Ex-diretor diz que Dilma sabia de Pasadena e envolve filho de FHC

Nestor Cerveró delata que a presidente acompanhava tudo que acontecia na Petrobras e que um contrato na empresa foi assinado com empresa ligada a Paulo Henrique Cardoso. O novo presidente da estatal diz que a estatal foi prejudicada por uma “quadrilha”.

José Marcio Mendonça

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Novamente a poeira (ou a lama) da Operação Lava-Jato espalhou tensão sobre Brasília ontem com a divulgação autorizada da delação premiada do ex-diretor da Petrobras, Nestor Cerveró. Feita no fim de ano passado, a delação estava resguardada até a semana passada, quando então o ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal, retirou o sigilo de diversos documentos das investigações do petrolão que correm na Suprema Corte.

E Cerveró, que em seus depoimentos na CPI da Petrobras havia evitado, com sucesso, contar coisas muito comprometedoras para políticos e figuras da República, diante dos promotores de Curitiba literalmente abriu o bico. E comprometeu principalmente, pelo conhecido até agora, a presidente licenciada. O ex-diretor afirmou que Dilma tinha conhecimento de todos os detalhes dos a aquisição da refinaria de Pasadena, no Estados Unidos, e que “Supõe que ela sabia das propinas – o que ele sempre negou.

Em reportagem, o jornal “O Globo” informa também que e-mails em poder da Procuradoria-Geral da República indicam ainda que Dilma, na ocasião do negócio ministra da Casa Civil e presidente do Conselho de Administração da Petrobras, estava ciente dos arranjos dos advogados para a compra a refinaria no Texas. Cerveró disse que ela acompanhava tudo que ocorria na empresa e tinha até uma sala na sede no Rio.

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Em sua delação, Cerveró revelou ainda que, no governo FHC, a estatal assinou contrato com empresa ligada a Paulo Henrique Cardoso, filho do ex-presidente. Disse não sabe se houve interferência direta da Fernando Henrique.

Outro assunto que agitou Brasília ontem foi a reunião da Comissão Especial do impeachment do Senado para estabelecer o cronograma de tramitação do processo daqui para frente. Como sempre, muita discussão, muito bate boca e, no fim, a decisão mais importante ficou para o STF, mais exatamente para o ministro Ricardo Lewandowski, que vai presidir do julgamento.

Os governistas tentaram dar celeridade ao processo, reduzindo o prazo para apresentação das alegações finais da acusação e da defesa de 15 dias cada um para cinco dias. Com isso, o julgamento final no plenário da Câmara poderia ocorrer até o fim de julho. A oposição protestou e o presidente da Comissão, Raymundo Lira, transferiu a decisão para Lewandowski.

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A oposição bateu boca também com o relator Antonio Anastasia, principalmente quando ele recusou incluir no processo, pela defesa, as fitas gravadas pelo ex-Transpetro Sérgio Machado com o presidente do Senado, Renan Calheiros. O advogado de Dilma, José Eduardo Cardoso, vai ao STF também para derrubar o parecer de Anastasia. A judicialização do processo está num crescendo.

Dilma e seus seguidores têm total interesse em esticar ao máximo o debate e as discussões: querem ganhar tempo para tentar convencer senadores que votaram pela admissibilidade do processo a mudar de lado, como alguns (Romário, Cristovam Buarque) já admitem fazer. A aposta é que as confusões e atribulações iniciais do governo de Michel Temer acabem por desgastá-lo e mudar o entendimento de senadores.

Já o governo, por seu turno, quer correr com o processo por duas razões: evitar o que o PT e Dilma querem aproveitar e terminar logo com a interinidade, que, segundo alguns governistas, está inibindo ações mais decisivas de Temer e equipe e deixando os agentes econômicos ainda ressabiados e inseguros pela incerteza de que o que está aí agora veio mesmo para ficar ou poderá haver um retorno à era Dilma.

Parente: uma “quadrilha organizada”

prejudicou a Petrobras

O terceiro fato marcante do dia foi o discurso de posse no Rio do novo presidente da Petrobras, Pedro Parente. Ele reafirmou o que já havia dito em entrevistas: que não admitirá interferências políticas na estatal e defendeu, com grande ênfase, mudanças nas regras para exploração do pré-sal e do conteúdo nacional, consideradas prejudiciais à empresa e ao País. Pedro Parente quer o fim da presença obrigatória da Petrobras na exploração dessas áreas.

Parente também – como nenhum novo ministro e nem mesmo o presidente interino o fizeram até agora – subiu o tom ao se referir ao que aconteceu na principal companhia estatal governista – a dita “herança maldita”. O novo presidente da estatal disse que a Petrobras foi prejudicada pela ação de uma “quadrilha organizada para obter os mais escusos, desonestos, antiéticos e criminosos objetivos” e por políticas equivocadas de investimento. O discurso foi visto não somente como uma indicação para o mercado e os agentes econômicos sobre os rumos que pretende dar à companhia, como também como um recado para o público interno, tanto para o governo quanto para o corpo técnico-funcional da Petrobras.

Na economia, o presidente Temer tentou justificar a aprovação de aumentos salariais médios de 21,5% em quatro anos para diversas categorias de funcionários públicos alegando, entre outras coisas, que o reajuste pacificou a relação entre os servidores. Na realidade, pode ter ocorrido o contrário: outras categorias que não foram agraciadas no “pacote” de quarta-feira, tais como auditores da Receita Federal, policiais federais e diplomatas, passaram a negociar o mesmo tratamento.

E para complicar, como informa a manchete da “Folha de S. Paulo”, discretamente, sem alarde, a Câmara dos Deputados aprovou a criação de mais 14.419 cargos nos quadros do funcionalismo federal. A medida integra o pacote de ajuste de anteontem e representa mais do triplo dos 4.000 postos que Temer anunciou que pretende fechar neste ano. Tanto o ajuste salarial quando a criação dos novos “empregos públicos” ainda precisa passar pelo Senado. O aumento salarial, como esperado, foi duramente criticado e causou “desconforto” por contraditar o discurso de austeridade fiscal do presidente e do ministro da Fazenda.

Temer pode ter comprado outra dor de cabeça política, depois dos ruidosos casos do ministro do Planejamento e do ministro da Transparência, com a nomeação de mais uma auxiliar. Ainda na “Folha de São Paulo”, matéria diz que a nova secretária de Política para Mulheres, ex-deputada Fátima Pelaes (PMDB-AP), segundo a Procuradoria-Geral da República é suspeita de ter integrado uma “articulação criminosa” que desviou R$ 4 milhões para uma ONG fantasma.

Outros destaques dos

jornais do dia

– “Indústria tem alta pelo segundo mês seguido” (Estado/Folh/Globo)

– “Temer diz que, se necessário, vai aumentar impostos” (Estado)

– “União pode socorrer Rio, Minas e Rio Grande do Sul” (Globo)

– “Serra critica OMC e diz que país pode tomar novos rumos” (Estado/Globo)

– “Faixa 1 do Minha Casa Minha Vida está suspensa, diz ministro” (Estado)

– “Gilmar determina inquérito contra Aécio” (Estado/Globo/Folha)

– “Por unanimidade STF mantém ação penal contra Cunha” (Globo)

– “Ministro suspende a exoneração da ex-presidente da EBC” (Estado/Globo/Folha)

LEITURAS SUGERIDAS

1. Celso Ming – “Página seguinte” (diz que nem tudo depende do novo presidente da Petrobras – depende da revisão do pré-sal e da solução de pendências pelo governo) – Estado

2. Editorial – “O mau começo do ministro” (diz que Torquato Jardim, ex-TSE, fez uma declaração inadequada sobre acordos de leniência) – Estado

3. Editorial – “Às custas da sociedade” (diz que aprovou ajuste para servidores, medida que custará R$ 58 bi até 2019, e ainda foi aplaudida por Temer) – Folha

4. Vinícius Torres Freire – “Luz no fundo do poço do túnel” (diz que depois do PIB indústria dá sinais de vida e despiora apesar da recessão) – Folha

5. Claudia Safatle – “Teto reduzirá gasto em 4,1% do PIB até 2025” (diz que se o plano de Meirelles falhar o risco é tudo o mais dar errado e este governo não terá outra chance) – Valor

6. Editorial – “DE olho no impeachment, governo evita problemas” (diz que manobras roubam prestígio de credibilidade de um governo que se propõe a difícil tarefa de consertar a economia) – Valor