Criptomoedas são inovadoras, mas ainda precisam ser mais amigáveis aos usuários

As criptomoedas têm um futuro brilhante, mas as pessoas têm dificuldade de usá-las, incluindo aquelas que vivem em comunidades carentes

CoinDesk

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*Por Daniel Cawrey

Muitos acreditam que as criptomoedas darão a comunidades desbancarizadas maior acesso a serviços financeiros.

Os defensores dessa ideia dizem que a abundância de dispositivos móveis permitirá que as pessoas ignorem os bancos e usem criptoativos. Mais de cinco bilhões de habitantes do mundo – quase 70% do total – atualmente têm um telefone celular, de acordo com a organização internacional de comércio de tecnologia móvel GSMA. Grande parte está em áreas carentes com pouco ou nenhum acesso a serviços bancários.

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Os “crentes” em criptomoedas dizem que os ativos digitais, particularmente alguns dos recentes ligados a Web 3.0, oferecem esperança para os desbancarizados, e que servir esse público é o papel mais útil das criptos. Eles acrescentam ainda que o serviço preguiçoso das instituições financeiras tradicionais não pode competir com a tecnologia desse mercado.

Mas as novas tecnologias cripto estão longe de ajudar comunidades carentes a escapar de seu isolamento financeiro. As empresas por trás dos projetos do setor – incluindo as aplicações de finanças descentralizadas (DeFi) – falharam em fornecer aplicativos fáceis de usar, recursos educacionais e outros apoios.

As próprias ferramentas são muitas vezes difíceis de serem usadas. Como resultado, o Bitcoin (BTC) e outras criptomoedas ainda precisam fazer incursões substanciais como moedas utilizáveis. A volatilidade do BTC também é desencorajadora. Como as pessoas podem confiar em um ativo cujo preço parece subir e descer conforme a direção do vento?

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De fato, mesmo que haja maior conscientização pública sobre as criptomoedas e que alguns dos maiores investidores institucionais do mundo estejam lançando seus primeiros projetos para atender à demanda pelo ativo, elas ainda precisam se aproximar da paridade com as moedas tradicionais. Mesmo nos Estados Unidos, com sua enorme riqueza e centros de inovação, as pessoas raramente usam criptos para pagar aluguel, impostos ou outras despesas comuns. Relativamente poucos varejistas as aceitam.

O que as criptos podem fornecer se os controles forem difíceis de usar e aqueles que podem usá-los não tiverem parceiros dispostos o suficiente para fazer o sistema funcionar?

Só para deixar claro, continuo acreditando no potencial das criptomoedas. Eu vejo BTC e talvez várias altcoins um dia se tornando formas comuns de troca. Eu vejo a tecnologia blockchain como uma maneira de melhorar sistemas centralizados de serviços financeiros e talvez todos os outros setores. Acredito que a criptomoeda pode mudar vidas porque atende às necessidades do consumidor individual.

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Mas eu gostaria de sugerir uma abordagem alternativa para o setor, um passo intermediário enquanto esperamos pelas condições certas para a adoção generalizada. Acredito que isso faça mais sentido do que tentar converter pessoas que não estão prontas para a conversão.

Organizações de serviços financeiros e formuladores de políticas públicas fariam melhor se focassem na ampliação do acesso aos serviços que desbancarizados precisam para realizar transações, mesmo que não estejam relacionados a criptomoedas. Comunidades carentes precisam de ajuda agora, e se essa assistência está enraizada na moeda fiduciária e nos sistemas bancários centrais, não devemos prejudicar o processo.

Um ativo volátil

Criptos são mais uma classe de investimento do que um método de pagamento ou novo sistema bancário. E embora tenha crescido acentuadamente em sua curta história, houve algumas quedas maciças, como o atual declínio de seis meses do BTC de uma alta de quase US$ 70 mil em novembro de 2021. Portanto, não há garantia de que os ativos mantenham seu valor de um dia para o outro. Essa mutabilidade é assustadora para pessoas que lidam com questões de sobrevivência, mesmo que estejam acostumadas com suas próprias moedas nativas perdendo valor rapidamente.

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Esse medo é particularmente relevante agora. Mesmo antes da invasão russa na Ucrânia, a inflação estava em alta. Se você acha que a inflação de 8,5% dos EUA está elevada, olhe para os outros países.

O Brasil, que já foi um modelo de melhoria econômica, agora lida com mais de 10% de inflação. A Nigéria, um centro de negócios da África Subsaariana, vem lutando contra níveis de quase 16%, o que representa uma melhoria em relação a grande parte de 2021. O cenário é semelhante em vários outros países em desenvolvimento.

Stablecoins?

Alguns observadores de criptomoedas acreditam que as stablecoins podem oferecer uma alternativa melhor ao Bitcoin porque são menos voláteis e parecem mais familiares por causa de seus laços com o dólar americano. A startup de criptomoedas Reserve está até tentando fazer com que pessoas na África do Sul e em outros países usem sua stablecoin.

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Mas as stablecoins sofrem de muitos dos mesmos problemas que o BTC e outras criptomoedas. É difícil entendê-las e usá-las. E não são muitas as pessoas que as aceitam. Na próxima vez que você visitar um café, pergunte ao barista se é possível pagar com USD Coin (USDC) ou Terra (LUNA). Ele vai achar que você é do espaço sideral!

A necessidade de uma melhor rampa de acesso

Não quero parecer desanimador. A criptomoeda um dia será uma opção amplamente disponível para transações diárias. Sua lógica e eficiência são muito atraentes para serem ignoradas. Mas ainda não chegamos a esse ponto. Estamos em um estágio de transição na economia global com comunidades que antes pareciam não ter interesse no mercado cripto começando a participar dele. Mas elas precisam de ajuda agora.

Em vez de se concentrar em tecnologias blockchain que permanecem fora do alcance – embora isso seja tentador –, as comunidades seriam mais bem servidas por rampas de acesso a redes financeiras centralizadas, particularmente o sistema monetário dos EUA que, pelo menos por enquanto, desempenha um papel fundamental nos mercados financeiros.

É claro que isso não é desculpa para as falhas desses sistemas. Não teríamos a blockchain e o Bitcoin se fossem perfeitos. Os protestos dos caminhoneiros canadenses mostraram a vulnerabilidade dos sistemas centralizados à supervisão estatal.

Inspirado pelos protestos, David Heinemeier Hansson, fundador da linguagem de programação Ruby on Rails e tecnólogo hardcore, escreveu recentemente que poderia ver um futuro para as criptomoedas durante períodos de agitação nos países. Ele observou que os criptoativos podem ajudar os indivíduos a contornar a vigilância estatal que aumentou nos últimos dois anos em meio à pandemia global de Covid-19 e outros eventos caóticos em todo o mundo.

E vimos o poder das criptos nos apoiadores da Ucrânia, que levantarem US$ 100 milhões para combater a invasão não provocada da Rússia. Nenhum sistema monetário tradicional poderia ter levantado tal quantia com a velocidade e eficiência da blockchain.

Mas as pessoas, por enquanto, querem uma maneira de conduzir seus negócios. Mesmo em áreas com poucos bancos, as opções mais razoáveis ainda exigem um provedor de serviços financeiros tradicional.

Isso um dia mudará à medida que as criptomoedas continuarem a se incorporar mais firmemente em nossas vidas diárias. Mas inovações tecnológicas mais simples oferecem ajuda maior e imediata para populações carentes.

O acesso a coisas simples, como uma conta bancária por telefone, seria um primeiro passo mais impactante do que pular o básico e ir direto para cripto. Isso não parece muito, mas por enquanto terá que ser suficiente. A hora das criptomoedas chegará em breve.

*Daniel Cawrey escreve sobre criptomoedas para o CoinDesk. É coautor do livro “Mastering Blockchain”.

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