Ex-Multilaser (MLAS3) e Ser (SEER3) desabam 20%, Rede D’Or (RDOR3) sobe quase 7% após resultados; confira análises

Ações da Kora Saúde também apresentaram forte baixa, fechando em queda de cerca de 17%

Lara Rizério

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Além da alta de Hapvida (HAPV3) e da forte queda do Magazine Luiza (MGLU3), outras ações reagiram ou com expressivas baixas ou com valorizações aos resultados do primeiro trimestre de 2023 (1T23).

A sessão desta terça-feira (16), por sinal, foi majoritariamente de queda para os ativos das empresas que divulgaram balanços, com algumas tendo mais destaque dada a variação dos ativos.

Com baixa de mais de 10%, estiveram os ativos da Multi (MLAS3), ex-Multilaser, reagindo a um 1T23 ruim após um 4T22 também para ser esquecido, enquanto Ser (SEER3) e Kora Saúde (KRSA3) também tiveram quedas muitos expressivas.  O papel MLAS3 caiu 20,52% (R$ 1,82), SEER3 teve baixa de 20,47% (R$ 3,03) e KRSA3 fechou com queda de 17,05% (R$ 1,07).

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Já entre as maiores altas, além de Hapvida (HAPV3), o destaque ficou para outra empresa do segmento de saúde, a Rede D’Or (RDOR3), fechando com ganhos de 6,72%, a R$ 27,80.

Confira as análises destes “extremos” da Bolsa pós-balanço:

Multi (MLAS3)

A Multi reportou prejuízo líquido de R$ 342,6 milhões no primeiro trimestre de 2023 (1T23), revertendo lucro de R$ 171 milhões no mesmo intervalo de 2022, informou a companhia nesta segunda-feira (15).

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O lucro antes juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) foi negativo em R$ 295,3 milhões no 1T23, ante resultado positivo de R$ 128 milhões de um ano antes. A margem Ebitda atingiu -37,6% entre janeiro e março deste ano, baixa de 50,8 pontos percentuais (p.p.) frente a margem registrada em 1T22.

A receita líquida no 1T23 foi de R$ 784,6 milhões, uma redução de 29,4% em relação ao 4T22 e de 19,6% em relação ao 1T22, impactada principalmente pela migração do sistema ERP da companhia em janeiro.

O prejuízo bruto atingiu a cifra de R$ 52,4 milhões no primeiro trimestre de 2023, revertendo lucro bruto de R$ 277,4 milhões na comparação com igual etapa de 2022.

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As despesas gerais e administrativas somaram R$ 40,2 milhões no 1T23, um crescimento de 23,5% em relação ao mesmo período de 2022.

Na avaliação da XP, a Multi reportou um resultado fraco no primeiro trimestre em cima de expectativas já fracas, com queda na receita e resultados negativos em todos os indicadores financeiros e operacionais devido à migração do ERP. “Mantemos nossa recomendação de compra com preço-alvo de R$6,00, por conta do valuation atrativo”, apontou.

A receita líquida caiu 20% na base anual, pois a migração do ERP comprometeu pedidos e entregas em todos os segmentos, especialmente Office & IT Supplies (-30% no ano) e Home Eletrics Products (-33% na base anual), enquanto o ambiente macroeconômico continuou ser um desafio para a demanda.

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Em termos de rentabilidade, houve um prejuízo bruto de R$ 52 milhões, impactado por uma provisão para redução do valor do estoque de cerca de R$ 91 milhões (principalmente de PCs e smartphones), levando o Ebitda a R$ 295 milhões negativos, enquanto a XP esperava R$ 48 milhões negativos, ainda impactado por maiores despesas de distribuição, demissões e consultorias.

Como resultado, o prejuízo líquido ficou em R$ 343 milhões, devido a resultados pressionados combinados com maiores despesas financeiras, embora a empresa tenha conseguido registrar uma geração de caixa positiva de R$ 146 milhões, principalmente devido a menores contas a receber.

“Por fim, observamos que: i) o Ebitda dos últimos doze meses da Multi agora está em R$ 178 milhões negativos, comprometendo o covenant [cláusulas de garantia em contratos de financiamento ou empréstimos que servem para proteger os interesses dos credores] da empresa (2,5 vezes a dívida líquida sobre o Ebitda), que é verificado anualmente no final do ano; ii) a dívida líquida diminuiu 27% na base anual; e iii) a empresa ressaltou que o desempenho das vendas em março foi em linha com as metas internas.

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Já o Itaú BBA destaca a mensagem que o CEO da Multi, Alexandre Ostrowiecki, trouxe no início do relatório do 1T23 citando um velho e sábio ditado: “Receita é vaidade, lucro é opinião e caixa é realidade”.

“De fato, esta afirmação junto com os números do 1T23 formam uma afirmação clara de que a Multi escolheu o caminho da geração de caixa para endereçar seu ônus financeiro”, aponta.

Segundo os analistas, embora os resultados do 4T22 da empresa incluíssem uma boa quantidade de notícias negativas, a maior preocupação era com a alavancagem financeira da empresa, uma vez que havia quebrado um pacto de dívida e teve que solicitar um waiver dos bancos.

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“A Multi fez um trabalho muito bom nessa frente, reduzindo sua dívida líquida em R$ 150 milhões somente no 1T23. Depois de reportar um Ebitda negativo de R$ 300 milhões no 1T23, que incluiu uma baixa de R$ 90 milhões em sua divisão móvel, acreditamos que o caminho mais fácil para sua dívida líquida parece ser a geração de caixa (em vez do Ebitda)”, avalia.

Se a Multilaser entregar três trimestres adicionais como este – com o curinga do quarto trimestre sazonalmente forte – isso será feito sem risco de insolvência, avalia o banco.

Infelizmente, isso ainda não é certo. Caso o cenário macro piore ou a execução se mostre um desafio ainda maior (por exemplo, lidar com os entraves da mudança do ERP), a empresa pode não conseguir cumprir os covenants. Uma opção neste caso poderia ser uma renegociação com os bancos, o que viria com um custo de dívida maior que por sua vez seria prejudicial para o acionista.

“Enfim, pelo nosso relacionamento pessoal com os empresários, simpatizamos muito com o CEO da empresa, Alexandre Ostrowiecki, e estamos torcendo para que a Multi se recupere e saia dessa crise um negócio muito mais fortalecido. No entanto, devido ao nosso dever para com os investidores em ações, acreditamos que ainda é um risco muito grande correr nessas condições. Aguardaremos, portanto, maiores esclarecimentos. Enquanto isso, mantemos nossa classificação underperform (desempenho abaixo da média, equivalente à venda) para as ações”, aponta o BBA, que tem preço-alvo de R$ 1,50 para os ativos.

Ser Educacional (SEER3)

A Ser Educacional reportou prejuízo líquido ajustado de R$ 18,2 milhões no primeiro trimestre de 2023 (1T23), revertendo lucro líquido ajustado de R$ 639 mil do mesmo intervalo de 2022, informou a companhia nesta segunda-feira (15).

O Ebitda ajustado totalizou R$ 72,6 milhões no 1T23, um crescimento de 10,5% em relação ao 1T22.

A margem Ebitda ajustada atingiu 17,1% entre janeiro e março deste ano, queda de 0,2 ponto percentual (p.p.) frente a margem registrada em 1T22.

A receita líquida somou R$ 424,5 milhões no primeiro trimestre deste ano, crescimento de 11,7% na comparação com igual etapa de 2022.

Apesar da forte queda das ações, analistas não viram os números negativamente.

Para a XP, os resultados foram neutros no 1T23, as receitas aumentaram 12% ao ano, impulsionadas principalmente pela temporada de captação ligeiramente positiva, que promoveu a recuperação da base de alunos e pode apontar para um crescimento sustentável daqui para frente. A margem Ebitda foi auxiliada por menores despesas com Provisão para Devedores Duvidosos (PDD), já que a empresa conseguiu reduzir a evasão.

Contudo, as despesas financeiras continuam sendo uma importante fonte de pressão para os resultados. “A Ser parece estar seguindo o mesmo caminho de recuperação de seus pares, mas vemos as margens e os resultados financeiros como preocupantes para a lucratividade de longo prazo”, aponta a XP.

A base de alunos de ensino híbrido aumentou 7,9% no ano, seguindo um aumento de 7,9%  no volume de captação (+6,9% organicamente), enquanto a base de alunos da ensino digital aumentou 3,7% ao ano seguindo um aumento de 9,6% nos volumes de captação. As taxas de evasão diminuíram 1,4 p.p. no ensino Híbrido (para 12,6%) e 0,4 p.p. no ensino Digital (para 7,4 p.p.). Os cursos relacionados à saúde representaram 61% da base de alunos de ensino híbrido (+1 p.p. na base anual).

As despesas financeiras líquidas totalizaram R$ 63 milhões, ante R$ 41 milhões no 1T22.

O Morgan Stanley, por sua vez, aponta que as margens ficaram ligeiramente acima das expectativas, mas continuam a piorar excluindo Medicina devido a custos de aluguel e investimentos em edtech.

Kora (KRSA3

A Kora Saúde lucrou R$ 3,2 milhões de forma líquida no primeiro trimestre de 2023, número 93% menor do que os R$ 47,1 milhões do mesmo período do ano passado.

A queda do lucro se dá mesmo com a receita da companhia tendo avançado 16% na mesma comparação, chegando a R$ 553 milhões.

“O crescimento da receita líquida foi positivamente impactado por: crescimento orgânico na base de hospitais já existentes; aumento de 2 pontos percentuais na taxa de ocupação saindo de 75,7% para 77,7%; run rate dos hospitais adquiridos; ampliação de especialidades médicas; novos procedimentos de alta complexidade”, fala a Kora Saúde no documento publicado na noite desta segunda-feira (15).

A companhia fechou março com 2.103 leitos, sendo 1.743 operacionais. Estes últimos cresceram 7% no ano, com aquisições e acréscimo de leitos em hospitais já existentes.

Na avaliação da XP, a Kora apresentou resultado negativo no 1T23, com prejuízo líquido ajustado de R$ 3 milhões. A receita aumentou 2,8% no trimestre, impulsionada principalmente por um aumento nos leitos operacionais e uma melhoria na taxa de utilização. Apesar de apresentar melhora na receita, as glosas permaneceram em patamar elevado, de 4% da receita bruta.

A margem Ebitda ajustada diminuiu 2,7 p.p. no trimestre tanto pela inflação de custos quanto pelo mix de procedimentos. As despesas financeiras líquidas corroeram o resultado final, já que a alavancagem da empresa (considerando arrendamentos e passivos de aquisições) ficou em 6,3 vezes o Ebitda ajustado. O capital de giro também apresentou alguma deterioração na comparação trimestral, com alta dos recebíveis.

“Mantemos uma visão conservadora em relação às ações devido à atual dinâmica desafiadora do mercado combinada com a estrutura de capital estressada da empresa”, avalia.

O BBI também destacou que os resultados foram fracos, embora com Ebitda 7% acima do esperado pelo banco. Por outro lado, o lucro líquido ficou abaixo do que esperava.

“Reafirmamos nossa recomendação neutra, com um preço-alvo para 2023 de R$ 1,30 por valuation, alta alavancagem (6 vezes a dívida líquida/Ebitda) e dinâmica de ganhos.

Rede D’Or (RDOR3

A Rede D’Or reportou lucro líquido atribuído aos acionistas controladores de R$ 287,4 milhões no primeiro trimestre de 2023 (1T23), montante 36,5% superior ao reportado no mesmo intervalo de 2022.

Na visão da XP, na frente de operações hospitalares, os destaques foram o aumento de 6,6% na base trimestral no ticket médio e o aumento de 2,7 p.p. da margem Ebitda.

Já em seguros (SulAmérica), os destaques foram o forte crescimento da carteira e aumentos de tickets, e a queda sequencial da sinistralidade. A alavancagem (ajustando para provisões técnicas e considerando arrendamentos e obrigações com fusões e aquisições) foi de 3,6 vezes o Ebitda dos últimos doze meses, embora a casa espere que diminua daqui para frente com a pela redução de sinistralidade.

“Apesar dos resultados, continuamos cautelosos com o papel devido aos riscos de integração e execução”, aponta a XP.

O Itaú BBA avalia que a Rede D’Or reportou resultados do primeiro trimestre com boas tendências de receita para o segmento de hospitais e oncologia, com um forte crescimento de ticket (preço) médio de 6,6% em um ano.

“Além disso, vimos uma melhora na dinâmica de capital de giro, o que é surpreendente dada a atual situação conturbada das fontes pagadoras. No entanto, notamos uma pressão na linha de custos com materiais e medicamentos, o que impediu uma expansão de margem Ebitda (rentabilidade operacional) mais expressiva. Por fim, o segmento de seguro de saúde foi o destaque negativo do trimestre, motivado pela sinistralidade ainda alta”, aponta.

Os analistas do banco mantêm recomendação neutra (desempenho em linha com a média do mercado) para RDOR3, com preço-alvo de R$ 28 ao final de 2023.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.