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O cheiro do café, o barulho dos cliques e o ritmo frenético do gráfico. O que era para ser apenas mais um dia de operação se tornou o limite físico e emocional de Thamara Di Lauro.
Depois de horas ininterruptas diante das telas, o corpo começou a reagir. “Eu entrei na frente da tela às 9h30 da manhã e saí às 17h40 da tarde, passando mal, vomitando. Eu tinha feito ali mais de 76 operações”, relembra.
Convidada do 1° episódio da 4° temporada do programa Mapa Mental, no canal GainCast, Thamara contou que aquele dia marcou o colapso que a faria repensar tudo. O ponto de ruptura entre o vício de clicar e a consciência sobre si mesma.
“Naquele dia eu perdi R$ 15 mil. Não foi a maior perda que eu tive, mas não era mais o dinheiro. Ali já era o meu desgaste fisiológico, psicológico. Eu saí vomitando. Eu falei: ‘Isso aqui não é normal. Isso aqui é alteração do meu corpo. Eu estou reagindo, meu corpo tá reagindo à situação, somatizando.”
A prisão disfarçada de liberdade
O desejo que a levou ao mercado era o mesmo que agora a adoecia: liberdade. “Ali eu falei: ‘Eu tô ficando doente. Porque não é normal estar na frente de uma tela de manhã até o fim do dia. E que liberdade é essa?’”, questiona.
A ironia era inevitável: o mesmo desejo de liberdade que a havia levado a abandonar a odontologia se transformava em uma nova forma de prisão. “Eu comecei a me perguntar o que eu tô querendo, porque eu tô querendo sair de uma área pra ter liberdade e isso aqui tá virando uma prisão pra mim”, reflete.
O descontrole físico foi o gatilho que a fez buscar respostas. A partir desse colapso, Thamara começou a buscar explicações que o gráfico não mostrava. Passou a estudar programação neurolinguística, neurociência e gestão emocional para entender o que realmente a levava a operar em estado de fúria.
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“Eu sabia operar, eu tinha alinhado a parte técnica, mas eu não sabia me comportar na frente da tela. E ali eu entendi que eu tinha que estudar a parte mental, porque eu queria entender de onde vinha isso. Não tem condições.”
O corpo em modo de luta e fuga
Nos estudos, ela identificou o que batizou de “zona vermelha” — o ponto em que o corpo assume o controle e o trader entra em modo de sobrevivência.
“A zona vermelha é tudo aquilo que depois que acontece você ativa o sistema límbico, desliga o córtex pré-frontal e começa a tomar ações emocionais”, explica.
A fisiologia do estresse, segundo Thamara, é o verdadeiro vilão por trás do comportamento impulsivo.
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“Quando a gente entra em luta e fuga, o corpo entende que está em perigo. Ele libera cortisol, adrenalina, o coração acelera, a pupila dilata, vem a visão de túnel. Eu já senti tudo isso nos meus dias de fúria”, descreve.
“O segredo não é controlar isso, porque depois que já se instalou, já era. O segredo é eliminar os gatilhos que geram a fúria”, explica.
O corpo como espelho da mente
Depois de observar suas próprias reações, Thamara passou a enxergar o corpo como um radar que revela o estado mental do trader.
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“Se está instalado o estado de fúria num ser humano, é porque ele está com todo o sistema límbico ativado e não vai ter controle ali agora”, afirma. “Mas você consegue cortar aqueles gatilhos que fazem você se sabotar”, acrescenta.
Para ela, o colapso que parecia o fim se tornou o início de uma nova fase; um dia de fúria virou um divisor de águas — entre o descontrole e a autoconsciência, entre reagir e compreender, entre sobreviver e evoluir.
“Se eu desistir do mercado, eu tô desistindo de mim, porque já não é o mercado, sou eu. A pessoa que está perdendo o comando sou eu.”
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