Em evidência, insider trading ganha foco das autoridades, mas tem seus defensores

Após o caso Raj Rajaratnam, Wharton avalia o tema e traça as consequências e potenciais sinais da prática

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SÃO PAULO – A história de Raj Rajaratnam, um dos maiores casos de insider trading dos últimos tempos, reacendeu as discussões quanto a esta prática entre os investidores, que muitas vezes fariam tudo para obter informações que os outros não possuem – visando obter retornos maiores que a média do mercado.

Em outubro, o mega-investidor foi indiciado por utilizar-se de uma rede de executivos para conseguir informações sigilosas. Através de sua companhia Galleon Group, fundada em 1997, Rajaratnam foi acusado de auferir lucros de US$ 20 milhões entre 2006 e 2009 através de informações confidenciais.

Com o aumento no número de casos de insider trading atualmente, tanto nos Estados Unidos como em todo o mundo, a fiscalização desta prática tem aumentado a fim de evitar que informações privilegiadas cheguem aos investidores. Contudo, existem economistas que defendem que as agências fiscalizadoras façam exatamente o caminho oposto, e pensem em mecanismos que legalizem este tipo de atividade.

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Por que insider trading é ruim?

Em relatório, a Wharton – escola de investimentos da Universidade da Pensilvânia – destaca que a prática de insider trading é negativa e pode trazer malefícios ao mercado, como intervir em fundamentos que já são amplamente utilizados por investidores na hora de decidir se uma ação é digna ou não de seus investimentos.

“Eu acredito que existam alguns liberalistas que pensam que nós devemos permiti-lo (o insider trading). Contudo, eu acho que o insider trading não é uma coisa boa. Ele eleva os riscos na compra de ativos”, afirma o professor Jeremy Siegel.

De fato, a legalização da prática aumentaria a desconfiança nos negócios. “Quando alguém está lhe oferecendo um ativo para comprar ou vender, pode ser que esta pessoa tenha informações internas e você será passado para trás. Então, você não tem como confiar que estará pagando um preço-justo”, destaca Siegel.

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Por outro lado, há quem defenda que o insider trading aumente as possibilidades de lucro. Uma vez em posse de uma informação privilegiada, o investidor pode vender ou comprar ativos por um determinado preço no qual evitará o prejuízo futuro ou acumulará lucros em breve.

Como descobrir os casos?

Uma vez que insider tradings não deixam rastros claros, muitos casos podem não ser detectados. Geralmente, o comportamento não usual de negociação pode dar pistas deste tipo de prática, principalmente se o volume negociado aquém do normal vem acompanhando da revelação de fatos relevantes pelas companhias envolvidas.

“É difícil saber quantas condutas criminosas estão em curso ao redor do globo, especialmente no mundo dos colares brancos onde existe muita proteção de segredos”, destaca Alan Strudler, professor de estudos legais e ética de negócios da Wharton.

Contudo, a Wharton lembra que nem sempre a prática de insider trading foi ilegal em todo o mundo. De acordo com um estudo publicado no Journal of Finance, em 2002, apenas 34 de 103 países pesquisados na década de 1990 possuíam leis contra a obtenção de informações privilegiadas por investidores, sendo que somente 9 deles haviam punido efetivmente os envolvidos. Em 2002 já eram 87 países destes 103.

Em meio a este cenário, as preocupações atuais acerca desta prática se acirraram principalmente nos EUA, onde o órgão fiscalizador passou a vistoriar a existência deste tipo de atividade nas companhias de hedge funds, a partir do escândalo de Raj Rajaratnam.

Até o momento, a SEC (Securities and Exchange Commission) já investigou 20 pessoas suspeitas de praticar insider trading nos Estados Unidos, sendo que dessas, apenas 5 foram condenadas.