Estrangeiro está mais otimista do que local com ações do Brasil e tem setor preferido

Estudo aponta que 56% dos investidores estrangeiros têm visão otimista sobre o mercado brasileiro, com o setor de utilities em alta e grandes bancos perdendo força, mas estes últimos ainda são preferidos

Murilo Melo

Ativos mencionados na matéria

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Investidores estrangeiros estão mais otimistas em relação às ações brasileiras do que os locais, segundo a última pesquisa de sentimento do mercado divulgada pelo Itaú BBA nesta segunda-feira (10).

Entre os entrevistados, 40,4% afirmam ter uma visão positiva sobre a Bolsa brasileira nos próximos seis meses, uma leve alta em relação à pesquisa anterior. O percentual de respostas neutras caiu para 43,9%, enquanto os pessimistas representam agora 15,8%. Entre os investidores de fora do Brasil, a percepção positiva chega a 56%, enquanto os de São Paulo estão divididos entre otimismo e neutralidade. No Rio de Janeiro, mais da metade mantém uma visão neutra.

Conforme o estudo, a expectativa para os juros de longo prazo no Brasil sugere que a maioria dos investidores acredita que as taxas nominais de dez anos permanecerão entre 14% e 15% nos próximos meses. Os estrangeiros, porém, veem um possível alívio e apontam para a faixa de 12% a 13%.

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No campo fiscal, 63,2% esperam que o nível atual de gastos do governo seja mantido nos próximos 18 meses, enquanto 31,6% preveem aumento das despesas e piora no déficit primário. Quando perguntados sobre quando o mercado começará a precificar mudanças no ciclo macroeconômico, mais de metade dos investidores acredita que isso ocorrerá entre o terceiro e o quarto trimestre deste ano.

No que diz respeito à alocação setorial, a pesquisa aponta que o setor de utilities ampliou sua posição como o mais procurado, com quase 67% dos investidores reforçando a exposição. Já os grandes bancos perderam força, com queda de 10 pontos percentuais em relação à pesquisa anterior. Consumo, varejo e educação foram os setores mais evitados, seguidos por siderurgia e mineração. Houve uma leve melhora na percepção sobre commodities, com menor pressão negativa sobre petróleo e gás.

Entre os principais fatores que podem influenciar a Bolsa, o estudo do BBA mostra que as preocupações com a política fiscal seguem no topo da lista. Questões como inflação interna e tarifas comerciais dos Estados Unidos ganharam espaço na análise dos investidores. Sobre o fluxo de capital, um terço dos entrevistados acredita que o Brasil continuará recebendo investimentos dentro da estratégia global de aumento de exposição a emergentes. Outros 24% esperam que o país seja beneficiado pelo direcionamento de recursos para mercados emergentes de forma geral.

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Nos Estados Unidos, o sentimento é mais cauteloso. Entre os investidores, diz a pesquisa, 37,2% têm uma visão positiva sobre as ações americanas, enquanto 46,8% mantêm posição neutra e 16% estão pessimistas. No Rio de Janeiro, mais da metade dos entrevistados vê o mercado com bons olhos, mas 24% têm uma visão negativa, o maior percentual entre as regiões analisadas. A expectativa para a taxa básica de juros americana indica pouca margem para cortes: a maioria dos investidores aposta que o Federal Reserve manterá os fundos federais entre 4% e 4,5% até o fim deste ano.

A intenção de aumentar a exposição à Bolsa brasileira subiu quase sete pontos percentuais em relação à pesquisa anterior, alcançando 38% dos entrevistados. Apenas 4,4% pretendem reduzir investimentos. O volume de caixa nas carteiras também aumentou: 27% dos investidores agora mantêm entre 5% e 10% do patrimônio em liquidez, ante 19% na pesquisa de outubro.

Sobre as expectativas de lucro, 41% dos investidores avaliam as estimativas de consenso como agressivas, enquanto 44% as consideram realistas. Em São Paulo, a percepção de projeções otimistas é maior, enquanto no Rio de Janeiro predomina a visão de que as estimativas refletem a realidade. Para os resultados do quarto trimestre de 2024, 49% acreditam que não haverá mudanças nas previsões de lucro, enquanto 38% esperam um balanço positivo, mas sem grandes revisões.

Preferências

Os investidores mantêm utilities e grandes bancos como os setores mais atrativos para alocação na Bolsa brasileira, mas a preferência por instituições financeiras perdeu força em relação à última pesquisa, segundo o estudo do Itaú BBA. O setor de Utilities registrou um aumento na sua “sobreponderação”, alcançando 67% dos votos, enquanto os bancões tiveram uma queda de 10 pontos percentuais desde outubro.

A preferência setorial varia conforme o perfil e a localização dos investidores. Entre os estrangeiros, os grandes bancos seguem como o setor mais procurado, enquanto os investidores locais demonstram maior interesse em utilities. Em São Paulo, o setor de construtoras e incorporadoras teve uma presença mais forte. Já no Rio de Janeiro, mais da metade dos investidores mantém posição sobreponderada em grandes bancos.

Hedge funds, que utilizam estratégias mais dinâmicas e sofisticadas para buscar ganhos em diferentes cenários, concentraram sua alocação principalmente em grandes bancos, petróleo e gás e papel e celulose, setores considerados mais previsíveis ou com boas margens operacionais. Já os gestores long-only, que adotam uma abordagem mais tradicional com posições compradas no longo prazo, mostraram maior exposição a financeiras não bancárias e transporte, indicando que enxergam oportunidades nesses segmentos, possivelmente impulsionadas pela expansão do crédito e pela demanda por logística e mobilidade.

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Na outra ponta, consumo e varejo e educação foram os setores mais evitados, seguidos por siderurgia e mineração. A percepção sobre petróleo e gás e siderurgia e mineração melhorou em relação à pesquisa anterior, enquanto consumo e varejo, educação e saúde tiveram diminuição na exposição. Conforme a pesquisa, investidores estrangeiros reduziram posições em saúde e construtoras e incorporadoras, enquanto no Brasil, os do Rio de Janeiro demonstraram maior cautela com consumo e varejo, e alimentos e bebidas. Em São Paulo, educação e saúde foram os setores com menor exposição frente o índice de referência.

No ranking das ações mais escolhidas, o setor de Utilities dominou com Sabesp (SBSP3), Equatorial (EQTL3) e Eletrobras (ELET3) entre as favoritas, seguidas por Suzano (SUZB3) e Itaú (ITUB4). Comparado à pesquisa anterior, houve aumento expressivo na preferência por Suzano, Equatorial e Banco do Brasil (BBAS3), enquanto Itaú e Localiza (RENT3) perderam espaço. Embraer (EMBR3), Porto Seguro (PSSA3) e Banco do Brasil (BBAS3) entraram para o top 10, substituindo Bradesco (BBDC3/BBDC4), Petrobras (PETR3/PETR4) e PRIO (PRIO3).

A escolha das ações também variou conforme a localização e o perfil dos investidores. Em São Paulo, as mais mencionadas foram Sabesp, Suzano, Equatorial, Eletrobras e Itaú. No Rio de Janeiro, Equatorial, Eletrobras, Petrobras, Suzano e Itaú lideraram a preferência. Entre os estrangeiros, Mercado Livre (MELI34), Embraer (EMBR3), Nubank (ROXO34), WEG (WEGE3) e Sabesp receberam maior atenção. Investidores long-only priorizaram Suzano, Equatorial, Eletrobras, Itaú e Sabesp, enquanto os hedge funds concentraram suas escolhas em Sabesp, Equatorial, Itaú, Suzano e Eletrobras.

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A pesquisa ainda mostra que Eletrobras, Sabesp e Localiza foram apontadas como as empresas com maior potencial de retorno entre as large caps (empresas de grande capitalização de mercado, geralmente com valor superior a US$ 10 bilhões). Essas empresas são consideradas estáveis e consolidadas no mercado. Já o Bradesco registrou a maior queda na preferência, passando de 15% para apenas 3% dos votos em relação à pesquisa anterior.