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Os mercados mundo afora vivem nesta segunda-feira (5) algo que dificilmente é visto. Quedas fortes são registradas em todas principais Bolsas do mundo após o Japão abrir o dia (ainda na noite de ontem no Brasil, por conta do fuso horário) em forte queda e “contaminar” o mundo. Parte dos especialistas, porém, acham a movimentação de hoje exagerada — mas não deixando de pregar a cautela.
A venda geral vista hoje, o sell off, se dá principalmente por dois motivos: em primeiro lugar vem a alta dos juros no Japão, que ameaça enxugar a liquidez mundial (já que investidores usavam o país para tomar empréstimos a taxas básicas e alocar em outros ativos); em segundo, está o temor da possibilidade de uma recessão nos Estados Unidos, após dados mais fracos.
Quanto ao primeiro ponto, Paula Zogbi, gerente de conteúdo de research da Nomad, explica que o encarecimento do iene, decorrente de juros maiores no Japão, se trata de algo normal. “Vêm motivando um movimento forte de desmonte de operações de carry trade, que é uma estratégia de investimento onde um investidor toma emprestado dinheiro em uma moeda com uma taxa de juros baixa (como o iene japonês) e o investe em ativos em uma moeda não tão depreciada em uma economia com uma taxa de juros mais alta”, diz.
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Recessão e valuations
Já no segundo ponto, que abrange a economia dos EUA, é onde as opiniões mais se desencontram. Após a publicação do payroll (relatório de emprego) na última sexta, ganhou força o temor de um chamado hard landing, de uma recessão, na maior economia do mundo. Mas há quem ache essa visão exagerada.
“De forma geral, quando a gente avalia a economia dos Estados Unidos e essa reação do mercado, vemos essa reação como exagerada, de certa forma”, fala Francisco Nobre, economista da XP.
“Apesar de o dado referente ao mercado de trabalho nos Estados Unidos ter vindo mais fraco do que era esperado, mostrando um arrefecimento, ele não sugere uma contração ou uma deterioração. Não passa a imagem de uma recessão e, por isso, achamos que teremos uma reversão parcial do movimento”, completa o economista.
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O que acontece, no entanto, é que a combinação entre menor liquidez no mundo, com o Japão, e a visão de que a maior economia do mundo está enfraquecida derrubou as ações. As que mais sofreram foram as com os valuations (medidos principalmente pela relação entre projeção de lucro das companhias e os preços das ações) mais esticados, como as empresas de tecnologia.
Neste ponto, Jennie Li, estrategista de ações da XP, lembra ainda que nas últimas duas semanas, as companhias de tecnologia divulgaram resultados abaixo do esperado, apesar de ainda terem sido considerados positivos. “A gente entrou nessa temporada de resultados com expectativas muito altas, com o mercado muito otimista. Então, todo esse otimismo não está sendo completamente atendido e, agora, ele está se preocupando um pouco mais”, fala.
Efeito manada?
A combinação entre recuo da liquidez e menor otimismo (para não falar em temor), geraram as quedas e, posteriormente, podem ter acionado “stops” em série.
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“Muitos agentes de mercado têm mecanismos automáticos de venda quando os ativos chegam a um determinado preço. E quando eles são acionados, obviamente, eles pressionam ainda mais o preço, criando então um efeito cascata. Isso pode estar estimulando que o movimento de mercado seja mais forte nesse curto prazo do que sustentado aí por fundamento”, explica Zogbi.
Fora isso, investidores, nesses momentos, são influenciados por sentimentos e, não raro, seguem um “evento manada”, andando na mesma direção.
A Kinea, por exemplo, também falou em um movimento exagerado. Em entrevista ao InfoMoney, Ruy Alves disse que o “movimento parece descolado de fundamentos” e que estava “aproveitando as oportunidades”. O CEO do Bradesco, em teleconferência de resultados, foi na mesma linha.
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No entanto, a mensagem mais vista hoje foi a de cautela. Em rede social, gestores como Alfredo Menezes, da Armor, e Sergio Machado, da MAG, falaram que, nessas horas, “não fazer nada pode ser muito”.