Eletrobras (ELET3) pode vender fatia na Isa Cteep (TRPL4)? Confira o que analistas acham da operação

Possibilidade de venda da participação que a Eletrobras tem na ISA Cteep é vista como algo positivo pelo mercado

Lara Rizério

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Nos últimos dias, ganhou destaque a notícia do jornal Valor Econômico de que a a Eletrobras (ELET3;ELET6) teria colocado à venda uma fatia da transmissora de energia ISA Cteep (TRPL4), companhia da qual possui uma fatia de 35,74% do capital total. A transmissora é controlada pelo grupo colombiano ISA, com 35,85% do capital.

A ISA Cteep atua em dezessete estados e gerencia 21 mil quilômetros em linhas e torres voltadas à transmissão de energia. O tamanho de suas operações coloca a empresa na segunda colocação deste mercado, com um market share de 11% da Receita Anual Permitida (RAP) no Brasil.

A Eletrobras deixou de ter o controle estatal no final de 2022 e, dessa maneira, vem dando continuidade ao seu plano de ganho de eficiência ao reduzir sua estrutura societária – descontinuando ou vendendo alguns ativos que não são considerados o centro das operações da empresa, aponta a Levante Corp.

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Desde o governo Temer, a Eletrobras já reduziu em cerca de 51% o seu número de colaboradores e a expectativa é de que até o final de 2024 o número de SPEs (Sociedade de Propósito Específico) seja reduzido em 83%, partindo de 178, em 2016, para o objetivo de 31 no ano de 2024.

Os analistas da casa de análise apontam que o processo de ganho de eficiência da Eletrobras já dura muitos anos mas ainda não foi concluído por conta do tamanho da companhia. Atualmente, a holding controla a CHESF, Eletronorte, Furnas, Eletrosul e Eletropar. A Eletropar foi estabelecida principalmente para gerenciar as participações acionárias da Eletrobras em outras companhias e projetos e seus resultados são consolidados na holding através da equivalência patrimonial.

Assim, a venda das participações da Cteep seria uma forma de capitalizar a companhia para projetos que estejam mais alinhados com as suas operações, nos quais a empresa possua a gestão dos recursos e também na simplificação da estrutura da empresa, o que permite ganho de eficiência tanto operacional quanto tributária.

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“Com o movimento de reestruturação, a Eletrobras  almeja o aprimoramento da sua estrutura de custos e despesas. Além disso, está empenhada na busca por maior eficiência e competitividade no mercado de energia. O impacto nos resultados financeiros já vem aparecendo, conforme observamos nos resultados do segundo trimestre, uma tendência de redução de custos e despesas – que já ocorre a alguns anos e deve tornar a empresa rentável já nos próximos trimestres. Nesse sentido, a venda das ações da TRPL4 está alinhada com estes objetivos”, avalia a Levante.

Para a Genial Investimentos, no geral, a possibilidade de venda da participação que a Eletrobras tem na ISA Cteep é vista como algo positivo.

“Achamos que participações minoritárias tendem a não ser exatamente bem precificadas pelo mercado (principalmente dentro de um case complexo como o da Eletrobras). Sendo assim, a monetização dessa fatia passa a ser interessante, afinal de contas tais recursos podem ser utilizadas para novos projetos ou pagamento de dividendos – e tendo em vista o endividamento sob controle da Eletrobras, acreditamos que essa é uma destinação muito razoável”, apontam os analistas.

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Já em relação a ISA Cteep, a Genial acredita que tal movimentação deve alterar pouca coisa em termos fundamentais no case da empresa ou no seu bloco de controle tendo em vista o fato da ISA deter quase 90% das ações ordinárias.

“Citamos ainda a possível destinação dos recursos a serem levantados pela Eletrobras, onde acreditamos existir espaço para distribuição de dividendos extraordinários tendo em vista a baixa alavancagem da empresa”, aponta.

A Genial aponta que, supondo que a Eletrobras monetize sua fatia econômica de 35,7% na empresa aos preços atuais, o valor a ser levantado seria de aproximadamente R$ 6 bilhões. Supondo que a empresa monetize sua participação nos termos atuais, a empresa deve fechar o ano de 2023 com um endividamento líquido de R$31 bilhões e uma razão dívida líquida/Ebitda esperada para este ano de 1,5 vez (versus R$37 bilhões e uma razão dívida líquida/Ebitda de 1,8 vez no cenário-base esperado para esse ano).

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“Supondo que todos esses recursos sejam distribuídos no formato de proventos, o rendimento seria de aproximadamente 7% aos preços atuais em dividendos extraordinários. Com um endividamento sob controle, medidas de aumento de eficiência ganhando tração, ausência de projetos relevantes e um acionista relevante faminto por recursos (Governo Federal), faz muito sentido que a empresa passe a ser mais generosa no tocante ao pagamento de dividendos – assim esperamos”, avalia a casa de análise.

A Genial tem recomendação de compra para ELET3, com preço-alvo de R$ 47,50 (potencial de 31% em relação ao fechamento de terça-feira), e para TRPL4, com preço-alvo de R$ 28 (upside de 27%).

Sobre Eletrobras, a Levante ressalta que a companhia tem uma Taxa Interna de Retorno (TIR) bastante elevada, cerca de 17% ao ano, muito por conta das expectativas do mercado com relação aos preços de energia, que tem sido mais baixos do que foram estimados na época do processo de privatização, devido aos reservatórios hídricos cheios na maior parte do país.

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Outro fator que tem impactado negativamente o desempenho das ações da companhia são os riscos de interferência do governo, que temos observado de forma insistente neste ano, muito embora não tenham tido grande efeito na prática.

“Seguimos com uma perspectiva positiva para a Eletrobras. A empresa persiste em seus esforços para melhorias consistentes em sua estrutura, tanto operacional quanto financeira. Estamos confiantes de que esses esforços se traduzirão em uma performance robusta da companhia no futuro”, conclui.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.