Dados dos EUA pesam na Bolsa brasileira no início do ano, mas não alteram otimismo

Bolsas vêm acumulando quedas, ou ao menos andando de lado, no começo de 2024 por conta de perspectivas quanto a corte de juros nos EUA

Vitor Azevedo

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Após o ano passado ter sido marcante para benchmarks brasileiros e americanos, 2024 começou com queda e lateralidade, seguindo principalmente a perspectiva de que o início de um ciclo de baixa dos juros nos Estados Unidos pode não começar imediatamente. No acumulado do ano até a última terça-feira (9), a baixa do Ibovespa é de 2,04%, depois de um salto de 22,8% do índice no ano passado. No entanto, apesar de investidores se posicionarem de forma cautelosa no momento, as visões para os médio e longo prazo continuam positivas. 

Na semana passada, dados como a pesquisa ADP do setor de emprego e o Payroll, nos Estados Unidos, levantaram temores de que o primeiro corte de juros imposto pelo Federal Reserve não sairá na reunião de março. O ADP trouxe que houve a criação de 164 mil vagas nos Estados Unidos em dezembro, acima das 115 mil esperadas. Já o Payroll, principal publicação do país quando o assunto é mercado de trabalho, trouxe que 216 mil vagas foram criadas, sendo que o consenso era de 170 mil. 

A recepção após as publicações foi que a geração forte de vagas de trabalho na maior economia do mundo reduz a chance de juro menor no primeiro trimestre.

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Fora isso, especialistas também apontam que o mercado aguarda a publicação do índice de inflação ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) norte-americano, marcado para sair na próxima sexta, bem como o IPCA (índice de preços ao consumidor amplo) brasileiro, que o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulga na quinta-feira. 

“No Brasil, a desaceleração já é observada há mais tempo e está em linha com as expectativas. Apesar de no final do ano, o IPCA-15 ter vindo acima do esperado, a inflação de serviços se mostrou um pouco mais resiliente, com os núcleos do Banco Central em linha com que se previa.”, diz Leandro Ormond, analista da Aware Investments. 

Atenção com dados americanos

“As atenções se voltam principalmente para os índices norte-americanos. Apesar de, aos poucos, os índices de inflação demonstrarem uma desaceleração, os dados mais fortes de mercado de trabalho indicaram que a economia americana segue forte. Isso pode acarretar uma manutenção de juros elevados nos EUA por mais tempo”, acrescenta Ormond.

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Os treasuries yields, os rendimentos pagos pelos títulos da dívida pública americana, responderam. As taxas dos para dez anos no primeiro pregão do ano eram negociadas a cerca de 3,94% e, agora estão em 4,02%. Quando os rendimentos dos títulos públicos americanos sobem, cria-se um fluxo de capital para o país, com investidores buscando os ativos – e tirando, na maior parte das vezes, dinheiro de ativos de risco, principalmente de países emergentes. 

Ormond ainda relembra que a ata do Fomc (Comitê Federal de Mercado Aberto, na sigla em inglês), publicada também na última semana, foi mais dura do que o esperado. 

Os membros do Comitê de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) concordaram que deveriam reconhecer o abrandamento da atividade econômica, após o crescimento em ritmo forte no terceiro trimestre, na sua declaração pós-reunião de política monetária. No entanto, eles também pontuaram na ata que apesar de a inflação nos Estados Unidos ter diminuído de fato ao longo do ano passado, ela permanece elevada.

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Na última segunda, a diretora do Fed Michelle Bowman ainda disse que  o patamar de juro atual, entre 5,25% e 5,50% é suficiente para levar a inflação para a meta, mas que é cedo para cortes. Ela também mencionou que estaria disposta a votar por uma alta de juros caso o progresso contra a inflação entre em uma fase de estagnação. É nesse contexto que os dados macroeconômicos desta semana serão divulgados.

Peso maior no curto prazo

“Como no Brasil já foi dado que os cortes serão de meio por cento, a expectativa, mesmo para o Ibovespa, agora está lá fora. O mercado quer entender quando os cortes vão acontecer e qual será o nível dos cortes”, debate Gustavo Biserra, analista da Nova Futura Investimentos. 

“Se os dados virem dentro da expectativa, não surpreenderá se o Ibovespa alcançar um novo topo histórico. No entanto, se vierem como os da última semana, acima do esperado, devemos ver mais um período de consolidação ou até mesmo uma realização”, acrescenta. 

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De qualquer forma, no entanto, as expectativas para os especialistas no médio e longo prazos continuam otimistas.

“Continuo vendo uma tendência de alta”, fala Biserra. “Quando olhamos para o médio e longo prazo, entendemos que os níveis restritivos de juros não poderão se manter elevados por muito mais tempo do que o necessário, para não comprometer o crescimento econômico, gerando assim oportunidades para uma alta no médio e longo prazo”, defende Ormond. 

O consenso do mercado para o Ibovespa em 2024, de qualquer forma, vê o índice ficando em 140 mil pontos, nas visões mais conservadores, e em 160 mil nas mais otimistas.