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A economia brasileira deverá crescer apenas 0,6% em 2014, conforme projeção do banco Credit Suisse apresentada nesta segunda-feira, 18, pelo vice-presidente da instituição no Brasil, Leonardo Fonseca, durante palestra no workshop Planejamento Automotivo 2015, em São Paulo. De acordo com ele, do lado da oferta, o destaque negativo será para indústria, que terá recuo de 1,4% no período. Já do lado da demanda, serão os investimentos que terão a maior queda, de 4,6%. Para 2015, a projeção do banco é de crescimento de 1,5% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro.
Fonseca avaliou que o fraco desempenho da atividade econômica se deve aos permanentes baixos níveis de confiança dos empresários e consumidores e pelo histórico de elevado consumo do governo em anos eleitorais. Segundo ele, apesar da economia mais fraca, o aumento do consumo das famílias continuará significativo. Para o PIB do segundo trimestre deste ano, a projeção do banco é de queda de 0,2%. Caso isso se confirme, ele lembra que o PIB do primeiro trimestre será revisado para baixo, fazendo com que a economia entre em recessão técnica, ou seja, quando há dois trimestres consecutivos de contração.
O vice-presidente do Credit Suisse projeta também que a taxa de desemprego no Brasil deverá recuar para 5% neste ano e que o crescimento da massa salarial continuará elevado em 2014, no caso 2,7%, ante alta de 2,6% no ano anterior. O banco avaliou ainda que uma retomada da indústria no curto prazo é “improvável”, em razão dos altos estoques e da baixa confiança do setor. “Teremos dois anos com crescimento relativamente baixo”, afirmou, avaliando que parte da situação que a economia brasileira vive é consequência de aspectos conjunturais, que poderão ser resolvidos com ajustes a partir de 2015.
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Inflação
De acordo com as previsões do Credit Suisse, a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deverá ficar acima do teto da meta estabelecida pelo governo, de 6,5%, no segundo semestre de 2014, mas fechará o ano em 6,4%. Fonseca afirmou que esse resultado em 2014 se dará pela “elevada persistência” do setor de serviços.
Na avaliação dele, a inflação também permanecerá acima do centro da meta nos próximos anos. Para 2015, a projeção do banco é de que o IPCA fique em 6%. Fonseca projeta que, no próximo ano, as tarifas de ônibus urbano deverão sofrer reajustes maiores, uma vez que não acompanharam o aumento nos preços dos serviços e do óleo diesel nos últimos anos. Enquanto os dois últimos aumentaram 23,9% e 25,9%, respectivamente, o preço das passagens de ônibus urbanos só foi reajustado em 8,9%. Ele afirmou ainda que as tarifas de energia também “aumentarão muito” em 2015, em razão da crise pela qual o setor passa.
Fonseca defendeu também a redefinição do centro da meta da inflação oficial, atualmente em 4,5%, a partir de 2015, “como forma de coordenar o processo de redução das expectativas dos agentes públicos”. Na avaliação do Credit Suisse, essa meta é muito alta na comparação com outros países. Ele criticou também o fato de o Brasil ser, entre os países que seguem o regime de metas, o único onde os membros do Comitê de Política Monetária não têm mandato fixo. Segundo ele, essa alternância seria importante para combater a inflação.
Fonseca defendeu que o centro da meta deveria ser de 6,5% em 2015, a partir de quando seria gradativamente diminuído para 5,5% em 2016, 5% em 2017, voltando para os atuais 4,5% em 2018. Durante palestra sobre as perspectivas macroeconômicas do Credit Suisse, ele afirmou que o banco projeta que a taxa básica de juros (Selic) deve ser mantida em 11% até o final deste ano, mas que deverá ser elevada para 12% no próximo ano. Ele afirmou também que a instituição financeira projeta que a expansão do crédito bancário diminuirá de 15%, no ano passado, para 12% em 2014.
O vice-presidente do Credit Suisse avaliou ainda que o declínio dos juros bancários foi quase totalmente revertido neste ano. Ele destacou também que a inadimplência está relativamente estável em 2014, tanto para pessoa física quanto para empresas, e que, na avaliação do banco, grande parte do endividamento das famílias se deve ao crédito habitacional. Apesar disso, a instituição prevê que o crédito imobiliário deverá superar 10% do PIB em 2015.
Superávit
O déficit em transações correntes deverá ficar estável em 3,6% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano, conforme projeção do banco Credit Suisse.
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Na previsão do banco, o superávit comercial brasileiro passará para US$ 4 bilhões, ante US$ 3 bilhões no ano anterior. Segundo Fonseca, um fator negativo nas contas externas deverá ser o investimento brasileiro no exterior, que tende a “continuar forte”.
Para este ano, a previsão do banco é de que esse investimento fique em US$ 62 bilhões. Já para 2015, a projeção é de US$ 50 bilhões. Em compensação, a projeção do Credit Suisse para o investimento estrangeiro direto no Brasil é de US$ 60 bilhões, tanto em 2014 quanto no próximo ano. De acordo com Fonseca, o investimento estrangeiro deve continuar com “forte alta” em renda fixa. O banco afirma que todos esses resultados devem fazer com que a balança de pagamentos feche 2014 com saldo negativo de US$ 15 bilhões.
O governo federal não deverá cumprir a meta de superávit primário em 2014, avaliou Fonseca. Segundo ele, dados mensais indicam o não cumprimento dessa meta.
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Para o próximo ano, o analista lembrou que o projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO), elaborado pelo próprio governo, reduziu a incerteza sobre a política fiscal, ao diminuir o intervalo para possíveis valores de superávit primário para entre 2% e 2,5%, ante 3,2% e 0,9% neste ano.
Fonseca disse também que o banco espera um déficit nominal em torno de 4,3% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano. De acordo com ele, o País deverá ter um “ligeiro” aumento da dívida pública bruta nos próximos anos. Isso se dá, explica, em razão do “cenário macro”, que dificulta o recuo da dívida líquida até 2015.
No evento, o vice-presidente do Credit Suisse afirmou ainda que o banco projeta que a política de aportes do governo ao Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES) “provavelmente” continuará. De acordo com ele, esses aportes deverão ficar em aproximadamente R$ 30 bilhões por ano. O Credit Suisse prevê também que grande parte desses recursos deverá ser destinada para investimentos na área de infraestrutura.
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Mundo
A economia norte-americana deverá crescer 2% neste ano e 3% em 2015, conforme projeção do Credit Suisse. De acordo com Fonseca, a instituição projeta que a inflação permanecerá baixa naquele país: 2,1% neste ano e 2,4% no próximo. Ele divulgou também que o banco prevê uma diminuição na taxa de desemprego nos Estados Unidos para 6,2%, em 2014, e para 5,6%, em 2015.
O Credit Suisse trabalha com a projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) mundial de 2,7% neste ano e de 3,3% no ano seguinte. No caso da China, o banco prevê que a economia daquele país deverá crescer neste ano 7,3%, maior crescimento entre os Brics (Brasil, Rússia, Índia e China), seguido pela Índia (6%) e pelo Brasil (0,6%). Já a Rússia será o único entre os emergentes a apresentar crescimento negativo da economia neste ano, no caso, de -0,4%, conforme previsão da instituição financeira.
Fonseca informou também que o banco prevê perspectiva de recuo do preço das principais commodities em 2015. No caso do petróleo, a projeção do Credit Suisse é de que o barril passe a custar, em média, US$ 103, em 2015, e US$ 95, em 2016. Já para a tonelada de minério de ferro, a previsão é de que o preço passe a custar US$ 100, no próximo ano, e US$ 87, em 2016. A tonelada de cobre, por sua vez, deverá custar US$ 6,625, em 2015, e US$ 7,150, no ano seguinte.