Do risco político à inflação: o que explica a queda de mais de 30 pontos-base dos juros?

Para Pablo Spyer, crescem as conversas de que a Selic estaria alta demais, assim como a leitura de que o próprio Banco Central já sinalizou que pode cortar a taxa básica de juros em 50 pontos-base na próxima reunião do Copom

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – Após uma semana marcada pela revisão acerca do crescente risco político, em meio à queda de dois ministros do governo e o envolvimento de parlamentares em tentativas de aprovar retaliação ao mundo jurídico, a segunda-feira começou com uma forte queda nos yields dos contratos de juros futuros curtos e longos.

Os DIs com vencimento em janeiro de 2018 fecharam em recuo de 25 pontos-base, para 12,01%, ao passo que os papéis com vencimento em janeiro de 2021 mergulharam 33 pontos-base, a 12,03%.

De acordo com o diretor da mesa de operações da Mirae Asset Wealth Management Pablo Spyer, crescem as conversas de que a Selic estaria alta demais, assim como a leitura de que o próprio Banco Central já sinalizou que pode cortar a taxa básica de juros em 50 pontos-base na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária). “Me preocupo com isso. A inflação tem que arrefecer ainda mais”, afirmou.

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Spyer acredita que parte do movimento dos DIs nesta sessão também se deva a expectativas de que a inflação virá mais baixa no IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) de novembro, a ser divulgado na sexta-feira. “Isso reforçaria ainda mais as chances de um corte de 50 pontos-base na reunião de janeiro. O mercado está fazendo suas apostas. Hoje estamos com precificação de 66% de chance deste corte”, observou.

Além do prisma econômico, outros fatores podem influenciar no movimento dos juros:

Alívio nas ruas
Do ponto de vista político, outra variável pode afetar a percepção de risco é a repercussão das manifestações do último domingo. O analista da XP Investimentos Richard Back acredita que o evento não trouxe impactos significativos sobre o governo Temer, o que tende a trazer sensação de alívio, uma vez que existia algum receio de que uma agenda negativa pudesse tomar corpo. Sendo assim, os potenciais estragos sobre o ajuste fiscal podem ficar em segundo plano desta vez.

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“Está certo pensar que Temer escapou da ira dos manifestantes, e que sobrou para Renan Calheiros, Rodrigo Maia e Lula o desgaste de hoje. A questão para refletir aqui é que esta lista de inimigos públicos não diminuirá, e a pergunta a ser feita é: como reagirão os indignados de hoje se a lista da Odebrecht pintar um alvo também no executivo?”, questionou.

Cresce a pressão sobre Ilan Goldfajn
A falta de indicativos claros de que a economia brasileira estaria se recuperando coloca a equipe econômica do governo no olho do furacão das críticas. Nos últimos dias, os jornais mostram como enfraqueceu o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e a maneira como Michel Temer tem operado para evitar os riscos de o PSDB pensar em alternativas à sua gestão, trazendo a sigla para mais perto do governo. No mesmo sentido, enquanto a recessão apavora os agentes econômicos, também cresce a pressão do governo e empresários por uma redução mais expressiva nos juros por parte do Banco Central, capitaneado por Ilan Goldfajn.

Conforme conta reportagem do jornalista Fernando Rodrigues, do portal Poder 360, o economista é o novo alvo interno do governo. Desta forma, cresce a pressão para que o peemedebista chame Goldfajn para uma conversa. A ideia seria o governo admitir não haver condições macroeconômicas para perseguir de modo tão incisivo o centro da meta de inflação (4,5%) e oferecer um estímulo à recuperação da atividade econômica com uma taxa de juros mais baixa, o que também aliviaria o caixa de muitas empresas endividadas.

No mesmo sentido, conta o jornalista Vicente Nunes, do jornal Correio Braziliense, que Temer já começaria a se convencer de que errou na escolha de Goldfajn para a presidência do BC. Quando o peemedebista recebeu a recomendação do economista do Itaú Unibanco para o comando da autoridade monetária, também veio a observação de que ele estaria disposto a cortar rapidamente a Selic para estimular a economia. Seis meses depois, a promessa ainda não foi cumprida.

Economistas reveem apostas
Uma semana depois de o Copom cortar a Selic em 25 pontos-base, para 13,75% ao ano, os economistas consultados semanalmente pelo Banco Central alteraram suas projeções para a taxa básica de juros ao final de 2017. De acordo com o mais recente Relatório Focus, divulgado na manhã desta segunda-feira (5), a mediana das apostas do mercado para a Selic passou de 10,75% para 10,50% no período. Já no grupo de analistas consultados que mais acertam as projeções de médio prazo (o chamado “top 5”), a mediana projetada para o ano seguinte seguiu em 11,25%.

No comunicado que acompanhou a reunião da semana passada, o Copom voltou a citar o processo de desinflação na área de serviços e os ajustes fiscais como riscos para o cenário de preços. Ao mesmo tempo, reconheceu a fraqueza da atividade e indicou que o ritmo de cortes pode se intensificar caso a recuperação da economia seja mais demorada que o antecipado. Essa intensificação, conforme o BC, também dependerá do ambiente externo.

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.