De mercearia a banco de investimentos, os 158 anos de vida do Lehman Brothers

O começo com os três irmãos no Alabama e a trajetória do banco que conta a história da economia norte-americana

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SÃO SÃO PAULO – No aniversário de sua extinção, o Lehman Brothers fica para os mercados como a imagem que disseminou o pânico da última crise, o exemplo maior de um gigante de joelhos diante da devastação do sistema econômico.

Mas longe desta imagem negativa, a trajetória do Lehman conta a história da ascensão econômica norte-americana. Afinal, foram mais de 150 anos de vida.

Três irmãos

Henry Lehman desembarcou nos Estados Unidos em 1844, vindo da Alemanha para a cidade de Montgomery, no Alabama. Por lá criou um pequeno armazém, que vendia desde ferramentas a alimentos e utensílios para os fazendeiros locais. Para a história, fica o ano de 1950, quando seus irmãos Mayer e Emanuel se juntam ao negócio, formando o Lehman Brothers.

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Henry viria a falecer cinco anos depois, deixando tudo nas mãos dos irmãos recém chegados. O interessante é que, daí até a década de 1920, Mayer e Emanuel só aceitavam familiares no negócio, somente Lehman’s.

As características da região deram o pontapé inicial para a loja se tornar instituição financeira. Cercada por produtores de algodão, a Lehman logo em seus primeiros anos passou a negociar algodão na região, chegando a adotar o apelido de “King Cotton” – por dominar o comércio da commodity no sul dos Estados Unidos.

Mayer Lehman e Emanuel Lehman
1867

As bolsas de mercadorias

Por sua vez, o contato com Wall Street chegou apenas em 1958, quando a King Cottom abriu uma filial em Nova York. Com a chegada da guerra civil, os Lehmans passaram a concentrar seus negócios nesta filial. Em 1870, o Lehman Brothers encabeçou a formação da New York Cotton Exchange, primeira bolsa de futuros.

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Depois desse passo inicial, os irmãos viriam a ajudar na formação da Coffee Exchange e da Petroleum Exchange. Nesta mesma época, a instituição, pelos contatos em Nova York, já era responsável por negociar os títulos de dívida do estado do Alabama.

Do boom das railways a Wall Street

Com o boom das railways, os Estados Unidos passaram a migrar de economia agrária a industrial. A necessidade das companhias ferroviárias de levantar capital levou diversas delas ao mercado financeiro em busca de recursos. Com a atividade intensa em Wall Street, os irmãos Lehman passaram a mexer com serviços financeiros mais variados, expandindo seu foco anterior na negociação de commodities e começando a assegurar os títulos dessas companhias. O evento é tido como marco de entrada do Lehman Brothers em Wall Street, que, em 1887, se tornou membro da Nyse (New York Stock Exchange).

O varejo, o petróleo e Hollywood

A partir de 1906, os Lehmans se aventuraram em outro ramo de atividade. Em sociedade com Henry Goldman, controlador do Goldman Sachs, financiaram o desenvolvimento do segmento varejista norte-americano. Entre as firmas que passaram por este fundo, destaque para Sears e Macy’s, entre outras.

O foco neste “novo” setor partia de um pressuposto básico que o Lehman Brothers assumiu a época, de que o consumo, não a produção, determinaria a prosperidade da economia norte-americana no futuro.

Em seguida, a década de 1920 foi marcada pelo investimento na indústria do entretenimento. O Lehman Brothers concentrou os recursos para a fundação da rádio Radio-Keith-Orpheum e dos estúdios Paramount Pictures e 20th Century Fox.

Nesta fase, a indústria petrolífera começou a se destacar. A instituição participou dos fundos de financiamento da Murphy Oil e da construção do oleoduto TrasCanadense.

A tecnologia

Depois da década de 1950, o surgimento da eletrônica e o desenvolvimento da tecnologia computacional atraíram a atenção do banco. Com o processo de internacionalização das companhias norte-americanas, o Lehman seguiu os passos e ampliou sua presença global, com filiais na Ásia e Europa. Neste período, a instituição recebeu o selo de negociante oficial de Treasuries.

Após o processo de internacionalização, a década de 1980 trouxe uma onda de fusões e aquisições. Também com participação ativa nesta fase, o Lehman se destaca por assessorar o desenvolvimento de companhias como a fabricante de microchips Intel.

Loja da Lehman Durr & Company, 1874
Prédio do Lehman em Manhattan, 2006

Fusão e o fim

A mesma década inclui ao nome da Lehman a American Express. Pela onda de fusões e aquisições, as duas instituições integraram suas atividades, levando o nome da corretora Shearson a formar a Shearson Lehman Brothers. A associação se manteve até 1993, quando o Lehman Brothers voltou a ser somente Lehman Brothers.

A tragédia do Lehman assistiu uma prévia no atentado de 11 de setembro de 2001. Já com 151 anos de idade, o banco teve seus escritórios destruídos pelo atentado terrorista ao World Trade Center. A partir daí, mudou-se em 2002 para outra edificação em Manhattan.

Depois desta mudança, o Lehman entrou na bolha do setor imobiliário norte-americano, com elevada participação em hipotecas de alto risco – os subprimes. A manobra acabaria por levar a instituição fundada em 1844 ao abismo. Em 15 de setembro de 2008, o Lehman entrou com pedido de falência – no capítulo 11 da legislação norte-americana -, tendo seu capital diluído entre diversas outras firmas, como a britânica Barclays e a japonesa Nomura.

*créditos da imagem e fonte de pesquisa: Baker Library – Harvard Business School