Estatais perdem espaço nas carteiras por risco político enquanto bancos e petroleiras são consensos entre gestores

Petróleo deve manter seu preço no curto e médio prazo e bancos são portos seguros em meio a maior risco político

Vitor Azevedo

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Analistas da XP Investimentos realizaram nas últimas semanas uma série de encontros com grandes gestores brasileiros para tentar entender quais são as perspectivas para os ativos de risco no país. Em comum, os especialistas da corretora encontraram incertezas quanto ao futuro das estatais e otimismo em relação às petroleiras e aos bancos.

“Em geral, vimos sentimentos mistos em relação à Bolsa brasileira. Alguns estavam mais otimistas, vendo os níveis de valuations como baratos. Outros concordaram conosco que as taxas de juros não deveriam ter mais espaço para correção e que não é hora de adicionar mais risco. Também vimos alguns mais neutros, sem posições vendidas, mas também sem comprar”, escreveram Fernando Ferreira, Jennie Li e Rebecca Nossig.

De acordo com os três, Petrobras (PETR3;PETR4) e Banco do Brasil (BBAS3) foram os ativos mais mencionados nas conversas.

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“Gestores enxergam um movimento de preços muito binário no curto prazo para essas ações, dependendo do resultado da eleição. Não houve realmente um consenso sobre como se posicionar, principalmente no caso da Petrobras”, explicam.

O atual primeiro colocado nas pesquisas eleitorais para o Planalto, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, já atacou algumas vezes a atual política de preços da Petrobras, bem como a venda de refinarias pela petroleira em meio a implementação de seu novo core business, de extração de petróleo do pré-sal.

Quanto ao Banco do Brasil, Lula já defendeu que a instituição tem de ter responsabilidade social e focar menos em lucro.

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Petroleiras júniores em vantagem frente Petrobras

A Petrobras, por conta do risco político, acaba perdendo um pouco de espaço para as petroleiras júniores, como PetroRio (PRIO3), 3R Petroleum (RRRP3) e PetroReconcavo (RECV3).

“Foram citadas por muitos gestores com exposição ao setor sem risco político, mas há preocupação com riscos de execução”, explicam Ferreira, Li e Nossig.

As perspectivas dos gestores para o petróleo no curto e médio prazo é positiva – diferentemente das projetadas para mineração e siderúrgica, com a China ainda balançando, e das empresas de celulose, sem catalisadores suficientes de alta ou baixa.

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Bancos também foram destaques nas reuniões, sendo um setor que pode ter bom desempenho independentemente dos resultados eleitorais.

“Os nomes que mais (os gestores) gostam são Itaú (ITUB4) e Banco do Brasil (BBAS3), e, embora este último tenha riscos políticos, são considerados papéis baratos. Um ou dois gestores mencionam que gostam de Bradesco. Temas como financial deepening (aprofundamento de serviços financeiros) e fintech não são vistos como atrativos no momento”, dizem os analistas da XP.

No consumo, cenário ainda é difícil

Apesar de o Banco Central ter, na última semana, aparentemente encerrado o ciclo de alta de juros no Brasil, gestores continuam cautelosos com o setor de consumo, muito dependente da Selic.

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“As taxas de juros já estão altas o suficiente no Brasil e aumentos adicionais não devem impactar mais, porém, nestes patamares, ainda é um cenário desafiador para empresas de consumo em geral”, contextualizam.

Apesar de um possível fim das altas, o cenário atual não sinaliza que o Brasil passará, nos próximos meses, por um corte das taxas de juros.

Com isso, a preferência no setor de consumo fica para as varejistas de alta renda, como Arezzo (ARZZ3) e Soma (SOMA3), cujos clientes não dependem de acesso a crédito para consumirem.

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Os atacarejos, por conta do cenário macro ainda difícil, também chamam a atenção, por terem se tornado uma opção muito procurada. Assaí (ASAI3) também é um consenso.

“Ambev (ABEV3) também foi discutida, com muitos gestores mantendo uma visão positiva no curto prazo (recuperação de market share, Copa do Mundo, correção de preços de commodities, distribuição de benefícios sociais), mas concordam que a perspectiva de longo prazo é mais difícil”, finalizam.