Europa reage bem, mas recessão ainda é risco e Brasil sofre mais

17h00 – 13/09Coluna do TamerLONDRES – O atentado nos Estados Unidos estava sendo ontem absorvido aos poucos pelo mercado financeiro europeu. As bolsas que na terça-feira despencaram 7%, em média, recuperavam-se principalmente por causa das altas em Londres, de 2,79%; na Alemanha, de 1,52%; e na França, 1,34%. Outro sinal foi a recuperação do dólar […]

Publicidade

17h00 – 13/09
Coluna do Tamer
LONDRES – O atentado nos Estados Unidos estava sendo ontem absorvido aos poucos pelo mercado financeiro europeu. As bolsas que na terça-feira despencaram 7%, em média, recuperavam-se principalmente por causa das altas em Londres, de 2,79%; na Alemanha, de 1,52%; e na França, 1,34%.

Outro sinal foi a recuperação do dólar de 0,50% diante do euro; 0,75%, do yen e o recuo do ouro. Também o preço do petróleo, que na terça-feira chegou a US$ 30, voltou aos níveis anteriores de US$ 28. Isso se deve, em grande parte, à rápida reação dos bancos centrais americano, japonês e europeu que, naquele dia, injetaram US$ 120 bilhões no mercado, dando liquidez ao sistema e ao anúncio da Opep de que vai aumentar a produção de petróleo em caso de explosão dos preços. Ela mantém a meta de um máximo de US$ 28 e um mínimo de US$ 25.

Mas, no fim da tarde de ontem, toda a atenção voltava-se para a reabertura do mercado de Nova York e a reação do consumidor americano. Ninguém negava o aumento dos riscos de recessão global, apesar da reação positiva da Europa ontem, o que ocorreu num mercado muito pequeno, com Nova York fechado.

Bush tem de saber agir

“Sem dúvida alguma, tudo vai depender agora da forma pela qual o presidente Bush irá agir para restabelecer a confiança do consumidor americano que, no fundo, estava sustentando o tímido crescimento econômico”, afirma Wilbert Colmerauer, do BBVA Securities, aqui em Londres. “Neste primeiro momento, o consumo irá aumentar. A população comprou para fazer estoques, mas é uma fase passageira. A confiança desse consumidor está seriamente abalada.”

Risco de recessão é real

“Há medo, todos estão preocupados, com a reação do consumidor americano”, acrescenta Arnold Gast, do Theodoor Gilissen Bankiers, que tem um fundo de investimento de US$ 5.1 bilhão. Para outro, Robert Talbut, do Royal & Sun Alliance Investment, (US$ 53 bilhões), “não é hora de entrar em pânico. Há incertezas quanto ao impacto disso tudo na economia global, mas este não é o momento de transformar somas substanciais de aplicações em caixa”. As atenções continuavam concentradas no consumidor americano.
Ele vai continuar comprando ou se retrairá?

“Há o risco de desaceleração econômica global. O apetite do consumidor (americano e europeu), está sendo testado”, diz Louis Pastel, do Lazard Frères. Para Michel Perrin, do Cardif Asset Management (movimento de US$ 2,3 bilhões), o cenário é mais sombrio: “Acredito que o consumidor americano vai se retrair e levará uns dois meses para se recuperar. Isso pode ser a faísca da recessão”. Lembra que o nível de confiança do consumidor americano, medido pelo Conference Board, mesmo antes do atentado, havia caído 0,4% e era o menor desde janeiro de 1991.

Erraram o alvo

Continua depois da publicidade

Para outros, se os terroristas pretendiam atingir os Estados Unidos, erraram o alvo. Os principais atingidos por uma recessão americana serão os países do mundo – todos, na verdade – que dependem da estabilidade e da expansão desse mercado. “Se a economia americana se retrair ainda mais, levará o mundo todo para a recessão, mesmo porque, até agora, as previsões de crescimento econômico são cada vez mais negativas”.

Afinal, uma economia de quase US$ 10 trilhões, 80% dos quais gerados e consumidos internamente, tem maior capacidade de absorção de choque do que outra, já enfrentando dificuldades de menos de US$ 1 trilhão, que precisa arranjar pelo menos US$ 65 bilhões por ano no mercado externo.

Porque sofremos mais

“Nós, no Brasil, saímos prejudicados. A liquidez do mercado externo para os países emergentes se reduz, as captações ficam mais difíceis e os custos, principalmente de seguro, sobem. A isso se acrescenta a redução das exportações, primeiro para os Estados Unidos, e, em seguida, para os demais mercados, entre os quais o europeu, que sentirão ainda mais os efeitos de uma recessão americana”, afirma Colmerauer. Não éramos os alvos, mas fomos atingidos, nós, o Brasil e todos os demais países emergentes.

O cenário agora mudou, acrescenta. Estamos diante de um fato político, sem precedentes. Uma redução dos juros, por exemplo, se vier, não decorrerá de uma estratégia monetária bem montada, mas de um fato político, ainda em curso.

Para Colmeareur, é preciso aguardar os desdobramentos políticos e econômicos deste novo evento. E isso, conclui ele, vai depender muito da forma pela qual o governo americano enfrentar a crise.

Bancos centrais

Os bancos centrais e as autoridades monetárias dos EUA, do Japão e Grã Bretanha já estão coordenando uma série de medidas para trazer tranqüilidade e dar estímulo ao mercado. Dependendo dos próximos desdobramentos, eles estão dispostos a antecipar um corte dos juros. Somente o Banco Central Europeu resistia ontem.

O presidente do Banco Central Europeu, Win Duisenberg, opôs-se a uma redução dos juros, afirmando que se deve responder ao ataque terrorista “com calma”. Cortar os juros agora, acrescentou, é dar sinal de pânico. “Os níveis atuais de juros (na eurozona) são apropriados”, pontifica. Neste momento, acrescenta, acreditamos que os desdobramentos sobre a economia americana serão limitados. Só que foi mais ou menos isso – ou melhor, exatamente isso – o que ele disse quando se confirmou a forte desaceleração da economia americana e recusou-se a atender apelos do Fed, dos governos e empresários europeus, para reduzir os juros. E agora volta a afirmar que “o ECB continua monitorando…” Só que com a mesma bússola desequilibrada….

Tópicos relacionados