Estratégia: Vale a pena comprar nas grandes quedas da bolsa?

Conheça a modalidade de investimentos que vem funcionando nos últimos 15 anos de mercado brasileiro

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SÃO PAULO – Uma das premissas básicas para o investimento em ações é comprar na baixa e vender na alta, sempre com regularidade. Mas comprar somente nos grandes mergulhos do mercado, quando as ações estão muito mais baratas, não seria uma estratégia ainda mais assertiva?

A InfoMoney pediu ao gerente geral do INI (Instituto Nacional de Investidores), Paulo Portinho, que fizesse uma simulação: se um investidor tivesse efetuado aportes regulares nos últimos dez anos todas as vezes que a bolsa caísse 5% ou 2%, ele teria obtido resultados melhores do que aqueles que fizeram aportes regulares diários?

Investindo com baixa acima de 5%
Segundo o estudo, um investidor que de 30 de agosto de 2002 até 21 de outubro 2011 tivesse aportado R$ 1 mil em ações todas as vezes que a bolsa caísse 5%, em uma carteira formada pelo índice Bovespa, teria tido 24 oportunidades de fazê-lo. Ao final do período, a rentabilidade média –  calculada pela TIR (Taxa Interna de Retorno) – seria de 16,06%, e o montante alcançado seria de R$ 44,821 mil.

Não perca a oportunidade!

Se o investidor pudesse ter previsto que o valor total investido no período seria de R$ 24.000, e o dividisse em parcelas iguais entre outubro de 2002 e 2011, seria necessário aportar R$ 10,59 a cada sessão do período. A rentabilidade seria menor com esta estratégia, de 12,75%. O montante acumulado durante os 10 anos, por sua vez, seria de R$ 43.704,00.

Aporte Condição Total Investido* Rentabilidade Montante Acumulado
R$ 1.000 queda da bolsa superior a 5% R$ 24.000,00 16,06% R$ 44.821,00
R$ 10,59 aportes diários iguais R$ 24.000,00 12,75% R$ 43.704,00

*De 30 de agosto de 2002 até 21 de outubro de 2011

Investindo a partir de um recuo de 2% no índice
Se o percentual mínimo de queda da bolsa almejado para investir fosse de 2%, no mesmo período, os aportes também de R$ 1 mil, aconteceriam 245 vezes, marcando ao fim, uma rentabilidade média de 13,65% e um montante de R$ 465,008 mil.

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Já com a estratégia de aportes regulares, seriam necessários R$ 108,12 a cada dia. A rentabilidade média atingida seria de 12,75% e o montante acumulado de R$ 446,150 mil.

Aporte Condição Total Investido* Rentabilidade Montante Acumulado
R$ 1.000 queda da bolsa a partir de 2% R$ 245.000,00 13,65% R$ 465.008,00
R$ 108,12 aportes diários iguais R$ 245.000,00 12,75% R$ 446.150,00

*De 30 de agosto de 2002 até 21 de outubro de 2011

Assim, fazer aportes toda vez que o índice caiu 5% rendeu ao nosso investidor hipotético uma diferença de 2,55% entre os montantes finais ou de 3,2% a mais por ano. Por sua vez, comprar índice toda vez que fossem registradas perdas de 2% acrescenta uma diferença de 4,2% a mais no patrimônio total, ou 0,9% a mais ao ano.

É importante mencionar que a rentabilidade calculada nesses métodos é bruta, ou seja, ela desconsidera os custos operacionais que envolvem uma operação no mercado de ações, como corretagem, custódia e emolumentos. Se considerasse essas tributações, obviamente que o método de aporte diário iria perder ainda mais atratividade.

Por que funciona?
A estratégia de “aportes nas grandes quedas” é uma sofisticação da estratégia dos aportes regulares, com uma lógica semelhante e é possível ver que ela vem funcionando no mercado brasileiros no últimos 15 anos. “Funciona por dar mais ‘peso’ às compras baratas”, explica Portinho.

Neste sentido, vale lembrar que a estratégia dos aportes regulares funciona por dois motivos, segundo o especialista: primeiro porque acumula patrimônio em um chamado “efeito poupança” e, em segundo lugar, porque as compras nas quedas oferecem mais peso às compras com preço menor. “Não é uma média comum, é uma média ponderada, com mais peso nas ações baratas”, esclarece o gerente geral do INI.

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Assim, Portinho extrai uma importante conclusão: “De qualquer forma, o que este exercício mostra é que investir em ações regularmente rendeu mais para o investir em renda fixa, mesmo com os descontos posteriores ou estratégias diferentes”. Segundo ele, neste exemplo o investidor está apenas comprando índice Bovespa, caso tenha ainda uma estratégia de escolha dos papéis, estes resultados podem ser potencializados.

Gostou da estratégia? Veja como organizar-se para segui-la
Segundo o gerente geral do INI, o investidor deve ter em mente que para seguir a estratégia de “aportes nas grandes quedas” é importante dispor de uma grande quantidade de recursos.

“Você precisa ter lastro financeiro para fazer isso, porque se bolsa cair várias vezes ao mês, você terá que fazer aportes em todos estes momentos. É um investimento que depende da volatilidade”, diz Portinho.

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Para chegar a um montante razoável, que permita o uso da estratégia, o especialista sugere que o investidor poupe o máximo possível na renda fixa, permanecendo à espera do momento de baixa para comprar.

Porém, o especialista alerta que fazer aportes mensais é uma estratégia mais próxima com a realidade da maioria das pessoas. Efetuar as compras só quando a bolsa desaba requer algum montante já aplicado. “É necessário ter disciplina e capital guardado, caso contrário a estratégia não funcionará”, afirma Portinho.

Por fim, fica a dica do executivo do INI: “Investir em bolsa de valores, para a maioria das pessoas em todo o mundo, é uma estratégia de formação de patrimônio a longo prazo. Não importa se a estratégia será mais ou menos ativa, o que não pode faltar é o hábito da poupança”.