Enquanto todos se voltam para a Grécia, outro lugar está preocupando os EUA

Ontem, no mesmo dia em que o mercado repercutia o anúncio do referendo pela Grécia, aumentando os temores de que o país poderia sair do euro, o governador de Porto Rico, Alejandro Garcia Padilla, alertou que a ilha não pode pagar sua dívida pública, o que já afeta algumas empresas americanas

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Enquanto todos os olhos se voltam para a Grécia e se ela irá ou não sair da zona do euro, há um lugar que vem recebendo pouca atenção do mercado, mas que está ficando conhecido como a “Grécia dos EUA”.

Ontem, no mesmo dia em que o mercado repercutia o anúncio do referendo pela Grécia, aumentando os temores de que o país poderia sair do euro, o governador de Porto Rico, Alejandro Garcia Padilla, alertou que a ilha não pode pagar sua dívida pública, de US$ 72 bilhões, em entrevista ao jornal The New York Times.

Esse é mais um golpe para a economia local, que está em recessão, e para o sistema financeiro global, já pressionado pela crise de dívida da Grécia. Padilla espera poder adiar os pagamentos enquanto negocia com credores, informou seu porta-voz, Jesus Manuel Ortiz.

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“Não há outra opção. Eu adoraria ter uma opção mais fácil. Isso não é política, é matemática”, afirmou ao jornal, reconhecendo que a dívida é “impagável”. Os parlamentares porto-riquenhos estão debatendo um orçamento de US$ 9,8 bilhões que pede US$ 674 milhões em cortes e separa US$ 1,5 bilhão para pagamento de dívidas.

Conforme destaca o jornal Econômico, de Portugal, Porto Rico ameaça ser a “Grécia dos Estados Unidos”, já que é um território dos Estados Unidos no Caribe e como tal não pode declarar bancarrota.

Mas se Porto Rico entrar em “default” os investidores têm a proteção oferecida pelo capítulo 9 do Código de Falências dos EUA, que estabelece um processo ordenado pelo qual os investidores podem recuperar pelo menos parte de seu dinheiro. Contudo, afirma o jornal, o problema do de Porto Rico não pagar as suas dívidas é que há muitos norte-americanos com obrigações em carteira de fundos de pensões. Cerca de 77% dos fundos norte-americanos detendo títulos municipais têm no seu portfólio dívida porto-riquenha, já que o território está isento de impostos. E a dívida porto-riquenha é a terceira nos Estados Unidos, depois dos estados da Califórnia e Nova Iorque.

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Com isso, a declaração do governador de Porto Rico mexeu com algumas empresas no mercado americano: caso das seguradoras Assegured Guarantee e MBIA Inc, com os papéis caindo forte na sessão de hoje. A notícia levou a corretora BTIG rebaixar as duas empresas para “manutenção”, levando as ações de ambas as companhias para baixas de 13% (Assegured Guarantee) e 23% (MBIA). 

As companhias têm mais de US$ 10,5 bilhões em exposição bruta à dívida de Porto Rico, com as compras sendo baseadas nas promessas anteriores do governador de que Porto Rico faria o que fosse preciso para honrar suas obrigações de dívida. E de acordo com alguns participantes do mercado, a situação das seguradoras é apenas o início de uma crise da dívida mais ampla.

Enquanto isso, a agência de classificação de risco Standard & Poors reduziu o rating de crédito em Porto Rico de CCC+ para CCC- com perspectiva negativa. “É uma ameaça substancial”, disse o especialista em títulos Larry McDonald para a CNBC. “O problema que estamos vendo em todo o mundo é que as autoridades políticas que estão pedindo o dinheiro nos mercados de capitais não foram completamente claras sobre as suas finanças.”

(Com Agência Estado)

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.