Distorção entre Ibovespa Futuro e à vista reflete esgotamento de “vendidos”

Devido à escassez de ações para alugar, contratos futuros do Ibovespa inverteram a "ordem natural" do mercado e têm operado com pontuação abaixo do Ibovespa à vista

Paula Barra

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SÃO PAULO – O Ibovespa vem mostrando desde o fim da semana passada uma forte distorção em relação ao contrato futuro do índice com vencimento mais próximo, em outubro de 2013 – negociado com o código INDV13. Naturalmente, o Ibovespa Futuro costuma operar acima do Ibovespa à vista, já que sua pontuação reflete o “preço” do Ibovespa acrescido da taxa de juros do período. Contudo, temos visto movimento oposto: na última quinta-feira (22), o Ibovespa “à vista” fechou a 51.398 pontos, enquanto o contrato do Ibovespa Futuro ficou em 50.950 pontos.

Esse descolamento ficou mais aparente na quarta-feira passada, a dois dias do vencimento do contrato futuro do índice de agosto, que operava sob o código INDQ13. Com a rolagem do contrato para outubro essa diferença aumentou ainda mais, disse Luis Gustavo Pereira, estrategista da Futura Corretora. Mas o que tem provocado essa distorção? A resposta é simples: o esgotamento das posições vendidas no mercado à vista, o que tem feito os investidores buscarem o mercado futuro para se posicionarem apostando na queda da bolsa.

Conforme explica Pereira, o investidor que acredita em uma tendência de baixa no mercado poderia ficar “vendido” em ações – ou seja, tomaria a ação alugada no BTC (Banco de Título) para vendê-la hoje e recomprá-la no futuro a um preço mais baixo – e “comprado” em Ibovespa Futuro. No momento atual, essa operação praticamente teria “risco zero” – o que no mercado é chamado de arbitragem -, já que se a tendência é o Ibovespa Futuro voltar a valer mais que o Ibovespa “spot”, os dois possíveis cenários resultariam em lucro para o investidor: ou o INDV13 subiria mais que IBOV, ou INDV13 cairia menos que o IBOV. No primeiro cenário, a alta do INDV13 superaria as perdas com IBOV – já que você estaria vendido no mercado à vista -, enquanto no 2º cenário os ganhos com a queda do IBOV seria maior do que as perdas com INDV13. 

Não perca a oportunidade!

Se não conseguimos vender, vamos comprar
Entretanto, segundo o estrategista, muitos papéis da Bovespa estão “em falta” no banco de aluguéis, o que dificulta não só a montagem destas operações – tendo em vista a falta de liquidez – como também encarece o processo, já que a taxa de aluguel cobrada no mercado acompanha a lei da oferta e da procura. Ou seja, à medida que a quantidade disponível de uma ação a ser alugada diminui e ao mesmo tempo aumenta a demanda de investidores que querem “tomar” este papel emprestado, a taxa cobrada naturalmente subirá, tornando a operação financeiramente inviável.

O mercado de “empréstimo” de ações tem ganhado muita força em 2013, com a descrença com a bolsa brasileira levando investidores a aumentarem suas apostas na queda do mercado. Nos últimos 6 meses, o volume movimentado pelo aluguel de ações cresceu 30% em relação a igual período de 2012, atingindo R$ 505,2 bilhões. No mesmo período, o Ibovespa caiu 19,3%, indo de 59.761 para 48.234 pontos.

Diante desses entraves para operar na ponta vendedora, o que vimos nas últimas semanas foi um movimento de “zeragem” nas posições vendidas de Ibovespa Futuro por parte dos investidores estrangeiros, que possuem maciça participação no mercado brasileiro, explica Pereira. Do final de julho até 22 de agosto, o saldo de estrangeiros em Ibovespa Futuro – isto é, a diferença entre posições compradas e posições vendidas no contrato do índice – passou de 165,6 mil contratos negativos para 5,1 mil contratos positivos.

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“Os estrangeiros costumam se mover muito mais rápido que os demais. A visão é que os emergentes já atingiram o limite de queda e agora eles estão retornando ao mercado brasileiro. Entretanto, os demais participantes do mercado ainda seguem mais descrentes com a recuperação da bolsa”, disse o operador de um grande banco de investimentos, que pediu para não ser identificado.

O próprio fluxo no mercado futuro mostra essa agilidade dos gringos: enquanto eles inverteram de “vendidos” para “comprados”, as instituições financeiras saíram de saldo positivo de 58.425 contratos em 1 de agosto para negativo em 36.770 contratos. Os investidores institucionais – como fundos de investimentos e carteiras administradas – reduziram o saldo positivo 36.450 para 33.588 contratos no mesmo período.