“Crise marítima” no Mar Vermelho e no Panamá: o impacto no petróleo e em outras commodities

Petróleo aparece como o mais sensível, mas também há preocupações para outras commodities

Camille Bocanegra

Canal de Suez (Bloomberg)

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O comércio marítimo corresponde a cerca de 80% das trocas globais e, há semanas, duas de suas rotas-chave deixaram de ser confiáveis para comerciantes. Seja por ataques de grupo rebelde às embarcações comerciais, como no caso do Mar Vermelho, ou por condições climáticas adversas, caso da seca que afeta o Canal do Panamá, o impacto global tem sido imenso. E se torna ainda maior para mercados de petróleo e gás, que têm no Mar Vermelho sua principal rota.

Tanto o Mar Vermelho quanto o Canal do Panamá representam cerca de 20% do comércio marítimo. No primeiro caso, as principais mercadorias que trafegam pela região são petróleo e gás, carga a granel seca e transporte de contêineres. Em relação a combustíveis, mais de um terço das embarcações que utilizam a região são petroleiros.

A diminuição do tráfego na região foi de 30% para o Canal do Panamá e 10% no Mar Vermelho em janeiro e, enquanto isso, o Índice Mundial de Contêineres (WCI) subiu 195% desde as baixas anteriores às interrupções no Panamá.

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Impacto nas commodities

Considerada como a mais sensível entre as commodities, graças a sua vulnerabilidade em relação a eventos geopolíticos, o petróleo tem enfrentado um impacto considerado moderado, de acordo com o Bank of América (BofA). Esse cenário, contudo, pode se alterar rapidamente de acordo com as tensões crescentes no Oriente Médio. De acordo com a análise, as hostilidades apresentam sério risco para os fluxos da commodity e uma grande interrupção no fornecimento poderia elevar os preços rapidamente.

“As recentes interrupções comerciais podem ter um efeito semelhante (embora de menor magnitude) à crise na cadeia de suprimentos que se desenrolou em 2021 e 2022 – impulsionando as tarifas de frete, os prazos de entrega e os preços de energia, levando, em última instância, a um aumento na inflação global. Setorialmente, os mercados de petróleo e gás são os mais diretamente expostos, mas outros mercados de commodities e exportações também podem ser afetados”, considera o BofA.

Outra questão apresentada é que, em razão dos prazos de entrega mais longos, é possível que haja um aumento dos padrões de consumo para evitar déficits de estoque. O banco estrangeiro reforça previsão do preço do petróleo a uma média de US$ 90 para o Brent em 2024, pautado em um mercado mais equilibrado.

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Com as mudanças de fundamentos enfraquecidas e a desaceleração crescente da economia norte-americana, as médias anuais de longo prazo foram revisadas para US$ 80,00 para o Brent e US$ 75 para o WTI, em comparação com as previsões anteriores de US$ 90 e US$ 86, respectivamente.

Como principais pontos de influência para a commodity, o Goldman Sachs destaca as perturbações do Mar Vermelho e o considerado “desajuste regional estrutural entre as fontes de crescimento da oferta e a demanda, bem como o crescimento da capacidade de refino”. Em relatório, o banco destaca que a redução dos fluxos nas duas frotas já reforçou a escassez presente nos mercados de petroleiros.

Em relação ao aço, a análise do BofA considera que, como a Ásia representa cerca de 52% do aço importado pela União Europeia, os prazos de entrega mais estendidos e os custos de frete mais altos poderão manter os preços globais. Ainda assim, se o frete se tornar muito custoso para a Europa, é possível que haja impacto no mercado, com o redirecionamento do produto para a América Latina.

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Não há previsão de que o cenário de papel e celulose seja impactado, em especial considerando a demanda chinesa mais fraca. Por outro lado, o redirecionamento das exportações de papel para o mercado da América Latina poderia pressionar os preços locais.