Eletrobras faz venda bilionária e ganha de 2 lados: fim de risco e ajuste em ativos

Transação também é positiva para a estratégia de descarbonização da Eletrobras

Felipe Moreira

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A Eletrobras (ELET3;ELET6) anunciou nesta segunda-feira (10) a conclusão da tão esperada venda de seu portfólio termelétrico para a Âmbar por R$ 4,7 bilhões, sendo R$ 3,5 bilhões em dinheiro e R$ 1,2 bilhão em earn-outs (estrutura em que os vendedores “ganha,” parte do preço de compra com base no desempenho do negócio após a aquisição).

A Eletrobras também informou que qualquer valor de dívida ou caixa no portfólio de termelétricas não será transferido para a Âmbar. A transferência de ativos também transfere para a Âmbar os contratos com a Amazonas Energia, que tem inadimplido R$ 430 milhões em pagamentos por trimestre à Eletrobras.

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Além disso, outros dois acordos foram firmados: (i) no caso de mudanças no controle da Amazonas Energia, a empresa transferirá à Âmbar todos os créditos ativos associados à Amazonas, em troca de uma opção de compra da distribuidora; e (ii) ambas as partes (Eletrobras e Âmbar) chegaram a um acordo para emendar a opção de compra do complexo eólico Baleia, e a Eletrobras terá direito total às indenizações de seguro do ativo.

O JPMorgan avalia a venda como neutra pelo valor em si, mas muito positiva sobre a mitigação de riscos. Isso porque a venda está alinhada com a estimativa de R$ 3,3 bilhões do banco, quando exclui os earn-outs, sendo positiva para a estratégia de descarbonização da Eletrobras.

No entanto, segundo o JPMorgan, o principal destaque é a mitigação dos riscos relacionados aos recebíveis da Amazonas, que são transferidos para a Âmbar. A Eletrobras possui um recebível de R$ 7,3 bilhões da Amazonas Energia devido a inadimplências passadas, e atualmente está inadimplente em outros R$ 430 milhões por trimestre, impactando significativamente os resultados.

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“A transferência dos contratos significa a eliminação de uma potencial perda de R$ 1,7 bilhão por ano para a Eletrobras (2% do valor de mercado). A troca dos recebíveis por uma participação na distribuidora é uma matemática mais complexa de se fazer, dado que dependerá das condições da distribuidora, mas, considerando que atribuímos valor zero a esses recebíveis, vemos esse acordo como um potencial positivo”, explica o JPMorgan.

O Itaú BBA também considera o negócio altamente positivo e reitera classificação outperform (desempenho acima da média do mercado, equivalente à compra) e preço-alvo de R$ 59,60 para ação ordinária da companhia.

“A empresa estabeleceu com sucesso um quadro de transações robusto, com vantagens claras, ao mesmo tempo que abordou questões importantes relacionadas com o crédito”, comenta BBA.

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Na semana passada, a Eletrobras fez captação de R$ 10,9 bilhões para aumentar sua liquidez de curto prazo, posicionando a empresa para capitalizar oportunidades emergentes. O BBA avalia que esse movimento pode indicar progresso no sentido de uma potencial resolução com o governo federal relativamente à disputa de direitos de voto, necessitando potencialmente de mais de R$ 20 bilhões em pagamentos anteriores da CDE (Conta de Desenvolvimento Energético).

Além disso, o potencial desinvestimento de participações minoritárias em outras empresas poderia gerar R$ 5 bilhões extras. Consequentemente, com os recursos da emissão de dívida e da venda de ativos, a Eletrobras teria os recursos necessários para a liquidação. É importante observar que não há confirmação oficial de um acordo neste momento.

Na mesma linha que BBA e JPMorgan, o Bradesco BBI avalia a transação como positiva, pois estimava que essas unidades de geração térmica valiam entre R$ 4,5 bilhões a R$ 5,0 bilhões

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“Mais importante ainda é o fato de a Eletrobras finalmente acabar com o risco de ter que negociar com a Amazonas, à qual está vinculada a maior parte da receita dessas termelétricas”, ressalta.

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De acordo com BBI, outra externalidade positiva deste negócio é a redução da geração não renovável no portfólio da companhia. O portfólio consolidado da Eletrobras passará a ser composto por geração 100% renovável (hídrica, em sua maior parte).

O único ativo não renovável que restará no portfólio da empresa será a sua participação minoritária (não consolidada) nas usinas nucleares de Angra (controladas pelo governo federal). Obviamente, este é um ativo mais complexo de sair, visto que envolve expectativas sobre a construção do projeto greenfield de Angra III, que foi acordado no momento da privatização da Eletrobras, mas que poderia fazer parte de uma negociação em condições de igualdade com o governo. Não quero abandonar o litígio do limite de votos de 10%.

Segundo estimativas do BBI, alavancagem pós-negócio da Eletrobras permaneceria relativamente estável, além da entrada de caixa de R$ 4,7 bilhões (preço de venda).

Por fim, o BBI mantém classificação equivalente à compra para ELET6 e preço-alvo de R$ 59.