De onde vem tanto dólar?

<div class="select">Por Emílio Garofalo Filho</div> Exportadores e importadores aprenderam a operar a arbitragem de juros, já que juros do dólar são bem menores que quaisquer juros praticados no Brasil

Emílio Garofalo Filho

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O quadro abaixo, se não responde integralmente a questão do título, nos dá uma boa pista de onde vem a superoferta de moeda estrangeira que observamos no Brasil, causa do achatamento cada vez maior da taxa de câmbio.

Nosso quadro, referente ao comércio exterior brasileiro, mostra o resultado da comparação Caixa x Físico, considerando:

Comércio exterior brasileiro

Relação Caixa x Físico, em US$ milhões, de acordo com dados do Banco Central.

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Acumulado 12 meses Export* Import** Saldo
Até dezembro 2003 0 -3.478 3.478
Até dezembro 2004 -3.212 -6.042 -2.830
Até dezembro 2005 4.491 -2.352 6.844
Até dezembro 2006 6.569 -4.573 11.342
Até outubro 2007 25.265 -11.125 36.390

*Export: saldo positivo significa fechamento de câmbio maior que embarque (oferta adicional de moeda no mercado).
**Import: saldo negativo significa fechamento de câmbio menor que valores de mercadorias desembarcadas (frustração de demanda em mercado).

Como se observa, em 2003 os exportadores criaram um empate entre os valores de câmbio fechado e os valores das mercadorias embarcadas. Os importadores naquele ano, no entanto, fecharam câmbio por US$ 3,5 bilhões a menos do que importaram de fato, valendo-se evidentemente de financiamentos externos.

“Solução é reduzir o juro no Brasil, para desestimular a arbitragem”

No ano seguinte, 2004, provavelmente irritados com a queda na taxa – da qual teriam saudade nos anos seguintes – os exportadores fecharam menos câmbio do que efetivamente exportaram. Como os importadores aumentaram a parcela financiada em relação a 2003, o saldo teve uma leve redução.

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E a partir daí só cresceu o gap entre câmbio fechado e mercadoria desembaraçada, tanto na exportação quanto na importação. A ponto de observarmos nos últimos dados divulgados pelo BC, relativos a outubro último, que em 12 meses (nov/06 a out/07) os exportadores estão com um fechamento de câmbio que supera em US$ 25,2 bilhões os embarques efetivos. Os importadores, com US$ 11,1 bilhões de diferença, estão buscando crescentemente financiamentos externos e evitando comprar câmbio.

Com isso, a sobra de mercado, que era inferior a US$ 3 bilhões em 2004, está agora em US$ 36,4 bilhões. Doze vezes maior em apenas 3 anos.

Em resumo, exportadores dão seguidos tiros nos pés procurando antecipar a venda de câmbio e importadores se ajudam deixando para comprar depois. Mas não se pode negar que o quadro mostra que ambos – exportadores e importadores – aprenderam a operar a arbitragem de juros, já que juros do dólar são bem menores que quaisquer juros praticados no Brasil. E que, ao cabo, nenhum dos dois acredita (de verdade) em desvalorização do real no curto prazo.

Observe ainda que o quadro acima não considera a grande diferença de balança comercial, da ordem de US$ 40 bilhões/ano. Neste caso, apenas comparamos cada lado da balança consigo mesmo, diferenciando o que foi realmente desembaraçado do que foi câmbio fechado.

Como resolver isso? Claro, com redução de juros no Brasil para desestimular a arbitragem, o que deve demorar algum tempo ainda, a julgar pelo nosso Copom.

No curto prazo, parece razoável a proposta encaminhada pela Fiesp de criar financiamento de comércio exterior em reais, a custos compatíveis com os internacionais, utilizando recursos do FAT e do compulsório não remunerado dos bancos.

Não seria a solução definitiva, mas poderia dar um bom intervalo para respiro, enquanto o BC não acha um jeito de baixar os juros no Brasil.

Ex-diretor do Banco Central e comentarista diário no portal da Intra Corretora, Emílio Garofalo Filho escreve mensalmente na InfoMoney, às terças-feiras.
emilio.garofalo@infomoney.com.br