Empresas globais de cripto só aguardam regulação para entrar no Brasil

Do varejo aos bancos, empresas estrangeiras esperam explosão de demanda no país após trégua do Bitcoin

Paulo Barros

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O mercado de criptomoedas vive um período de fortes perdas que ainda não tem previsão de acabar, segundo alguns analistas. No entanto, representantes de empresas cripto estrangeiras presentes na Consensus 2022, maior evento mundial do setor realizado na última semana em Austin, nos Estados Unidos, garantem que o momento é ideal para preparar o terreno no Brasil e esperar o próximo boom de preços.

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Uma das razões seria o forte potencial visto por essas companhias no país, que é o mais populoso da América Latina, mas fica atrás em métricas de adoção de criptoativos na comparação com a vizinha Argentina, por exemplo.

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“A expansão em um bear market é sempre mais difícil, no bull market nós vemos bem mais interesse [dos usuários por criptomoedas]. Mas é uma boa hora para focarmos na qualidade, na tecnologia e na segurança do produto, para, quando a próxima onda chegar, estarmos bem preparados, com atendimento ao cliente na linguagem do brasileiro”, explica Michelle Mafra, responsável pelo marketing da exchange global Bybit na América Latina, que recentemente anunciou um investimento de US$ 50 milhões para crescer na região.

Para se manter relevante, a Bybit aposta em uma plataforma “high tech” com foco no trader profissional, cliente que tende a seguir ativo mesmo em momentos de baixa do mercado – ao menos mais do que usuário comum de varejo.

No entanto, segundo apurado pelo InfoMoney CoinDesk, a empresa acompanha com cautela a possível aprovação do marco regulatório das criptomoedas no Brasil, visto que seu principal chamariz é a oferta de produtos derivativos de criptomoedas, prática proibida pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) sem a obtenção de uma licença especial. A tendência é que a Bybit trilhe um caminho diferente do adotado pela Binance, disponibilizando, já na largada, uma plataforma em português brasileiro sem a oferta de futuros e outros derivativos. A expectativa é que o lançamento ocorra ainda este ano.

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Quem também aguarda pela aprovação da regulação de criptos para intensificar sua presença no Brasil é a Bit2Me, a maior exchange da Espanha. Já com um time de brasileiros trabalhando no país, a empresa aposta em estreita conformidade regulatória, espelhando sua atuação no país europeu, onde é a única do setor a ter licença para operar como exchange e custodiante de criptomoedas.

“Os principais desafios agora são navegar no setor político brasileiro. Também conhecer a concorrência, aprender como o país opera”, explica John Izaguirre, responsável pela plataforma de lançamento de projetos dentro da Bit2Me.

Ele admite que a empresa reconhece o ambiente cada vez mais concorrido no Brasil, e por isso propõe um clima de cooperação com “todos os atores que já estão no ecossistema”. Como pontos fortes, a Bit2Me traz um pacote completo que inclui de produtos de rendimento a plataformas de lançamento de projetos, em linha com o ofertado por exchanges globais.

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No entanto, garante Izaguirre, a empresa buscará obter licença para atuar de forma regulada Brasil. “Não queremos ser descentralizados ou não regulados”.

A esperada aprovação do projeto de regulação do mercado cripto brasileiro também deve impactar negócios de exchanges estrangeiras que já atuam no país. Uma delas é a Bitso, que passou a ofertar um produto de rendimento que paga até 15% ao ano em stablecoins, mas que tem aval formal apenas do regulador de Gibraltar.

“A gente se sente muito confortável em oferecer esse produto [levando em conta] o arcabouço regulatório atual do Brasil. Quando surgir a regulação de cripto, no nosso caso vai ser muito fácil adaptar”, explicou Thales Araújo de Freitas, principal executivo da Bitso para o Brasil, em entrevista ao InfoMoney CoinDesk.

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Primeira empresa do setor a alcançar o status de unicórnio na região (a segunda foi a 2TM, controladora do Mercado Bitcoin), a exchange atingiu recentemente a marca de 5 milhões de contas abertas na América Latina (os números do Brasil não foram divulgados).

Anunciado no cargo de country manager em abril, Freitas chegou com uma meta ambiciosa de levar a Bitso ao posto de maior exchange do país em 2022. Em meio ao declínio do mercado como um todo, ele diz que o importante é a qualidade do produto e criar utilidade para criptos no país, e reafirma que o Brasil segue sendo o foco de crescimento da empresa.

“O Brasil é uma super prioridade para a gente”, acrescentou. A Bitso, vale lembrar, tem cerca de 170 funcionários no país e o CEO e cofundador, Daniel Vogel, vive em São Paulo.

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Bancos correm atrás do prejuízo

A expectativa pela aprovação do marco regulatório de criptos também encoraja bancos e outras instituições financeiras a buscarem um espaço no setor, dois anos depois do grande boom institucional que começou nos Estados Unidos e foi considerado um dos responsáveis pela disparada de preço do Bitcoin no ano passado.

O movimento também é impulsionado pelo crescimento acelerado do ritmo de transferências de dinheiro de contas bancárias para exchanges de cripto – segundo fontes ouvidas pelo InfoMoney CoinDesk, esse foi um dos motivos que levaram o Itaú a começar a oferecer, em abril, seu primeiro fundo de criptoativos, o Hashdex Crypto Selection FIC FIM.

De olho na oportunidade, empresas estrangeiras aproveitam para oferecer a infraestrutura necessária para implementar serviços de cripto no ambiente bancário tradicional. Segundo a ConsenSys, empresa que desenvolve a MetaMask, principal carteira de criptomoedas do mundo, o Brasil já é seu principal mercado de varejo das Américas, o que também acaba tendo impacto do lado institucional.

“Fundos e fintechs começaram a ver a necessidade de criar produtos de rendimento em cripto (como o oferecido pela Bitso) e produtos estruturados para clientes, obtendo retornos por meio de trades em DeFi usando a MetaMask Institutional”, explica Daniel Lynch, diretor de vendas da ConsenSys. A MetaMask Insititutional é uma versão da carteira integrada com mecanismos de compliance, voltada para empresas.

A Parfin, empresa de infraestrutura em blockchain fundada por brasileiros nos EUA, também surfa a onda institucional e volta seus esforços à nova clientela brasileira. “O Banco Central se pronunciar sobre o assunto ajuda, além da nova lei que deve passar no Congresso. As instituições se sentem mais confortáveis”, conta o CEO e cofundador Marcos Viriato.

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Paulo Barros

Editor de Investimentos