Empresas com PL negativo podem enganar os que procuram ações baratas

GM é companhia dos EUA com menor PL; entretanto, ações sobem mediante perspectiva de ajuda do governo e baixos preços

Giulia Santos Camillo

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SÃO PAULO – Os impactos da crise nas bolsas internacionais deixaram uma impressão comum em diversos mercados. Considerando que a economia irá se recuperar eventualmente, a sensação é que as fortes quedas nas cotações deixaram os papéis relativamente baratos, num bom ponto para começar a comprar.

A afirmação, entretanto, pede uma distinção. As ações estão baratas em relação ao patamar anterior à crise ou à sua média histórica. Porém, é necessário lembrar que as turbulências também tiveram reflexos nos fundamentos das empresas, devido às modificações nos cenários macro e microeconômico, consequentemente alterando o valuation dos papéis.

Uma das referências utilizadas para precificar ações é o patrimônio líquido das empresas, calculado através da diferença entre ativo e passivo em cada firma. Caso essa conta resulte em saldo negativo, isso significa que, mesmo que a empresa venda todos os ativos, ela será incapaz de cobrir os passivos – uma situação mais comum do que se imagina entre as companhias abertas.

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O caso da GM

Um exemplo que já virou clichê é a General Motors. Negociadas atualmente no patamar dos US$ 3, as ações da empresa caíram quase 90% desde o início de 2008, ou cerca de US$ 20 por papel. Na comparação com o que a empresa valia antes da crise e considerando a disposição do governo norte-americano em ajudar as automobilísticas, o patamar pode até parecer atrativo.

A questão, porém, é que, olhando para o aspecto contábil da empresa, a atratividade fica de fora. De acordo com informações da Capital IQ, ao final de 2008 o patrimônio contábil da GM estava negativo em US$ 86,154 bilhões, sendo que sua capitalização de mercado é próxima de US$ 2 bilhões.

É interessante notar que, mesmo terminando 2008 com um PL negativo surpreendente, 132% acima do saldo negativo de 2007 (US$ 37,094 bilhões), as ações da General Motors acumulam alta de 80% nos últimos trinta dias, impulsionadas pela percepção de ajuda do governo.

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Empresas dos EUA

Conforme os dados da Capital IQ, há mais de 200 empresas com patrimônio líquido negativo sendo negociadas nas maiores bolsas norte-americanas. Se grande parte delas é desconhecida mundialmente, as dez companhias com pior PL são figuras constantes nas manchetes, principalmente após o início da crise financeira internacional.

A lista é dividida entre quatro setores: automobilístico (Ford e GM), aéreo (American Airlines e United Airlines), telecomunicações (Cablevision e Charter) e financeiro (Ambac, Fannie Mae, Freddie Mac e Newcastle). Todas as empresas poderiam ser consideradas baratas, com quedas acima de 80% desde o início de 2008 – à exceção de Ford e Cablevision, cujas ações caíram em torno de 20% e 45%, respectivamente. Confira a lista:

Empresa Patrimônio Líquido
(US$ milhões)
Capitalização de Mercado
(US$ milhões)
General Motors -86.154 2.045
Freddie Mac -30.731 602,0
Ford -17.311 6.949
Fannie Mae -15.314 927,5
Charter Communications -10.506 18,4
Cablevisions System -5.362 4.130
Ambac Financial Group -3.782 270,1
American Airlines -2.935 887,2
United Airlines -2.465 689,2
Newcastle -2.393 47,5

Fonte: Capital IQ – uma divisão da Standard & Poor’s

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No Brasil

De acordo com levantamento da Gradual Corretora, dentre as empresas negociadas na BM&F Bovespa, apenas três possuem patrimônio líquido negativo: Bombril (-R$ 488 milhões), Minupar (-R$ 33 milhões) e Wetzel (-R$ 9 milhões).