Dólar cai 4,5% desde a máxima e encosta em R$ 4, mas analistas veem pouco espaço para novas quedas

Alívio no cenário econômico explica queda recente, mas ajuste já está precificado e limita um recuo maior do dólar no curto prazo

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Depois de superar os R$ 4,00 em agosto, foram raros os dias em que o dólar comercial fechou abaixo desta marca chegando, ainda em novembro, a bater sua máxima histórica, em R$ 4,25. Apesar disso, nos últimos dias a moeda americana perdeu força, voltando para níveis não vistos em mais de um mês – acumulando queda de 4,5% desde sua máxima.

Para quem está pensando em viajar neste fim de ano, esta queda pode ser muito boa e, segundo analistas consultados pelo InfoMoney, é hora de aproveitar porque é difícil que o dólar recue muito mais agora.

Em relatório, José Faria Júnior, diretor da Wagner Investimentos, afirma que o nível dos R$ 4,05 é um bom patamar para quem precisa comprar. Segundo ele, se o Dollar Index (índice do dólar contra uma cesta de moedas) seguir em sua tendência de alta, o real não terá muito espaço para se apreciar.

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Para Faria, alguns fatores técnicos explicam a recente queda da moeda, como a valorização de commodities, a queda do Risco Brasil para seu menor nível desde 2010, o fim do fluxo de remessa de lucros e dividendos, além da expectativa de fluxo de exportações do agronegócio a partir do primeiro trimestre de 2020.

Ricardo Kazan, gestor e sócio da Novus Capital, explica que a rápida valorização do dólar nos últimos meses foi impulsionada pela saída de fluxo estrangeiro, não só no Brasil, mas em países da América Latina em geral, principalmente por conta do clima tenso na política da região.

Ele lembra dos protestos no Chile, que levaram a uma intervenção pesada na economia local, o que gerou um temor de contágio para os outros países, incluindo o Brasil.

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Com o fim dos conflitos, houve um alívio na saída de capital dos países da região, afetando o câmbio. “Vale lembrar ainda que os bancos centrais venderam reserva para resolver a situação cambial. Isso foi feito no Chile, no Brasil e em outros países”, explica Kazan.

Segundo ele, esta melhora, junto com as indicações recentes do Federal Reserve de que está disposto a aumentar a liquidez no sistema interbancário e ainda a resolução da guerra comercial ajudaram a fazer com que o dólar recuasse nas últimas semanas.

O alívio no câmbio veio, mas vai ficar?

Juan Prada, estrategista de câmbio do Barclays, explica que o real se beneficiou bastante da melhora do sentimento global, mas que este efeito já passou. “A maioria das boas notícias já foi precificada e o desempenho inferior da América Latina entre outubro e novembro já foi apagado”, afirma.

Por conta disso, ele avalia que a queda do dólar contra o real deve ser limitada a partir de agora, citando ainda o fato do Brasil já não ser mais um país com bom carry trade (operação para ganhar com o diferencial de juros dos países desenvolvidos e emergentes) após os sucessivos cortes da Selic pelo Banco Central.

Para Kazan, esta queda do dólar agora depende de outros fatores para continuar. “Para seguir este movimento [de queda do dólar] outra economias têm que mostrar melhora além dos Estados Unidos. E emergentes também”, afirma o gestor, que ressalta que ainda não viu um processo de desvalorização do dólar no mundo.

Já para Jefferson Laatus, estrategista-chefe do Grupo Laatus, o valor do dólar pode até voltar a cair se a economia seguir mostrando recuperação no ano que vem. Apesar disso, ele reitera que o cenário internacional ainda terá muito peso, com as eleições dos Estado Unidos em 2020 e os entraves econômicos entre americanos e outros países, o que gera insegurança e leva a uma busca por dólares.

“Prever uma faixa de preço para o dólar é muito difícil, pois são vários fatores econômicos envolvidos. O que dá para afirmar é que, se essas disputas comerciais comercias continuarem, principalmente entre EUA e China e agora também com alguns impasses tarifários entre EUA e União Europeia, o dólar vai acabar tendo uma certa força globalmente e fica bem difícil não refletir no país”, diz.

Prada, por sua vez, vê o dólar se valorizando no segundo semestre de 2020, chegando a R$ 4,25 no terceiro trimestre. “Isso está sustentado por um dólar levemente mais forte no próximo ano, com uma provável falta de progresso nas reformas podendo trazer algum desapontamento, além de um potencial aumento da aversão ao risco por conta das eleições nos EUA e negociações da fase 2 entre EUA e China”, explica.

Outras casas de análise têm avaliações parecidas para o nível do dólar em 2020. Em relatório recente, a XP Investimentos apontou para uma taxa de câmbio entre R$ 3,90 e R$ 4,20, enquanto o Bradesco BBI projeta a moeda em R$ 4,35. No mais recente relatório Focus do Banco Central, os economistas apontam para um dólar a R$ 4,10 no ano que vem.

Já para o curto prazo, Faria acredita que o dólar até pode voltar para a região entre R$ 3,95 e R$ 4,00, mas não deverá ser negociado sistematicamente abaixo deste nível. “Momento é de comprar e aguardar o desenrolar do mercado”, conclui.

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.