Criador do Consenso de Washington diz que G-20 precisa estimular demanda

Em entrevista à InfoMoney, John Williamson pede também reformas no FMI para elevar representatividade da Ásia

Equipe InfoMoney

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SÃO PAULO – Os países que compõem o G-20 precisam indicar uma proposta que resulte na elevação da demanda interna. Esta é a visão do pesquisador sênior do Peterson Institute for International Economics, John Williamson. “Todos podem elevar a demanda por meio de uma expansão fiscal”, disse em entrevista à InfoMoney nesta segunda-feira (27).

Williamson, criador e também crítico do termo Consenso de Washington para o conjunto de medidas formulado em 1989 por instituições internacionais como o FMI (Fundo Monetário Internacional) e o Banco Mundial e economistas latino-americanos, disse também que há necessidade de reformas urgentes no Fundo para que este recupere credibilidade e importância.

“Parece que o Fundo retomou relevância novamente porque vários países já solicitaram recursos. Mas para manter o papel do Fundo no longo prazo é muito importante que haja uma reforma em vários aspectos”, afirma o economista, que também participa da próxima edição da revista InfoMoney Ações e Mercados.

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Hoje, contudo, o pesquisador destaca que não há um nível concreto de consenso para a formulação de idéias como o observado em Washington há quase duas décadas. “Novamente existem várias idéias concorrendo, porém duvido que possa haver consenso. Acho que as idéias já existentes são suficientes. Não acredito que possamos encontrar um novo modelo para resolver os problemas. Precisamos de debate”, argumenta. Confira a entrevista:

InfoMoney – De que forma uma resolução conjunta dos países do G-20 pode ajudar na resistência destas nações à crise financeira?

John Williamson – A medida mais relevante que eles podem concordar é uma expansão fiscal conjunta. Todos podem elevar a demanda por meio de uma expansão fiscal. Provavelmente a Argentina pode não ajudar desta maneira, mas o Brasil pode fazer isto com outros países. Sozinho seria perigoso, mas em conjunto isto diminui substancialmente o risco.

O FMI voltou a ter um papel importante na elaboração de medidas de ajuda a países emergentes?

Parece que o Fundo retomou relevância novamente porque vários países já solicitaram recursos. Mas para manter o papel do Fundo no longo prazo é muito importante que haja uma reforma em vários aspectos. Na minha opinião existem três medidas urgentes:

John Williamson, pesquisador sênior do
Peterson Institute for International Economics

Primeiro, a escolha do diretor geral precisa ser aberta para uma pessoa de cada país, não somente para a Europa [Em Bretton Woods ficou definido informalmente que o presidente do Banco Mundial seria norte-americano e do FMI europeu]. Segundo, implementar a sugestão da IEO (Independent Evaluation Office) deste ano de que o comitê financeiro do fundo (IMFC) que se reúne se torne um conselho político, como foi previsto nos acordos de 1970, em vez de simplesmente um comitê.

E a terceira é a idéia de que a representação do Fundo precisa muito mais da transferência dos votos da Europa para Ásia. Existem vários países latino-americanos como o México que estão subrepresentados agora, mas o desnível muito mais profundo é entre Ásia e Europa Ocidental.

A desregulamentação proposta no Consenso de Washington pode, de alguma forma, ter ajudado na difusão dos efeitos da crise internacional que hoje vivemos?

A desregulamentação cooperada na peça original do Consenso foi acerca da entrada e saída de empresas em indústrias como a de aviação. O que aconteceu no setor financeiro foi mais uma falta de regulamentação nos novos instrumentos derivativos OTC [Over-the-counter market, mercado no qual a maior parte dos novos derivativos é negociada] que não estavam regulamentados. Concordo que a idéia de deixar este mercado sem regulamentação foi um erro, mas isso não foi discutido em Washington.

Há convergência de propostas econômicas hoje para encontrar novos pontos de interesse como em Washington?

Não temos situação de consenso na economia global hoje. Na minha opinião, em 1989, quando lancei o Consenso, foi uma época muito especial, diferente. Novamente existem várias idéias concorrendo, porém duvido que possa haver consenso. Acho que as idéias já existentes são suficientes. Não acredito que possamos encontrar um novo modelo para resolver os problemas. Precisamos de debate.