Eike Batista: é verdade que ele topa tudo por dinheiro?

Eike Batista continua com apetite para investir - seja nas próprias empresas, seja no SBT

Felipe Moreno

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SÃO PAULO – Neymar é um talento raro no futebol. Com 20 anos, o craque do Santos já foi eleito o melhor jogador da América do Sul e se transformou na grande esperança dos brasileiros para que a seleção conquiste a Copa de 2014. Poucos duvidam de que o atacante possa se tornar um dos melhores do mundo. Eike Batista certamente não duvida. Ele é dono da IMX, uma das duas agências que buscam patrocínios para o jovem jogador.

Poucos duvidam da capacidade de Neymar ou de Eike. Mas ninguém sabe por quanto tempo os dois conseguirão se manter no topo. Apesar de o mundo dos negócios não despertar tantas paixões quanto o futebol, Eike tem conseguido mobilizar a mídia como um craque dos gramados. Não sem razão. O homem que há uma década era conhecido principalmente por ser o marido da modelo Luma de Oliveira se transformou, em pouquíssimo tempo, no brasileiro mais rico da história.

Bastante admirado pelas pessoas que sonham em abrir negócios próprios e construir fortunas do zero, Eike também era, até algum tempo atrás, o “queridinho” dos investidores. Dono de seis empresas de capital aberto na BM&FBovespa, o bilionário de ascendência alemã e fluente em várias línguas já não tem o mesmo prestígio no mercado financeiro.

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A crise mundial pegou muitos investidores no contrapé. As empresas que mais se valorizaram nos últimos anos têm forte geração de caixa e receitas relacionadas ao consumo interno – o oposto do que as companhias pré-operacionais de Eike têm a oferecer.

Ante as críticas, Eike tem adotado uma postura considerada arrogante por muita gente. “Se o mercado não me quer, eu me basto”, afirmou recentemente. Mas seria o megaempresário um especulador mais preocupado com si mesmo do que com empresas e sócios? “Acredito que sim, pois uma das características do especulador é justamente não se apegar às empresas”, avalia um trader.

Essa impressão foi reforçada pela recente oferta de recompra das ações da LLX (LLXL3), com o objetivo de fechar o capital da companhia. A empresa de logística estreou na BM&FBovespa valendo R$ 4,50 por ação e chegou a ser cotada a mais de R$ 10,30. Ao tentar sem sucesso recomprar os papéis, Eike ofereceu apenas R$ 3,13 aos investidores.

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Outra crítica constante é a falta de foco do empresário que agora parece topar qualquer empreitada: de comprar o SBT, canal de televisão de Silvio Santos, a se responsabilizar pela operação brasileira do Cirque du Soleil. Para quem está perdendo dinheiro com as ações de alguma empresa X, fica a sensação de que o bilionário está mais interessado em expandir seu império do que concentrado em cumprir todas as promessas que fez ao mercado. “Enquanto ele não entregar tudo que promete e dar lucros aos acionistas, continuará sendo somente um lançador de ações”, avalia um trader.

Mas há razão para ter ressentimento?
Também existem muitos investidores que não consideram o empresário um mero vendedor de sonhos ou formulador de “business plan”. “Eu não tenho nenhuma raiva do Eike, não”, afirma o gestor de uma asset. Ele está sendo criticado, diz o investidor, da mesma forma que o Neymar estaria sofrendo caso não apresentasse um bom futebol pelo Santos ou pela Seleção brasileira. Se Eike voltar a marcar gols todas as semanas, não haverá motivos para a torcida não voltar a idolatrá-lo.

Para os defensores, também não há mal nenhum em Eike ser dono de empresas de minério de ferro, petróleo, logística, carvão, energia, atrações culturais, hotéis e outros negócios. Analisado de forma racional, o portfólio de empresas é claramente voltado para projetos de longo prazo que favorecem o desenvolvimento brasileiro.

O que diferencia o bilionário de outros empreendedores é que ele foi capaz de levantar dinheiro antecipadamente para seus projetos tanto no mercado financeiro quanto no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Empolgados com o sucesso da venda de parte da MMX (MMXM3) e do lançamento das ações da OGX (OGXP3) na Bolsa há alguns anos, muitos investidores confiaram no histórico de sucesso do empresário e não se importaram em financiar projetos que só começariam a dar retorno após muito tempo.

É importante lembrar que a maioria das empresas de Eike foi a mercado antes de 2008. O bilionário soube como ninguém aproveitar um momento em que o apetite dos investidores por risco era enorme e que muita gente estava disposta a colocar dinheiro em novos projetos. Quatro anos depois da quebra do Lehman Brothers, no entanto, o mercado é outro. O dinheiro não vem tão fácil assim, e várias empresas do empresário estão – em termos relativos – mais baratas que na abertura. “Se notarmos um movimento de fechamento de capital de suas empresas, isso demonstrará uma grande habilidade na especulação. Eu adoraria ficar com esse spread”, afirma um trader. Como Warren Buffett, o bilionário estaria vendendo na alta e comprando na baixa – a diferença é que as ações negociadas seriam as de suas próprias empresas.

Dá para confiar?
Para o investidor, fica a dica de não investir cegamente em empresas pré-operacionais como as de Eike. As cotações dos papéis das companhias dele são muito voláteis e suscetíveis aos humores da economia mundial. Em algum momento, Eike precisará buscar mais recursos no mercado para concluir projetos já iniciados. Se a Europa e os EUA não derem sinais de recuperação, ninguém sabe quanto o bilionário terá de pagar de juros para levantar o dinheiro necessário para tocar seus empreendimentos até o fim.

LLX: a gota d’água?
A última grande polêmica envolvendo Eike Batista foi o lançamento da oferta pública de aquisição para fechar o capital da LLX Logística. Com o preço ofertado de R$ 3,13 por ação, os sócios minoritários que compraram os papéis no pico estariam perdendo mais de 60% de seu capital. É natural que isso tenha provocado a ira de alguns investidores.

Mas Eike estaria sendo especulador? Pelo menos naquele momento, não. Quem comprou ações na abertura de capital, por R$ 4,50, ainda conseguiu sair com algum lucro, já que nesse meio tempo houve a cisão da LLX e da PortX, garantindo duas ações com valor aproximado de R$ 3,00 cada.

O final da história também chamou a atenção. O fechamento foi cancelado após o Bank of America decidir que o preço de cada ação deveria estar entre R$ 6,94 e R$ 7,63, garantindo um valor de mercado de cerca de R$ 5 bilhões para a LLX. Ficou claro que Eike estava interessado em readquirir as ações da empresa que estavam nas mãos do mercado, mas não estava disposto a pagar caro por isso.

CCX: uma jogada de mestre ou de trader?
Recentemente, Eike anunciou que fecharia o capital de mais uma de suas companhias na BM&FBovespa: a CCX (CCXC3). A empresa, uma cisão da MPX (MPXE3), deve sair da bolsa ao valor de R$ 4,31 por ação, bastante abaixo dos R$ 7,30, que marcou sua estreia na Bovespa. 

O valor representava um prêmio de 100% frente ao patamar em que a ação se encontrava poucos dias antes, mas o que dizer para o investidor que resolveu apostar nas atividades de carvão de Eike durante o período em que a ação esteve aos R$ 5,00 ou R$ 6,00? Este, com certeza, perdeu dinheiro. 

A decisão de Eike, ocorreria por conta das mudanças drásticas no mercado carvoeiro e no ambiente de negócios da Colômbia, país em que a CCX concentrava grande parte de seus ativos. Jornais chegaram a noticiar que o megaempresário estaria desistindo desses ativos, mas a assessoria da empresa negou.

Seja como for, Eike não vai ter ganho um centavo com a operação: vai comprar ações a R$ 4,31 que nunca passaram por uma oferta primária, e só engordaram o caixa do grupo EBX quando a própria MPX fez o seu IPO (Initial Public Offering). Como ocorreu com a LLX, o megaempresário pode desistir dessa OPA a qualquer momento – o que faz com que os papéis ainda operem R$ 0,50 abaixo do preço de fechamento. Vale a pena correr esse risco?