Eneva é a quarta empresa de Eike a pedir recuperação judicial em pouco mais de um ano

A empresa, que Eike fundou em 2001 como MPX Energia, apresentou o pedido de recuperação judicial, com caráter de urgência, em um tribunal no Estado do Rio de Janeiro.

Bloomberg

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São Paulo – A empresa de energia Eneva, controlada pela alemã E.ON e por Eike Batista, entrou com pedido de recuperação judicial nesta terça-feira, se tornando a quarta empresa fundada pelo empresário bilionário a recorrer a alternativa em pouco mais de um ano.

A Eneva, que Eike fundou em 2001 como MPX Energia, apresentou o pedido de recuperação judicial, com caráter de urgência, em um tribunal no Estado do Rio de Janeiro, onde a empresa está sediada. A petição ocorre após a não renovação de um acordo entre a companhia e os seus credores para suspender o pagamento da dívida.
“Uma vez que o pedido de recuperação judicial for concedido, a exigibilidade do pagamento de todas as dívidas não prioritárias será suspensa para a empresa e sua subsidiária Eneva Participações”, informou a companhia, por meio de um comunicado. “Outras subsidiárias da empresa não fazem parte do pedido de recuperação judicial e as usinas continuam em operação normal”, completou.

O “desaparecimento” da Eneva vem menos de três anos depois que a E.ON, maior concessionária da Alemanha, comprou uma participação inicial de 10% na empresa de Eike por R$ 850 milhões (US$ 327 milhões) e estabeleceu planos para uma grande parceria com o empresário brasileiro.
Os atrasos no projeto, o aumento das despesas, a dívida crescente e a crise financeira que fez Eike perder sua condição de bilionário levaram a E.ON a injetar capital no empreendimento por duas vezes nos últimos dois anos, aumentando sua fatia para 43%.

A Eneva nomeou Alexandre Americano e Ricardo Levy como CEO e vice-presidente, respectivamente, depois que Fábio Bicudo e Frank Possmeier pediram demissão, disse a empresa no comunicado. Três outros membros do conselho também se demitiram. A empresa suspenderá o pagamento da dívida de R$ 2,33 bilhões quando o pedido for aprovado por um juiz, disse.

As posses da E.ON nas unidades da Eneva afetadas pelos pedidos de recuperação judicial estão avaliadas em menos de 100 milhões de euros, ao passo que as partes não envolvidas estão avaliadas entre 100 milhões de euros e 200 milhões de euros nos livros da companhia, disse o porta-voz Josef Nelles, em entrevista por telefone, de Dusseldorf. A iniciativa da Eneva “não afeta” a empresa derivada que a E.ON está planejando, que será proprietária das posses no Brasil, disse ele. Representantes da Eneva no Rio declinaram comentar. Assessores de imprensa da E.ON em Frankfurt não responderam a um pedido de comentários enviado por e-mail.

A gestão da Eneva vem tentando reforçar as finanças desde fevereiro, quando nomeou Bicudo, que era um dos diretores de investment banking brasileiro da Goldman Sachs Group Inc. A empresa tinha R$ 5,05 bilhões em dívida até o dia 30 de setembro, com R$ 3,15 bilhões com vencimento no curto prazo, incluindo empréstimos do BNDES, do Grupo BTG Pactual, do Itaú Unibanco Holding SA e do Citigroup Inc., disse a empresa no dia 14 de novembro.

As ações da Eneva caíram 81% desde o começo do ano e tiveram o pior desempenho no índice BI Latin American Power Generation, que tem 28 membros. O pedido de recuperação judicial da Eneva vem após uma petição semelhante realizada pela principal unidade de mineração de Eike Batista em outubro e por seus empreendimentos de petróleo e construção naval no ano passado. A aposta fracassada em diversos campos de petróleo novos no Brasil, juntamente com os atrasos de projetos e a escassez de receita provocaram o desabamento do império de commodities e startups de logística do empreendedor de 58 anos.

A Eneva surgiu em 2001, na última vez em que o Brasil racionou energia em meio a uma seca que esvaziou os reservatórios. Na época, Eike Batista armou um empreendimento conhecido como MPX para construir uma usina termelétrica no Ceará, no nordeste do país, conforme escreveu em seu livro “O X da questão”, de 2011. Como a escassez diminuiu, Eike Batista vendeu a usina para a Petrobras e embolsou um lucro de US$ 50 milhões, lembrou ele no livro.