Ex-Multilaser (MLAS3) desaba quase 37%; 4º tri foi “tempestade perfeita” e demonstra dificuldade do setor no Brasil, diz BBA

Após resultados considerados bastante negativos, Itaú BBA reduziu recomendação da ação MLAS3 para equivalente à venda e cortou projeções para 2023

Lara Rizério

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Em uma sessão de fortes altas e baixas para as ações de diversas empresas que divulgaram resultados na noite da última terça-feira (28), o grande destaque negativo ficou para a ação da Multi (MLAS3), ex-Multilaser, empresa que registrou prejuízo líquido de R$ 205,2 milhões no quarto trimestre de 2022 (4T22), revertendo lucro líquido de R$ 153,1 milhões no mesmo intervalo de 2021. A ação MLAS3 teve uma verdadeira derrocada na sessão desta quarta (29), fechando com baixa de 36,73%, a R$ 1,43, perto da mínima do dia (de R$ 1,42).

A XP aponta que a Multi reportou resultados abaixo das expectativas para o 4T22, com queda na receita líquida, Ebitda negativo e prejuízo líquido. O lucro antes juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) foi negativo em R$ 150,4 milhões no 4T22 ante R$ 153,5 milhões positivos do 4T21.

A receita líquida caiu 12% na base anual, devido ao ambiente macroeconômico desfavorável que continuou a afetar a demanda por eletrônicos, especialmente Mobile Devices (-46%) e Office & IT Supplies (-15%), o que mais do que compensou o bom desempenho de Home Products (+59%) e Kids&Sports (+36%).

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Por fim, os analistas da casa destacam que: i) a diretoria enfatizou que a margem Ebitda estrutural deve permanecer entre 13% e 15%; ii) os resultados do 1º semestre de 2023 devem permanecer pressionados com a transição do ERP; iii) o foco agora é em caixa, com a companhia adiando oportunidades de M&As [fusões e aquisições]; e iv) a Multi recebeu um waiver e estendeu seu covenant (cláusulas contratuais junto às instituições financeiras credoras) de dívida para 2,5 vezes a dívida líquida/Ebitda(em comparação com 2vezes anteriormente).

O Itaú BBA, por sua vez, reduziu a recomendação para as ações MLAS3 depois do resultado, para equivalente à venda (underperform, desempenho abaixo da média do mercado), avaliando o resultado como “muito negativo”.

“Tivemos a oportunidade de uma conversa fascinante em novembro com o CEO da Multilaser, Alexandre Ostrowiecki. Saímos da reunião com a nítida impressão de que ele era um empresário muito talentoso, que otimizou um negócio de importação-construção-distribuição perfeitamente adequado às particularidades do Brasil (as chamadas ‘jabuticabas’). Com alocação inteligente de capital, a Multilaser entregou alto ROIC [Retorno sobre o Capital Investido] e bom crescimento histórico. Portanto, tínhamos uma visão positiva da empresa, mas mantivemos nossa classificação de desempenho de mercado (marketperform, desempenho em linha com a média do mercado) devido ao momento desafiador”, avaliam os analistas.

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“Infelizmente, o 4T22 foi uma demonstração clara de como é difícil fazer negócios no setor industrial no Brasil e a desafiadora execução nessa área”, afirmam os analistas do banco.

O prejuízo líquido da Multilaser de R$ 205 milhões no trimestre é a quantificação de uma “tempestade perfeita”, avalia o banco. As receitas continuam sofrendo com um cenário macroeconômico desafiador e com o avanço da demanda relacionado à pandemia. Os dispositivos móveis (o maior segmento da empresa) registraram uma contração na receita de mais de 45% no ano, enquanto a divisão de Suprimentos de Escritório e TI registrou uma queda de 15% anual.

O lucro bruto caiu 24% no ano, com perdas significativas com a liquidação de estoques acumulados durante a crise da Covid e com altos custos de frete. E como se não bastasse, a Multilaser fez uma transição de sistema de ERP para SAP, que duplicou os custos e aumentou a linha de Despesas com Vendas, Gerais e Administrativas (SG&A) em 67% no ano.

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“A gota d’água foi uma provisão não caixa de R$ 52 milhões para a decisão do STF sobre a revisão tributária da empresa”, afirma.

Dado o trimestre extremamente difícil, os analistas destacaram atenção especial à dívida líquida da empresa. A decisão do STF desencadeou quebra de cláusula contratual, mas a empresa obteve perdão de um devedor em 14 de março, o que fez com que a empresa tivesse que reclassificar R$ 527 milhões do passivo de longo prazo para o de curto prazo.

No entanto, de acordo com o comunicado de imprensa, esta é uma modificação contábil e os pagamentos reais continuarão sendo feitos normalmente. A empresa tem uma dívida bruta de R$ 531 milhões com vencimento em 2023, contra uma posição de caixa de R$ 663 milhões (o que implica em 2,5 vezes dívida líquida sobre Ebitda).

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“Nestas circunstâncias, acreditamos que os próximos 2-3 trimestres serão muito desafiadores para o MLAS3. Dado que ainda existem muitas incertezas (o 1T23 não deve ser muito encorajador), estamos rebaixando a ação MLAS3 para underperform. Estamos revisando para baixo nossos números (receita, Ebitda e lucro líquido) em 19%, 64% e -109% [para prejuízo de R$ 49 milhões] para 2023″, avaliam os analistas, com novo preço-alvo de R$ 1,50 por ação.

Olhando para frente, mais eficiência e foco na geração de caixa certamente são sinais importantes a serem dados aos investidores.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.