De olho no abismo fiscal: ações reagirão fortemente na 1ª semana de 2013

Negociações podem continuar no início de janeiro e possível acordo pode fazer com que bolsa dispare

Felipe Moreno

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SÃO PAULO – Os Estados Unidos são considerados a maior potência mundial. Por isso, nada preocupa mais a economia do globo do que um evento que pode fazer com que os EUA desabe: o temido abismo fiscal – aumentos automáticos de impostos, combinados com cortes de gastos por parte do governo que devem ocorrer no 1º dia de janeiro.

A perspectiva é que esse evento faça com que os EUA entre em recessão se não for evitado. O evento, em si, ocorre na semana que vem, com dois resultados possíveis: ou se evita o abismo, através de um acordo entre as principais lideranças políticas do país, ou se passa pelo evento – embora ainda seja possível que haja uma espécie de acordo para evitar os piores efeitos. Seja o que acontecer, a bolsa nacional deve reagir com força: seja para cima, quanto para baixo. 

Entenda a crise
O próprio presidente do país, Barack Obama, tem se esforçado para garantir que o congresso apoie seu plano de extensão dos cortes de impostos da era de George W. Bush apenas para as famílias pobres e de classe média, que ganham menos de US$ 250 mil por ano. O opocisionista partido republicano, representado por John Boehner, presidente da Câmara dos Deputados, quer que esse benefício atinja toda a população – e não apenas os mais necessitados.

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O senado, liderado pelo democrata Harry Reid, apoia Obama, mas se encontra tão fragmentado quanto a casa baixa do congrresso. O panorama político permanece praticamente inalterado desde as eleições: época na qual, prometia-se um acordo para evitar o abismo até, no máximo o natal – data limite que não foi cumprida pelos políticos do país. Agora, pedem por mini-acordos. 

Há uma necessidade brutal de ajustar o orçamento norte-americano: o país arrecada U$ 2,17 trilhões por ano, gasta U$ 3,82 trilhões e cria uma dívida anualmente de US$ 1,65 trilhão. Atualmente a cifra total fica em US$ 14,27 trilhões, mais de 7 vezes o orçamento anual. Ao mesmo tempo, os cortes recentes não surtiram efeito: cortou-se apenas US$ 38,5 bilhões.

Falta de acordo é o novo Lehman Brothers?
Para muitos, a perspectiva de uma falta de acordo pode garantir um início de 2013 amargo. “É uma questão muito importante, o mercado tende a sofrer bastante e se o abismo ocorrer mesmo, acredito que deveremos ter uma forte pressão vendedora”, afirma Luis Gustavo Pereira, estrategista da Futura Corretora.

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Assim como em 2008 com o pedido de concordata do banco norte-americano Lehman Brothers, Pereira acredita que é capaz que a bolsa acione o “circuit breaker” (quando as negociações na Bovespa são interrompidas após o Ibovespa ter queda superior a 10% em uma única sessão) algumas vezes nos pregões subsequentes.

Pedro Amaro, economista da PAX Corretora, não concorda com a afirmação, mas acredita que a queda pode ser bastante forte no Ibovespa – entre 6 a 9%. “O mercado pode reagir muito feio na quarta-feira se isso não se resolver até lá, no momento, não está se precificando isso”, destaca. Como muitas vozes do mercado, Amaro acredita que a questão se resolverá até a data limite – já que o congresso deve se reunir até no domingo para tratar do assunto.  

A não resolução, porém, é algo que pode ocorrer. “E isso pode causar um efeito muito grave no PIB (Produto Interno Bruto), uma freada muito forte. Não acredito que eles vão deixar isso acontecer, o preço político a ser pago é muito alto, mas a democracia tem isso às vezes”, diz o economista.

Ele destaca que o perigo vem se alastrando desde agosto de 2011, quando o congresso estava para votar uma elevação do teto da dívida norte-americana. Naquela época, havia a perspectiva de que o país não pagaria suas dívidas – o que levou ao rebaixamento da nota de crédito norte-americana pela Standard & Poor’s. Por não conseguirem definir quais gastos deveriam ser cortados, democratas e republicanos concordaram: caso um acordo não for alcançado até janeiro de 2013, cortes automáticos seriam realizados. 

Data limite em março
O limite da dívida norte-americana é ponto chave nessa crise, como fora em agosto de 2011. O teto precisava do abismo para ser elevado, mas Timothy Geithner, secretário do Tesouro, enviou uma carta ao Congresso avisando que o país atingirá o teto da dívida na noite de ano novo. Para evitar um calote, ele tomará medidas extraordinárias, o que deve dar uma folga de US$ 200 bilhões ao país.

Essa quantia deve garantir que o país tenha sobrevida até o mês de março, sem precisar de ajustes mais drásticos. Em relatório, o JP Morgan diz que isso pode ser positivo. “Violar a data de 31 de dezembro não vai ser um desastre, desde que se tenha algum progresso aparente até o dia 7 de janeiro”, afirma Adam Crisafulli, analista do banco norte-americano. 

De fato, eles acreditam que é mais provável que esse maior tempo remova dois obstáculos: tecnicamente, em 2013, os republicanos não estarão mais “elevando impostos” – uma fama que não pega bem com seus eleitores – o que garante que um acordo seja mais palatável. Além disso, os deputados votam no presidente da câmara no dia 3 – e uma reeleição de John Boehner pode fazer com que o republicano possa agir com mais agressividade.

Para o JP, é importante que ocorra duas coisas para que a crise seja “desarmada”: primeiro, até o dia 7, o congresso precisa concordar em cortar os impostos para as famílias com renda anual menor de US$ 250 mil – e com isso, elimina-se metade do abismo. Segundo, o teto da dívida precisa ser elevado até o final de janeiro, ou os EUA vão enfrentar um novo rebaixamento por parte das agências de rating.

Acordo é foguete?
A última alternativa é a solução da crise fiscal, através de um acordo. Como a data-limite não é mais, o mais provável é que as negociações se arrastem. “Não me surpreenderia se a negociação se estendesse até o início de janeiro”, disse Mitsuko Kaduoka, diretora de análise de investimentos da Indusval & Partners Corretora.

Ela acredita que o mercado, no início do ano pode ter um pouco de realização, já que ainda deve haver briga no mercado. “Mas se houver a expectativa de que o congresso esteja mais maleável, talvez não sofra muito, é só no caso de houver uma quebra de negociação que pode haver uma queda mais acentuada”, avisa a diretora. 

Mitsuko destaca: passado o abismo, passa-se uma das últimas amarras que a bolsa poderia ter este ano. “Eu tenho a impressão que 2013 vai ser melhor 2012, com a aliviada nos EUA, a bolsa deve ir para cima, os resultados devem acelerar”, acredita.

A opinião dela condiz com a de Ralph Acampora, diretor sênior da Altaira Investment Solutions. “Se tiver alguma forma de acordo, ele vai fazer com que as ações subam como um foguete“, afirma o gestor em entrevista à agência norte-americana CNBC. Ele também não acredita em uma solução definitiva até a data limite, mas ressalta: a alta virá no longo prazo.