Espere pelo inesperado: o que separa otimistas e céticos sobre a chance de a Raia Drogasil subir ainda mais na B3

Investor Day realizado nesta semana adicionou mais um ingrediente para aqueles com visões diferentes sobre o futuro da ação da farmacêutica

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Boa gestão, ótima execução, mas ação já precificada. Quantas vezes isso já foi falado sobre a Raia Drogasil (RADL3) nos últimos anos? Algumas vezes desde 2014 e, nesse período, a ação já subiu mais de 770%, ante alta de 85% do Ibovespa no mesmo período.

A história se repete após o último Investor Day da companhia, realizado no último dia 30 de setembro e que foi detalhado pelo vice-presidente da companhia, Eugênio de Zagottis, em live promovida pelo Stock Pickers na noite da última quarta-feira (30) – confira no vídeo acima. Justamente no dia do Investor Day, a ação disparou 6,79%, sendo seguido por ganhos de 2,86% no pregão de primeiro de outubro.

A estratégia definida pela companhia até 2025 que tanto animou o mercado é baseada em três pilares: i) conceito de nova farmácia, ii) criação de marketplace e iii) plataforma integrada de saúde. Assim, combina a continuidade da expansão de lojas – previsão é abrir mais 480 em 2021 e 2022 – e a ampliação do leque de serviços para o consumidor, fazendo com que os pontos de vendas virem verdadeiros  “hubs de saúde”.

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Sobre o primeiro pilar, o novo conceito de farmácia visa proporcionar conveniência e uma melhor experiência por meio de recursos multicanais (omnichannel), além de transformar o papel do farmacêutico em lojas físicas por meio de serviços como vacinas, testes e avaliações rápidas.

A empresa vai lançar uma versão piloto de seu marketplace de saúde em outubro, que deve expandir o sortimento de produtos atual de 13 mil SKUs (Stock Keeping Units na sigla em inglês, ou código único utilizado para cada item da loja) em pelo menos duas vezes em 2021. À medida que o marketplace crescer, as lojas serão usadas como pontos de coleta e distribuição de mercadorias. Atualmente, a companhia tem 2,2 mil pontos de venda e atua em 23 Estados.

Com relação ao terceiro pilar, a plataforma integrada de saúde é a etapa final de integração da jornada de saúde do cliente, fornecendo acesso a profissionais de saúde e ajudando os clientes a monitorar sua saúde por meio do amplo ecossistema da RD (Hub de Saúde, Aplicativo e Marketplace). Os clientes poderão marcar uma consulta e fazê-la virtualmente ou fisicamente através da plataforma, bem como ir às lojas RD para serviços específicos e comprar produtos em suas lojas digitais ou físicas.

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Como parte da sua estratégia, a RD também desenvolve parcerias no mercado, como o Stix, programa programa de fidelidade desenvolvido em parceria com o Grupo Pão de Açúcar. Além disso, a RD desenvolveu uma estrutura denominada RD Ventures para investir em startups que pode acelerar seu processo de inovação, especialmente para desenvolvimento em sua plataforma de saúde.

Tal estratégia foi bastante elogiada pelos analistas de mercado em relatórios após o Investor Day, destacando a execução premium da companhia e o bom posicionamento como consolidadora do mercado de varejo farmacêutico.

Porém, o valuation da companhia segue sendo uma questão que impede que a maior parte dos analistas fique otimista com o papel. De acordo com a compilação feita pela Refinitiv com 15 casas de análise, 6 recomendam compra, enquanto 8 recomendam manutenção e 1 recomenda venda.

“A resiliência da RD guia o desempenho bastante superior em relação ao Ibovespa no acumulado do ano (alta de cerca de 8% para RADL3, ante queda de 18% do benchmark da Bolsa), o que também vem ocorrendo desde o o auge dos temores com a Covid-19. Isso gerou uma forte reclassificação dos múltiplos de preço sobre o lucro (P/L), com a ação sendo negociada significativamente acima dos pares internacionais e da média histórica. Mesmo assim, vemos o risco de queda nos números de consenso e acreditamos que o mercado pode estar com premissas muito otimistas”, avalia o Morgan Stanley.

O banco americano possui recomendação equalweight (exposição em linha com a média do mercado) e preço-alvo de R$ 23,60 por ativo RADL3, o que configura uma expectativa de queda de 2% em relação ao fechamento da última quinta-feira. Na mesma linha, o Bradesco BBI também apontou o valuation esticado, com um P/L de 49 vezes o preço sobre o lucro, também com recomendação neutra e preço-alvo de R$ 23,40 (ou uma queda de 2,86%).

Na contramão da desconfiança de boa parte do mercado com as ações, Fabio Alperowitch, gestor da FAMA Investimentos, segue com posição em ações da RD, mantendo-a desde 2008, conforme destacou na live do Stock Pickers.

Contudo, vale destacar, ele nem sempre teve “simpatia” pela empresa: o gestor afirmou que tinha preconceito não só com a Raia Drogasil, mas com o setor farmacêutico em geral, uma vez que historicamente possui uma margem muito baixa, o que dá pouco espaço para erros. “Mas enxergamos nela um potencial de crescimento e perpetuidade e temos investindo continuamente em suas ações desde então.”

O gestor ressalta que já viu várias pessoas discordarem dele sobre investimentos em diferentes empresas, mas a RD sempre foi uma unanimidade em relação ao modelo de negócios, à execução e às pessoas – o que não ocorria em relação ao valuation.

“Sempre falam: adoro a empresa, mas é cara. Só que a Raia Drogasil sempre acaba provando que não é cara porque entrega algo que a gente não estava percebendo. Percebi isso muito cedo, óbvio que teve anos melhores, anos piores mas, dando o benefício da dúvida para a empresa, ela sempre retorna com criação de valor”, avalia Alperowitch.

Esse movimento se repetiu com o anúncio da companhia no Investor Day, ressalta o gestor: “tudo o que o Eugênio falou não estava na minha planilha do ano passado, por exemplo. Ao longo do tempo, ela consegue criar valor, muito além do que a gente consegue projetar”.

Para Alperowitch, o valor das ações é levado em consideração para que um ativo faça parte do portfólio, mas esse não é o objetivo: “estou procurando empresas que vão me trazer boas surpresas, uma agenda de criação de valor e opcionalidades, que vão me trazer um valor que eu não esperava enxergar”. A RD, aponta o gestor, é um desses casos, que fez com que ele aprendesse a a conviver com os múltiplos aparentemente altos, mas que vão encolhendo ao longo do tempo com a execução premium da farmacêutica.

Riscos e oportunidades 

O gestor monitora, claro, alguns riscos para a companhia – dentre eles, qual pode ser o impacto caso haja uma mudança mais forte do consumidor para o online.

Sobre isso, Zagottis ressaltou que a transformação digital que a RD está promovendo já vai em linha com essas mudanças. Mas, além disso, ele vê o setor de farmácias como bastante diferente de outros varejistas, que torna o digital um complemento da loja e não ao contrário.

“Nós vimos uma série de sites puros de e-commerce [no setor de farmácias] sendo criados e deixando de existir”, aponta, destacando que a RD já tem relacionamento com clientes, o que se torna um diferencial em relação a entrantes na cadeia que, para acessar o consumidor, terá um custo muito maior.

“A nossa loja é um motor para aquisição de clientes”, avalia o vice-presidente da RD. Mas o fator mais importante é a entrega já que, no setor farmacêutico, o cliente quer os produtos de forma imediata – e isso só ocorre com a forte capilaridade da companhia, que tem lojas espalhadas que ajudam na distribuição.

Já sobre mudanças tributárias, também um dos riscos apontados por Alperowitch, Zagottis avalia não ver com tanta preocupação eventuais aumento de tributos ou alterações na mecânica de pagamento: “o meu medo é se amanhã muda o sistema tributário de uma forma que ele fique mais vulnerável e que a sonegação, que no passado era muito perigosa, volte”.

Tendo os riscos no radar, Alperowitch reforça a visão de que a RD é mais do que uma farmácia e sim uma marca que se relaciona com 40 milhões de consumidores e com compra recorrentes, o que dá uma grande capacidade para que a companhia ofereça produtos e serviços para o consumidor. “A Raia se relaciona com grande parte da população brasileira de forma positiva e que pode agregar muitos produtos e serviços. Isso me leva a pensar que as marcas próprias podem se tornar algo grande lá na frente”, avalia.

Assim, entre os que separam desconfiados que a ação pode subir ainda mais a otimistas com o papel, está a expectativa do último grupo de que a RD seguirá surpreendendo o mercado. Ainda que, naturalmente, não se saiba exatamente qual será o novo fator que pode impulsionar os ativos, a gestão da companhia e a sua execução bastante elogiada dão segurança para que muitos investidores para que eles sigam otimistas com a farmacêutica, ainda que, a princípio, “a um preço alto”.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.