Embraer: por que a possível fusão de unidade de carros voadores com a Zanite fez a ação disparar

Analistas enxergam na unidade de eVTOLs um negócio-chave para a operação da Embraer, apesar de muitas dúvidas ainda existirem

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – As ações da fabricante de aeronaves Embraer (EMBR3) disparam nesta quinta-feira (10) após novas notícias envolvendo a sua subsidiária voltada para os chamados “carros voadores”, vindo de uma sequência de boas novidades envolvendo essa unidade e que está animando os investidores.

Durante a manhã, a companhia confirmou uma notícia dada pela agência de notícias Bloomberg de que está em negociações para a fusão da Eve Urban Air Mobility, sua unidade de veículos elétricos de pouso e decolagem vertical (eVTOLs, na sigla em inglês), com a Zanite Acquisition.

Com a informação, os papéis da Embraer ficaram cerca de 40 minutos em leilão, para em seguida registrarem alta de mais de 12%. As ações ainda ganharam força durante a sessão e fecharam com ganhos de 15,61%, cotadas a R$ 20,00.

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Apesar de confirmar as negociações, a companhia brasileira evitou qualquer sinalização sobre os valores, dizendo apenas que “não pode prever se a Eve chegará a um acordo definitivo ou quais serão os seus termos”. Por outro lado, fontes da Bloomberg disseram que o acordo poderia avaliar a empresa combinada em cerca de US$ 2 bilhões.

A Zanite é uma empresa de aquisição de propósito específico, ou SPAC na sigla em inglês, um tipo que tem se tornando comum no mercado.

Uma SPAC também é chamada de “empresa de cheque em branco”, já que é uma empresa que está listada na bolsa, mas sem um negócio estabelecido, buscando adquirir ou se unir com uma empresa privada, tornando-a pública sem precisar passar pelo processo tradicional de uma oferta pública de ações (IPO).

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A Zanite estreou na bolsa dos Estados Unidos em novembro de 2020, com uma oferta que captou US$ 230 milhões. Ela é liderada pelos codiretores-presidentes Kenn Ricci, coproprietário da Directional Aviation Capital, que controla a operadora de voos privados Flexjet, e Steve Rosen, cofundador da empresa de private equity Resilience Capital Partners.

“A Embraer vem investindo em novas vertentes de tecnologia, e com a possível fusão, a Eve, da fabricante de aviões, com a Zanite, a empresa irá conseguir gerar maior valor, além de estar entrando em um novo mercado muito específico”, avalia a Guide Investimentos.

As implicações do valor da operação

O Bradesco BBI destaca que além da estratégia em si de operar em um novo nicho do mercado, o valor que tem sido apontado para a operação ajuda a animar os investidores em relação à Embraer, já que atualmente a companhia tem um valor de mercado de cerca de US$ 2,5 bilhões. Ou seja, a Eve sozinha poderia valer 80% da sua dona.

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A equipe do Credit Suisse, por sua vez, cita que o valor, em um primeiro momento, pode parecer baixo, já que outras empresas de eVTOL com fusões pendentes com SPACs conseguiram um valuation maior, como a Joby Aviation, que levantou US$ 1,6 bilhão na combinação de negócios e passou a ser precificada a US$ 6,6 bilhões após a fusão, enquanto a Lilium levantou US$ 830 milhões e ficou avaliada em US$ 3,3 bilhões.

Apesar disso, os analistas do banco suíço apontam que as incógnitas da operação, como o tamanho e a escala da Eve e os termos certos do negócio, tornam as comparações complicadas de serem feitas neste momento.

Já o Morgan Stanley destaca que diferentes de outros players desse mercado de carros voadores, como a Archer, a Embraer já tem um histórico de sucesso no desenvolvimento de aeronaves e na obtenção das certificações para operações. “Além disso, a Embraer teve seu caixa restrito [por conta da pandemia], de modo que provavelmente precisaria de financiamento externo para desenvolver esse negócio”, afirmam.

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Negócio-chave para a Embraer

O Credit aponta ainda que, embora os negócios de aviação comercial da Embraer tenham tido muita dificuldade desde o início da pandemia, assim como a unidade de defesa (por motivos não relacionados), o “eVTOL é visto como uma oportunidade chave de longo prazo pelos investidores”.

“Vemos o eVTOL como o principal fator por trás do forte desempenho da Embraer no acumulado do ano, junto com seu novo posicionamento como o único provedor de jatos regionais e uma melhoria na demanda por jatos executivos”, afirmam os analistas.

Na mesma linha, o Morgan avalia que “se a transação for adiante, isso deve levar o mercado a atribuir um valor significativamente maior ao negócio eVTOLs da Embraer do que antes (independentemente do que se acredita sobre as perspectivas do negócio no longo prazo)”. Além disso, os analistas enxergam essa operação como chave para a capacidade da Embraer de financiar seu negócio.

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Mesmo assim, os analistas reforçam que ainda existem muitas questões a serem respondidas. No caso do Credit, o banco diz que mesmo os mais otimistas, como eles, veem um balanço patrimonial ainda sobrecarregado, com desempenho errático em todos os três negócios principais da companhia, além de uma perspectiva obscura do segmento de defesa e um valuation elevado, embora admitam que isso possa mudar assim que a visibilidade sobre a Eve ficar mais clara.

Por fim, o Morgan lembra que ainda não se sabe ao certo quanto capital seria injetado no início da operação se um negócio fosse fechado e nem qual será o tamanho da participação que a SPAC terá na nova companhia. “Supomos que não seria qualquer negócio que geraria um ganho de caixa para a Embraer e que a maior parte ou todos os investimentos vinculados à transação seriam dedicados ao financiamento da operação da Eve”, concluem.

Tanto Credit quando Morgan têm recomendação “underperform” (abaixo da média do mercado) para os ADRs, que na prática são recibos das ações brasileiras negociados em bolsas como a NYSE, da Embraer. Dados compilados pelo Eikon apontam que das 11 casas de análise que acompanham os ativos, apenas duas recomendam compra, enquanto 6 colocam avaliação neutra e outras três recomendam venda.

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.