Dólar cai mais de 1% e atinge mínima de 2014; “aproveite este preço”, diz analista

Para Reginaldo Galhardo, mercado pode estar animado demais antes do Carnaval; ele projeta que a moeda americana termine o ano a R$ 2,45

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SÃO PAULO – O dólar conheceu sua quinta queda em seis dias nesta quinta-feira (27), dando sinais de que pode se acomodar momentaneamente em um patamar um pouco mais distante do nível dos R$ 2,40, tido antes como cotação mais esperada pelo mercado, com o andar do cenário macroeconômico doméstico e internacional desfavoráveis. Nesta sessão, a moeda americana fechou em queda de 1,19%, cotada a R$ 2,3245 na venda, renovando sua mínima em 2014.

O momento de euforia do mercado, que culminou em uma variação ascendente na diferença entre entrada e saída de dólares no Brasil, acompanha a surpresa dos investidores com o anúncio do governo sobre a política fiscal de 2014 e os correspondentes objetivos de cortes no Orçamento em um ano em que esperava-se forte aumento nos gastos públicos em meio às eleições. Há exatamente uma semana, a equipe econômica da presidente Dilma Rousseff anunciou que pretende gerar superávit primário de 1,9% do PIB (Produto Interno Bruto) neste ano – objetivo muito acima do que esperava o mercado, o que gerou forte alívio tanto para os investidores, como para as agências de classificação de risco.

Vale lembrar que, após o anúncio, Moody’s e Fitch reduziram a pressão sobre o rating soberano brasileiro e aumentaram a confiança de investidores estrangeiros, que, assustados, intensificavam seus movimentos de retirada de aplicações de recursos em solo verde-amarelo – operação acompanhada nas principais economias emergentes, na medida em que elas sinalizavam não serem capazes de entregar o que lhes foi apostado.

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“Isso tem ajudado o mercado a interpretar ou ter uma expectativa menos nebulosa para o País mais adiante. As expectativas não eram boas – com as contas públicas sob suspeita (base do cálculo do rating soberano) -, e, fatalmente, o mercado comprou esse corte no orçamento, bem como acha possível se alcançar a meta do superávit que o governo se comprometeu”, explica o gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo. Com isso, a possibilidade de fracasso da política fiscal começou a perder forças e o mercado começou a refazer posições.

Outro fator que tem atraído a entrada de dólares mesmo com em um momento não muito bom para a economia brasileira é o alto nível da Selic, elevada para 10,75% ao ano em decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) anunciada na véspera. Apesar de tal patamar já ter sido precificado pelo mercado antes da manifestação do Banco Central, a taxa de juros brasileira nas nuvens, por si, já chama atenção. Além disso, a possibilidade da continuidade o ciclo de medidas na Selic para se conter a valorização generalizada dos preços ainda é grande no mercado – elemento que pode animar ainda mais os investidores de fora.

O real vai “dançar” depois do Carnaval?
Apesar do maior otimismo, Galhardo ainda se mostra bastante preocupado com o que ele chama de possível excesso de confiança do mercado, principalmente com a proximidade dos feriados referentes ao Carnaval, que manterão os negócios de dólar parados no País. “O mundo gira e a gente fica parado. Fico preocupado, também porque a gente viu o mercado procurando um patamar de equilíbrio, com o dólar variando entre R$ 2,35 e R$ 2,40 e os investidores se sentiram confortáveis. Fico preocupado que essa forte queda da moeda americana seja reflexo de muita euforia do mercado”, alerta o gerente de câmbio.

Como consequência disso, Galhardo diz que o melhor que o investidor tem a fazer é aproveitar a baixa cotação da moeda neste momento, sem contar com dias muito melhores após o feriado festivo no País. “O mercado está muito seguro e eufórico para um momento como esse. Aproveite o dólar de hoje. Se tiver que quitar alguma coisa hoje, aproveite”, aconselha.

Na visão dele, para o final do ano, a moeda americana deve seguir em movimento positivo, fechando o período cotado na casa dos R$ 2,45. As eleições também podem contribuir para trazer ainda maior instabilidade para o dólar, com a necessidade de um período de ajustes após o resultado das urnas – independentemente de qual for -, que deve balançar as coisas do lado do mercado de câmbio.

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.