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Nos últimos dez anos, o dólar passou por um ciclo de fortalecimento em relação ao real marcado por crises globais, instabilidade fiscal doméstica e um cenário internacional pouco favorável para economias emergentes.
O resultado foi uma trajetória de desvalorização estrutural do real, com a moeda americana saindo de patamares ao redor de R$ 3,70 para operar acima de R$ 6,00 em alguns dos momentos mais críticos.
Os especialistas consultados pelo InfoMoney apontam os fatores que moldaram essa trajetória e detalham quais elementos deverão influenciar o comportamento do câmbio nos próximos anos.
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Fatores externos: juros altos nos EUA e aversão ao risco
Segundo Douglas Dias Rodrigues, o fortalecimento do dólar ao longo da última década esteve diretamente ligado à elevação dos juros nos Estados Unidos, que atraiu capitais globais para ativos em dólar e reduziu a atratividade de investimentos em países emergentes.
Esse movimento foi reforçado por episódios frequentes de incerteza global, que levaram investidores a buscar segurança. A pandemia de Covid-19 é o maior exemplo: a fuga de capitais no auge da crise levou o dólar a se aproximar de R$ 6,00.
Jose Áureo Viana ressalta ainda que o ciclo de alta dos juros americanos iniciado em 2022 drenou recursos de mercados emergentes, ampliando a pressão sobre o real. Momentos de aversão ao risco, como a desaceleração global e tensões geopolíticas, também contribuíram para um cenário mais duro para moedas como a brasileira.
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Para Jeff Patzlaff, o comportamento do câmbio nos últimos anos mostrou como o diferencial de juros EUA–Brasil é determinante. Quando os juros americanos sobem ou permanecem elevados, o capital tende a migrar para lá; quando o Brasil corta juros rapidamente, a pressão cambial aumenta.
Fatores internos: instabilidade fiscal, política e perda de confiança
No front doméstico, o real foi penalizado por uma combinação de incertezas fiscais, ruídos políticos e crises internas.
Douglas Dias lembra que episódios como a recessão de 2015–2016, debates constantes sobre metas fiscais e momentos de fragilidade na gestão das contas públicas elevaram o prêmio de risco do país, afastando investidores estrangeiros.
Jose Áureo destaca que a revisão de metas de gastos públicos e períodos de indefinição fiscal em 2024 e 2025 voltaram a pressionar o câmbio, culminando em novo pico próximo de R$ 6,30 no fim de 2024.
Patzlaff acrescenta que o risco fiscal é um dos elementos mais persistentes: ruídos sobre o orçamento, mudanças nas regras fiscais e dúvidas sobre a sustentabilidade das contas públicas contribuem diretamente para a volatilidade e para a desvalorização cambial.
Eventos marcantes da década:
- Recessão de 2015–2016, que ampliou a fuga de capitais.
- Pandemia, que fortaleceu o dólar globalmente e impactou o real de forma intensa.
- Ciclo de alta dos juros dos EUA a partir de 2022, drenando recursos de emergentes.
- Indefinição fiscal brasileira em 2024–2025, renovando pressões sobre o câmbio.
- Esses episódios consolidaram um cenário de enfraquecimento estrutural do real, que perdeu competitividade e estabilidade frente à moeda americana.
O que esperar para o dólar em 2026?
A projeção para o câmbio nos próximos anos é de continuidade da volatilidade, com forças internas e externas atuando simultaneamente.
Douglas Dias afirma que, no curto prazo, o câmbio deve permanecer relativamente estável, com dólar entre R$ 5,20 e R$ 5,60, salvo por uma surpresa externa ou interna significativa. Ele destaca que política monetária, solidez fiscal e o comportamento dos mercados globais serão os principais determinantes.
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Para Jose Áureo, a trajetória vai depender sobretudo da capacidade do governo de apresentar maior clareza fiscal. Sem isso, a pressão cambial tende a persistir.
Jeff Patzlaff explica que o principal vetor para 2026 será o diferencial de juros entre Brasil e EUA. Alguns cenários possíveis:
- Juros altos nos EUA + cortes acelerados no Brasil → dólar sobe.
- Desaceleração econômica nos EUA + cortes rápidos pelo Fed → dólar enfraquece globalmente.
- Brasil com contas organizadas + juros ainda atraentes → entrada de capital e real mais forte.
Ele reforça que tentar prever o “melhor dia” para comprar dólar é arriscado. Para quem planeja viagens ou compromissos financeiros, a estratégia mais eficiente é comprar aos poucos, fazendo preço médio e reduzindo exposição à volatilidade.
A última década mostrou como choques internacionais, incertezas domésticas e mudanças no cenário econômico global moldaram uma trajetória de forte valorização do dólar frente ao real.
Embora 2026 possa trazer alguma estabilidade, o câmbio continuará sensível à política fiscal brasileira, à dinâmica dos juros nos EUA e ao humor dos mercados globais.