Dólar chega a cair abaixo de R$ 5 pela primeira vez desde junho com Fomc e Copom, mas ganha força e fecha a R$ 5,04

Sinalizações indicaram aumento do diferencial entre as taxas de juros brasileira e americana e levaram dólar a R$ 4,94, mas movimento perdeu força

Vitor Azevedo

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O dólar comercial registrou uma sessão movimentada nesta quinta-feira (2). Repercutindo principalmente as recentes decisões de política monetária no Brasil e nos Estados Unidos na véspera, a moeda americana já abriu em forte queda, chegando a uma mínima de R$ 4,94, com baixa de 2,45%, abaixo de R$ 5 pela primeira vez desde junho do ano passado.

Contudo, ao longo do dia, a divisa foi se recuperando, voltou para a casa dos R$ 5 por volta das 15h (horário de Brasília) e fechou na casa dos R$ 5,04, com uma queda modesta de 0,30% (mais precisamente, a R$ 5,044 na compra e R$ 5,045 na venda). Apesar da queda mais tímida, com o desempenho de hoje, o dólar passou a acumular perda de 1,30% na semana, de 0,57% no mês e de 4,43% no ano.

No início da sessão, o câmbio foi impactado principalmente pelas sinalizações dos bancos centrais americano e brasileiro, com fluxo de ingresso de capital estrangeiro após os comunicados das decisões.

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“A magnitude das decisões já estava precificada pelo mercado, a expectativa era para o tom que seria adotado após elas”, comenta Diego Costa, Head de Câmbio para o Norte e Nordeste da B&T Câmbio.

Ontem, diretores do Federal Reserve aumentaram a taxa básica de juros dos Estados Unidos em 0,25 ponto percentual, para o intervalo de 4,50% a 4,75%, e reforçaram o compromisso de controlar a inflação no país. Ao mesmo tempo, porém, Jerome Powell, presidente da instituição, sinalizou que a alta dos preços na maior economia do mundo parece estar controlada.

Com isso, os treasuries yields vêm caindo desde então, com o mercado entendendo que as taxas, em breve, terão espaço para recuar. O título para dez anos era negociado ontem, antes do anúncio, a cerca de 3,50%. Hoje, ele toca 3,345%. O para dois anos, que estava em 4,20%, agora opera em 4,04%.

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“O Jerome Powell foi um pouco mais dovish [sinalizando menor aperto monetário] do que o esperado. Temos, inclusive, um dólar mais fraco no mundo mais cedo, porque há uma migração do capital”, diz Leonardo Santana, analista da Top Gain Research.

Os títulos do tesouro americano, por serem considerados um dos ativos mais seguros do mundo, atraem muito capital quando pagam retornos maiores. Com quedas consideráveis, no entanto, há um movimento de saída de dinheiro dos Estados Unidos, ou do dólar, para outras economias.

O Banco Central brasileiro, por sua vez, manteve a taxa Selic em 13,75%, mas o comitê de política monetária sinalizou que pode manter as taxas de juros brasileiras em patamares elevados por mais tempo, por conta do risco fiscal.

Com o atual governo sinalizando que pretende gastar mais, mesmo com o Brasil em uma situação financeira já complicada, a autoridade monetária tem de manter a Selic em patamares elevados – para que investidores se sintam atraídos em trazer, ou manter, dinheiro para o país, apesar do risco maior de as contas públicas não serem honradas.

“Os números, as taxas de juros, ficaram dentro do esperado nos dois países, mas o que foi dito logo depois das tomadas decisões, tanto pelo Jerome Powell quanto pelo Campos Neto, foi o que mudou o mercado”, diz Fabrizio Velloni, economista-chefe da Frente Corretora. “Isso muda muito a dinâmica. Os investidores que estariam mandando dinheiro para os Estados Unidos de olho nos juros, começam a ver outros mercados de forma mais atrativa. No Brasil, a sinalização de que não teremos corte das taxas, torna o investimento em renda fixa muito mais atrativo”.

Esse movimento fortalece operações de carry trade – com investidores tomando dólares emprestados nos Estados Unidos, com juros menores, para investir em moedas com maiores rendimentos, caso do real.

Além disso, analistas também destacaram como positivo o resultado das eleições para as presidências da Câmara e do Senado, na véspera, com a eleição, respectivamente, de Arthur Lira e Rodrigo Pacheco. Segundo analistas ouvidos pelo InfoMoney, ao mesmo tempo em que os resultados podem servir como uma barreira para medidas econômicas mais polêmicas,, eles não deixam o governo petista engessado. Há força suficiente por exemplo para emplacar pautas importantes como o novo arcabouço fiscal, que substituirá o teto de gastos, e a Reforma Tributária.

Por outro lado, a queda das commodities na sessão (responsáveis por boa parte da pauta da exportação do Brasil), além da discussão no governo sobre aumento do salário mínimo pesaram para diminuir o movimento de queda do dólar.

“O dólar seguiu volátil e chegou a perder a fronteira dos R$ 5,00, mas demonstrou bastante demanda pela moeda americana nesses patamares, recuperou-se durante o pregão e sinaliza para alguma valorização no curto prazo”, apontou Leandro De Checchi, analista de Investimentos da Clear.

Em relatório na véspera, a XP destacou que, nas últimas semanas, o real teve um desempenho inferior aos pares emergentes, com a deterioração das perspectivas fiscais e ruídos políticos no ambiente doméstico contrabalanceando a melhoria de fatores externos.

Mas, considerando tanto fatores estruturais quanto cíclicos, os modelos do economista Rodolfo Margato, que assina o relatório, sugerem que o dólar poderia estar entre R$ 4,50 e R$ 4,85. Isso mostra espaço para o fortalecimento do real ao longo do ano mas que isso depende, em grande medida, de uma menor percepção de riscos domésticos, sobretudo no campo fiscal.