Eurocopa além do futebol: Polônia e Ucrânia injetam recursos e escapam de crise

Vencedor pode ser premiado com aumento na confiança dos consumidores, avalia equipe do Société Générale

Fernando Ladeira

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SÃO PAULO – A Eurocopa, torneio de futebol entre os países do Velho Continente que teve início na última sexta-feira (8), não se limita apenas a um campeonato. Ela vai muito além e, em meio a um cenário de crise que vem desde 2008, ganha importância ao incentivar a economia dos países-sede e pode premiar o país vencedor com algo mais importante do que um troféu: com confiança.

“Os melhores times no torneio podem influenciar a confiança dos consumidores na União Europeia. Tal correlação deve ser tratada como uma hipótese não provada”, escreve em relatório o analista do Société Générale, Jaroslaw Janecki. 

Especificamente sobre os países que sediam a Eurocopa, os efeitos econômicos para a Polônia e para a Ucrânia são mais óbvios. Inclusive, ajudou estes a lidarem com a crise europeia com mais investimentos, em um momento que é marcado pela austeridade. “É comum acreditar que a Polônia conseguiu manter um sólido crescimento econômico após 2008 graças, em parte, aos gastos de infraestrutura relacionados ao campeonato europeu de futebol”, afirma Janecki.

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O analista destaca que isso pode ser visto no salto da participação da formação bruta de capital fixa no PIB (Produto Interno Bruto). Para citar um exemplo, nos últimos três anos foram acrescentados cerca de 1.300 novos quartos de hotéis, sendo que os projetos de infraestrutura adicionam cerca de 1,5% ao PIB.

Eurocopa salva Ucrânia da crise
Entretanto, o caso da Ucrânia é o que chama mais atenção. Um dos países mais severamente atingidos pela crise de 2008 – a economia se retraiu 14,8% em 2009, sendo que a participação da formação bruta de capital fixo no PIB despencou de 26,4% para 18,4% -, os investimentos para a Eurocopa deram uma nova injeção de recursos na economia. “Em meio a esse ambiente, gastos com infraestrutura relacionadas à Eurocopa, totalizando 8,3% do PIB, tornaram-se a maior fonte de crescimento no investimento”, realça.

Como resultado, esses gastos passaram de uma parcela de 3,6% na formação bruta de capital fixo em 2008 para 16,3% em 2011. E a maior parte desse montante não foi destinada aos estádios. Cerca de 74% dos gastos foram alocados no transporte, com a modernização de estradas, ferrovias e aeroportos. O preço a se pagar, no entanto, foi observado no aumento do déficit orçamentário e na rápida aceleração da dívida pública.

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Nos dois países o PIB marca uma trajetória de alta nos últimos anos. Na Polônia, a economia avançou 1,6% em 2009, 3,9% em 2010 e 4,3% em 2011. Já na Ucrânia, após a queda de 14,8% do PIB em 2009, passou para um crescimento de 4,2% em 2010 e de 5,2% em 2011.

Invasão de turistas alivia economia
Esses são efeitos de mais longo prazo, mas há também os ganhos de curto prazo. E eles estão relacionados ao turismo. Números do governo da Polônia estimam que 820 mil turistas passarão pelo país, enquanto a Ucrânia espera algo em torno de 800 mil a 1,2 milhão.

Nesse aspecto, os dois países também possuem suas diferenças, ainda mais se levando em conta que os países conhecidos como PIIGS (Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha) entrarão no campeonato jogando na Polônia, enquanto as nações mais ricas estão na Ucrânia.

Neste país, o Société Générale estima que os turistas gastarão de R$ 400 milhões a R$ 500 milhões no país, o que seria muito positivo para reduzir o déficit no balanço de pagamentos e satisfazer a demanda por moeda estrangeira, o que deverá adiar a inevitável desvalorização da moeda local.

Por fim, tanto para a Polônia quanto para a Ucrânia, o analista também alerta para uma alta na pressão inflacionária, ainda que esse seja um fator apenas temporário e que em pesos diferentes para os países.