Dados de varejo de junho decepcionam, mas o que isso indica para as ações do setor?

Apesar do dado mais fraco, analistas da XP seguem esperando forte desempenho do varejo à frente, com vacinação e retomada das atividades econômicas

Lara Rizério

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SÃO PAULO – As vendas do varejo de junho tiveram um desempenho bastante decepcionante, ao caírem 1,7% ante maio, bem abaixo da expectativa de alta de 0,7% do consenso Refinitiv.  As vendas do varejo ampliado (que trazem dados de veículos e material de construção), por sua vez, tiveram baixa de 2,3%, ante estimativa do consenso de queda de 1,7%.

O Bradesco BBI aponta que os dados negativos se materializaram em categorias importantes, em nítido contraste com o bom desempenho geral até maio. Entre eles, segmentos de supermercados, roupas e outros produtos pessoais.

Para os analistas do banco, os números ficaram mais fracos do que o esperado na margem e parecem estar perdendo fôlego diante do fim do efeito de base relativamente mais fraca na comparação anual, uma vez que 2020 houve uma forte queda da atividade, principalmente entre os meses de abril e maio.

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O fim próximo dos pagamentos do auxilio emergencial, as taxas de juros mais altas e o desemprego ainda alto contribuem para uma falta de forte impulso para o varejo nos próximos meses. A inflação ao consumidor também continua prejudicando a renda real. “Este é o primeiro indicador crítico que mostra alguma fadiga nos bons números de atividades vistos recentemente”, avaliam.

Já a XP aponta que, apesar da surpresa negativa, espera uma trajetória de crescimento moderado do setor nos próximos meses. No varejo ampliado, a expectativa da casa era de queda de 1,6% na comparação mensal, com a diferença ante o dado do IBGE vindo principalmente dos dados mais fracos das categorias “tecidos, vestuário e calçados” (que caíram 3,6%) e “supermercados, alimentos e bebidas” (que caíram 0,5%).

Porém, em relatório, Danniela Eiger, Thiago Suedt e Gustavo Senday, analistas de varejo da XP, destacaram que a categoria de vestuário teve alta de 61,8% na base anual, enquanto os artigos farmacêuticos subiram 0,4% frente maio e avançaram 13,1% na comparação ano a ano, sendo os destaques positivos dentro do segmento de cobertura.

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Eles ponderam que o número foi beneficiado pela fraca base de comparação de 2020, quando as lojas de rua e shoppings ainda enfrentavam restrições de funcionamento. Por outro lado, as vendas dos segmentos de móveis e eletrodomésticos e supermercados e hipermercados tiveram uma leve queda (de 5% e 3% na base anual, respectivamente), o que é explicado principalmente pela base forte de comparação do mesmo período de 2020, afirmam os analistas.

De um modo geral, os analistas apontam continuarem esperando um forte desempenho do varejo à frente, dado o avanço da vacinação, retomada das atividades econômicas e recuperação do mercado de trabalho no país, mostrando maior otimismo em relação à análise do BBI.

Danniela, Suedt e Senday reforçaram a visão construtiva com a categoria de vestuário e calçados, destacando que ela deve ser uma das principais beneficiárias do movimento de reabertura e retomada da economia.

“Além disso, a demanda reprimida por roupas e a tendência de ‘compras por vingança’, já observada no exterior devem beneficiar a recuperação do setor ao longo dos próximos trimestres, com sinalização das companhias que já reportaram resultados de que as vendas de julho já estão acima dos níveis de 2019”, apontam.

A XP ressalta a C&A (CEAB3): a varejista apresentou números fracos no segundo trimestre de 2021, ainda bastante impactada pela pandemia.

Contudo, o segundo semestre já teve indicativos positivos com dados de vendas preliminares de julho de 2021 crescendo 14% em relação a 2019 e com a companhia otimista em relação aos resultados do segundo semestre, em especial do quarto trimestre de 2021 com as festas de final de ano. As preferências da XP no setor, contudo, são Arezzo (ARZZ3) e Vivara (VIVA3).

Já olhando para o setor de supermercados, os analistas veem a exposição ao setor como uma opção interessante para se proteger da alta da inflação, sendo que a preferência deles é pelo segmento de atacarejo.

O atacarejo se beneficia da recuperação da demanda de pequenas empresas/negócios (como bares, restaurantes e transformadores) e deve capturar a mudança de canal dos consumidores, que buscarão por uma opção de melhor custo/benefício frente ao aumento de inflação e restrição de renda. A preferência dos analistas no setor é o Assaí (ASAI3).

Já a sólida e contínua performance de artigos farmacêuticos reforça a resiliência do setor, na visão dos analistas. A expectativa é de manutenção do cenário  no curto prazo, enquanto o reajuste dos preços de medicamentos representa um “risco positivo” para os resultados do setor.

Cabe ressaltar que, assim como a C&A, a rede de farmácias RD (RADL3) divulgou seus resultados do segundo trimestre na noite da véspera, com números considerados positivos, com um lucro líquido de R$ 266 milhões (ante projeção da XP de R$ 209 milhões), beneficiado por créditos fiscais não recorrentes de R$ 58 milhões.

“A forte performance de vendas mesmas lojas de 26% no ano, beneficiadas pela fraca base de comparação e pelo reajuste de preços de medicamentos, ganhos de participação de mercado em todas as regiões e as margens de rentabilidade sólidas foram os principais destaques”, destacaram os analistas.

A rede de farmácias ainda teve expansão de margens apesar dos investimentos na construção de sua plataforma de saúde. Contudo, a preferência da XP no setor é a Pague Menos (PGMN3).

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.