Desvendando as perdas: os 5 maiores prejuízos do 1° tri não explicados pelo dólar

Das 20 empresas que mais tiveram perdas nos resultados do 1° trimestre, 15 tiveram esse rombo explicado pela alta dívida atrelada ao dólar; mas e quanto às outras 5?

Paula Barra

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SÃO PAULO – O enfraquecimento da economia foi sentido no resultado das empresas no 1º trimestre deste ano. Segundo levantamento recente da Economática, o lucro líquido das empresas listadas na Bovespa nos primeiros três meses de 2015 apresentou queda de R$ 18,2 bilhões na comparação com o mesmo período do ano passado, o que representa um recuo de 41,4% no período. O número é duramente inflado pela Vale (VALE3; VALE5): sem ela, a queda é de apenas 7,41% – ou R$ 2,8 bilhões.

A mineradora registrou um prejuízo líquido de R$ 9,538 bilhões entre janeiro e março, explicado em função dos baixos preços do minério de ferro e da alta do dólar, o que impactou diretamente seu endividamento atrelado à moeda americana. Nos três primeiros meses de 2015, a moeda chegou a acumular apreciação de 18%.

Mas não foi só ela que sofreu com a desvalorização do real: dos 20 maiores prejuízos do trimestre, 15 foram de empresas cujo endividamento é atrelado ao dólar: as empresas de papel e celulose Suzano (SUZB5), Klabin (KLBN11) e Fibria (FIBR3), os frigoríficos Minerva (BEEF3) e Marfrig (MRFG3), Usiminas (USIM5), Oi (OIBR4), Gol (GOLL4), as empresas do setor de shoppings centers BR Malls (BRML3) e General Shopping (GSHP3), a fabricante de armas Forjas Taurus (FJTA4) e Fertilizantes Heringer (FHER3). 

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Faltou explicar o prejuízo de 5 empresas presentes neste “Top 20”. É aí que a história fica mais interessante: dentre as companhias restantes aparecem alguns nomes pouco comentados e que talvez pouca gente soubesse que tinha ações listadas na Bolsa. É o caso da Cobrasma (CBMA4), produtora de material ferroviário que possui baixíssima liquidez na Bovespa, mas que registrou o 12° maior prejuízo entre as 317 analisadas pela Economática no primeiro trimestre.

Veja a lista dos prejuízos “fora do radar” da Bovespa:

1°) Cobrasma
Antiga produtora de material ferroviário, a Cobrasma viu seu prejuízo líquido aumentar em 2015. Com ações valendo atuais quatro centavos, a companhia registrou prejuízo de R$ 200,5 milhões neste trimestre, mais de R$ 25,8 milhões do apresentado no mesmo período do ano passado.

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O motivo é porque a companhia paralisou suas atividades em 1998, embora siga listada na Bovespa, em meio à fortes dificuldades financeiras. Inundada em dívidas, a companhia agora não tem mais condições de gerar recursos suficientes para a liquidação de obrigações financeiras com seus credores, os mesmos que estão discutindo judicialmente os valores que tem a receber. No balanço, a companhia mostra financiamentos e empréstimos registrados no exigível a longo prazo que somam R$ 4,4 bilhões vencidos e que vêm sendo calculados a juros de 1% a 1,5%  ao mês, mais a atualização monetária com base na taxa referencial.  

As ações da companhia, que continuam listada na Bolsa, têm liquidez extremamente reduzida no mercado. Seus papéis chegaram a bater R$ 0,01 em abril, mês que teve giro em Bolsa em apenas seis pregões. As atividades da companhia foram paralisadas em maio de 1998. 

2°) MMX Mineração
Atolada em dívidas e em recuperação judicial, a MMX Mineração, controlada pelo empresário Eike Batista, apresentou prejuízo de R$ 263 milhões no primeiro trimestre deste ano – o 10° maior da Bovespa -, frente ao prejuízo de R$ 176 milhões no quarto trimestre de 2014

Segundo o balanço, o resultado foi fundamentalmente consequência da provisão de “take or pay” da MRS de R$ 177 milhões no primeiro trimestre, além da paralisação de vendas. As atividades da empresa permaneceram paralisadas no 1° trimestre em função de restrições operacionais impostas pelo órgão ambiental do Estado de Minas Gerais, bem como pelas desfavoráveis condições do mercado de minério de ferro. 

3°) BicBanco
O BicBanco registrou prejuízo líquido de R$ 177,8 milhões no período, refletindo principalmente as despesas com PDD (provisões para devedores duvidosos), que foi de R$ 335,4 milhões, ante R$ 63,1 milhões no mesmo período de 2014.

Segundo o banco, as oscilações no saldo das despesas de PDD nos trimestres reportados estão diretamente associadas a um conjunto de disposições adotadas pelo novo controlador a partir de setembro de 2014, objetivando alinhar a política interna de classificação de clientes e atribuição de ratings às práticas da matriz.

Vale lembrar que o banco está envolvido em um processo de OPA (Oferta Pública de Aquisição) feito pelo CCB (Banco de Construção da China), em outubro de 2013. Hoje, saíram notícias de que os chineses tentam fechar um acordo com os antigos controladores e com os acionistas minoritários para reduzir o valor final da transação, fechada há quase dois anos por R$ 1,6 bilhão. O valor representa 72% do capital da instituição. 

4°) PDG Realty
A incorporadora PDG viu seu lucro líquido se reverter em prejuízo líquido de R$ 161,7 milhões no primeiro trimestre deste ano. Segundo a companhia, o resultado foi impactado, principalmente, pelos descontos da campanha promocional e pela piora do resultado financeiro, por conta da redução de 41% nos juros capitalizados ao estoque, além da alta nos juros de empréstimos.

Em março, a companhia realizou a companha de vendas “Na Ponta do Lápis”, que atingiu R$ 389 milhões em vendas, representando 1.500 unidades. 

5°) Brookfield
A Brookfield encerra a lista dos maiores prejuízos da Bolsa. A incorporadora informou em maio seu sexto prejuízo trimestral consecutivo, pressionado por lançamentos e vendas menores entre janeiro e março e cancelamentos novamente mais altos. 

A companhia, cuja controladora está preparando uma OPA (Oferta Pública de Aquisição) para tirá-la do Novo Mercado, teve um prejuízo de R$ 74,8 milhões no primeiro trimestre, ante resultado negativo de R$ 47,7 milhões um ano antes. 

Confira a lista dos maiores prejuízos da Bolsa no 1° trimestre:

Empresa Ticker Setor Prejuízo Líquido (em R$ mil)
1° tri
2015
1° tri
2014
Variação
(em R$)
 Vale VALE3/ VALE5  Mineração -9.538.426 +5.908.759 -15.447.185
 Suzano SUZB5 Papel e celulose -762.459 201.045 -963.504
 Klabin KLBN11 Papel e celulose -728.566 607.174 -728.566
 Gol GOLL4 Aviação -704.556 -131.195 -573.361
 Minerva BEEF3 Frigoríficos -587.334 68.914 -656.248
 Marfrig MRFG3 Frigoríficos -570.906 -96.415 -474.491
 Fibria FIBR3 Papel e celulose -569.360 17.069 -586.429
 Bradespar BRAP4 Holding* -569.241 332.388  -901.629
 Oi OIBR4 Telecomunicação  -401.317 227.513 -628.830
 MMX Mineração MMXM3 Mineração -262.976 -69.206 -193.770
 Usiminas USIM5 Siderúrgica -247.460 184.614 -432.074
 Cobrasma CBMA4 Veículos e peças -200.452 -174.620 -25.832
 Embraer EMBR3 Indústria aérea -196.127  258.701 -454.828
General Shopping GSHP3 Shoppings -193.204 12.955 -206.159
BicBanco BICB4 Bancos -177.770 505 -178.275
PDG Realty PDGR3 Construção civil -161.651 2.753 -164.404
Forjas Taurus FJTA4 Indústria -149.893 -4.540 -145.353
Fertilizantes Heringer FHER3 Química -142.902 32.109 -175.011
Brookfield BISA3 Construção Civil -138.295 -74.812 -63.483
BR Malls BRML3 Shoppings -132.706 53.751 -186.457
*Bradespar é uma holding que possui participação na Vale.
Fonte: Economática