Falta de ordem e progresso? Pimco volta a ser otimista e aposta na “força do Brasil”

De acordo com carta de Mark Kiesel, vice-diretor de investimentos, o mercado esteve muito pessimista com o País e os investidores podem estar ignorando diversos pontos fortes do Brasil no longo prazo

Lara Rizério

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SÃO PAULO – A Pimco, que administra o maior fundo de títulos do mundo, parece ter mudado sua opinião, pelo menos em relação ao Brasil. A gestora, conforme aponta carta de Mark Kiesel, vice-diretor de investimentos, está ficando mais otimista sobre o mercado no País, dizendo que os investidores estão ignorando a força de longo prazo do Brasil. 

Após uma viagem ao Brasil, Mark Kiesel destacou que os rendimentos ajustados pela inflação estão entre os maiores do mundo e esta é uma boa vantagem para os investimentos no País. Kiesel é um dos seis gestores de carteira que foram promovidos a vice-CIO (Chief Investment Officer) em janeiro, em uma revisão de cargos após a saída de Mohamed El-Erian.

“A equipe global de crédito está mais otimista com o Brasil, uma mudança significativa em relação aos últimos anos”, destacou Kiesel em relatório. “Nossa principal conclusão foi de que o sentimento era tão negativo que os mercados tinham provavelmente ‘exagerado’ e poderia melhorar em relação aos níveis de baixa, uma vez que o valor relativo finalmente se tornaria atraente”.

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Os comentários de Kiesel ocorrem três meses após Bill Gross, co-fundador da Pimco, ter dito que o Brasil não era mais o mercado emergente preferido da gestora, em meio a preocupações de que uma política fiscal expansionista estaria levando a um aumento no peso da dívida do país. E, depois disso, houve ainda o rebaixamento do rating do Brasil para BBB- no final de março, o que corroborou os temores do fundo. Gross fez esta menção em janeiro, depois que a companhia teve prejuízo com seus investimentos no País no ano passado. Em 2002, a Pimco comprou títulos brasileiros, quando eles registraram fortes quedas nos preços em meio aos temores com a eleição do presidente Lula, e se beneficiou após a forte alta dos papéis. 

O fundo para emergentes da Pimco tem investimentos da ordem de US$ 5,9 bilhões. O Brasil corresponde à segunda maior fatia dentre o destino dos aportes, perdendo somente para a Rússia. 

Ao falar do Brasil, Kiesel ressaltou que as notícias ruins já estão precificadas e destacou que o mau desempenho do País o faz relativamente barato uma vez que possui uma menor dívida externa e reservas internacionais mais elevadas. O gestor destaca até mesmo os títulos vendidos pela Petrobras (PETR3;PETR4) que, segundo ele, estão atrativos porque o governo “deve aumentar os preços da gasolina após as eleições presidenciais de outubro, ajudando a melhorar o fluxo de caixa da empresa”.

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Assim, Kiesel avalia que o sentimento dos investidores com relação ao Brasil está tão negativo que sinaliza um exagero do mercado e, agora, pode voltar a haver uma valorização, tornando os preços relativos atraentes.

O vice-diretor de investimentos da Pimco também destacou o cenário para as eleições de 2014, com as últimas pesquisas apontando para a queda da aprovaçãodo governo Dilma. Kiesel avalia que “os índices de aprovação do governo tinham se deteriorado tanto como resultado de protestos contra o aumento dos preços e devido aos serviços públicos pobres quanto um déficit fiscal em deterioração. As pesquisas de opinião negativas podem ser um catalisador positivo para a mudança”, escreveu Kiesel. 

Vale ressaltar que, no final de janeiro, a Pimco destacou em relatório que o clima para investimentos no Brasil foi caracterizado em 2013 por qualquer coisa menos “Ordem e Progresso”, numa alusão à mensagem na bandeira nacional. 

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Em artigo publicado no site da Pimco, o co-responsável pela equipe de gestores do portólio de emergentes da Pimco Michael A. Gomez disse ainda que embora existam ativos atrativos no Brasil, a instauração da “ordem” no mercado financeiro local é incerta a menos que políticas efetivas sejam restauradas.

Mercado de títulos favorável
Kiesel aponta prêmios atraentes no mercado de juros, sinalizando que a atual estrutura a termo das taxas de juros está precificando um aumento que não deve se materializar nos próximos anos. “Acreditamos que essa é uma oportunidade para os investidores focados nos fundamentos do Brasil”.

Os baixos custos de recursos naturais, a demografia favorável, o sistema bancário com boa regulamentação e saudável, e um sistema político democrático – com o governo fazendo alguns progressos como na área de concessões – são alguns dos pontos fortes do Brasil, segundo o gestor. 

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E segundo a Pimco, provavelmente, os fundamentos do Brasil estarão melhores nos próximos um ou dois anos em relação ao que o mercado precifica atualmente e, com isso, o sentimento dos investidores quanto ao País tende a melhorar, assim como a aplicação em títulos locais. 

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.