

Assim, o fim dessa negociação pode não ser o ponto final em uma eventual parceria entre as duas empresas. De acordo com uma fonte ligada às negociações ouvida pelo Estadão, BRF e Marfrig poderão retomar as conversas, em outros termos.

Desta forma, os analistas de mercado devem seguir bem de olho nos próximos passos das duas companhias do setor. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.