Crise “política, econômica e moral” criou uma boa oportunidade para o Brasil, diz Financial Times

"O Brasil precisa de um renascimento político e econômico. A crise torna isso necessário", diz o texto

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Apesar de alguma melhora nos dados recentes, é inegável que o Brasil passa por uma forte crise econômica e política. Na última terça-feira (8) o colunista Martin Wolf, do Financial Times, também incluiu nesta pequena lista a crise moral do País. Ele afirma que a avaliação não é sua, mas que é difícil argumentar contra isso.

O autor lembra da grande recessão, com o rendimento per capita caindo 9% entre 2013 e 2016, com uma situação fiscal caótica e mais: com vários escândalos de corrupção envolvendo a elite política e os principais empresários do País. De acordo com o texto, especialistas temem que isso possa levar a uma extrema polarização da política. “No entanto, uma crise também pode levar a mudanças e o Brasil deve aproveitar essa oportunidade”, diz Wolf.

Segundo o texto, “não se deve exagerar na escuridão”. Ele lembra que a expectativa de vida do brasileiro aumentou de 60 anos em 1970 para 74 em 2017, enquanto a taxa de fertilidade caiu de cinco filhos por mulher para apenas 1,7. “A energia do judiciário na Lava Jato com as investigações sobre corrupção é admirável”, continua.

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Wolf lembra ainda que a recessão “se transformou em uma recuperação suave”. O FMI (Fundo Monetário Internacional) prevê crescimento em 0,7% este ano e 1,5% em 2018. “Este último poderia até ser muito pessimista”, afirma o texto. Mesmo assim, o autor levanta diversos problemas que o País ainda enfrente, como desigualdade de renda e o fraco crescimento do PIB (Produto Interno Bruto).

Diante disso, o texto diz que o Brasil “precisa de uma reforma econômica e fiscal abrangente”. “As reformas econômicas mais importantes incluem: abrir a economia relativamente fechada; reforma tributária; reforma do mercado de trabalho; maior investimento em infraestrutura; e políticas destinadas a aumentar a poupança nacional”, afirma Wolf.

No caso destas últimas políticas, ele reforça a ideia da reforma da Previdência, que ajuda no controle de gastos. “Um regime de pensões financiado poderia aumentar a poupança nacional. O governo também deve ter a liberdade de controlar o número e o pagamento dos funcionários públicos. Fazer tudo isso liberaria recursos para outras áreas”, continua a matéria.

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Segudo ele, é um erro ver estas reformas como técnicas, sendo que elas são “altamente políticas”. “Elas envolvem fazer mudanças fundamentais na forma como o estado, os políticos e os funcionários operam. O sistema precisa passar da corrupção para a honestidade, da opacidade para a transparência, da discrição para a previsibilidade e de cuidar dos privilegiados para servir as pessoas”, afirma.

“O país caiu em tempos difíceis. Sim, a posição de curto prazo está melhorando um pouco. Mas muitas pessoas estão desempregadas, a economia está muito fraca, a política é corrupta e o estado também. É isso que a história e os recentes acontecimentos dizem aos brasileiros. O Brasil precisa de um renascimento político e econômico. A crise torna isso necessário. Se isso não acontecer, o futuro parece triste”, completa o texto.

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.