Crédito fraco e retração de margens devem pressionar resultados de bancos

Para HSBC, dentre todas as companhias, Bradesco deve apresentar melhores resultados; expectativa é de melhora com aceleração do PIB

Lara Rizério

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SÃO PAULO – A próxima semana estará recheada de resultados de instituições financeiras, que devem mexer bastante com o mercado. De acordo com o HSBC, as expectativas de crescimento lento do crédito e da receita devem impactar negativamente os balanços dos bancos. Contudo, dentre todas as companhias que divulgarão resultado, a expectativa é de que o banco Bradesco (BBDC4) deva registrar os melhores números, acreditam os analistas. A instituição também será a primeira a divulgar os números, logo na segunda-feira (22), antes da abertura do mercado. 

Os analistas Victor Galliano e Mariel Santiago apontam para três riscos que devem impactar os resultados do terceiro trimestre. O fator mais importante é o crescimento lento da recuperação do PIB, sendo o principal obstáculo para a evolução do crédito. Entretanto, existem os primeiros sinais de que o ritmo de recuperação possa se acelerar, motivado pela produção industrial.

Dentre um dos fatores que devem mais impactar os bancos, está também a pressão sobre as margens, que devem começar a surgir no terceiro trimestre, devido à reprecificação das carteiras de crédito ao consumidor, com maior impacto nos últimos três meses do ano. Galliano e Santiago ressaltam que o crescimento moderado do crédito deve atrasar o ritmo do crescimento de outras receitas operacionais. 

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“Apesar disso, esperamos alguma luz trazida pelas tendências da qualidade do crédito no terceiro trimestre”, avaliam, ressaltando que as provisões devem mostrar tendência de queda e os índices de inadimplência devem começar a melhorar por volta do final do  período, sendo setembro o melhor mês. Além disso, o índice de inadimplência deve trazer um número mais positivo do que os dados em “fluxo” como receita e lucros, que sofrem o efeito negativo dos resultados dos meses mais fracos de julho e agosto.

Bradesco : bons números no período
O resultado do Bradesco (BBDC4), que será divulgado na próxima segunda-feira (22) antes do fechamento do mercado. O banco, de acordo com os analistas, deve registrar um bom conjunto de números no período, com crescimento de 2,9% do lucro líquido na comparação com o o segundo trimestre para R$ 2,949 bilhões, motivado principalmente pela redução nas provisões, avaliam os analistas. Além disso, a expectativa é de um crescimento mais rápido do crédito, forte receita de prestação de serviços, mas sendo compensado pelas margens mais fracas no trimestre.

Por outro lado, a queda nos spreads deve compensar o crescimento ligeiramente mais rápido do crédito, o maior entre os grandes bancos privados. “A nosso ver, isso será motivado pelo crédito corporativo, o que deve contribuir para a redução das margens”, acreditam os analistas. De acordo com os analistas, o banco deve ter uma melhora na qualidade dos ativos e queda das despesas com provisões, além da redução do crescimento das despesas operacionais. Estas devem registrar uma alta de 5% na comparação com o período anterior e de torno de 10% no terceiro trimestre de 2011.

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em R$ (milhões)  3T12E 2T12 3T11 3T12E/2T12 3T12E/3T11
Despesas operacionais excluindo depreciação 7.430 7.077 6.788 +5,0%  +9,5%
Lucro Líquido 2.949 2.867 2.864 +2,9% +3,0% 
Índice de inadimplência (mais de 90 dias de atraso) 4,1% 4,2% 3,8% -8 pontos-base +32 pontos-base 
NIM (Net Interest Margin) anualizado (%) 7,0%  7,2% 6,9% -12 pontos-base + 11 pontos-base 

Itaú Unibanco: crescimento mais lento e margens mais fracas
Enquanto a expectativa é de aumento dos lucros para o Bradesco, a mesma projeção não é feita pelo HSBC para o Itaú Unibanco (ITUB4), que revelará seus números na próxima terça-feira (23). Devido ao crescimento mais lento do crédito, margens mais fracas e níveis de produção mais elevados, os analistas esperam um lucro líquido 5,2% menor do que trimestre anterior e 13,7% abaixo na comparação anual, para R$ 3,4 bilhões.

 O crédito deve ter alta de 1,4% na base trimestral e de 8% na comparação com 2011, avaliam, com desaceleração em relação aos 12% do trimestre anterior, refletindo principalmente uma demanda mais lenta que o esperado no segmento do consumidor. As provisões devem apresentar rentabilidade, assim como a qualidade dos ativos, com a ajuda da contração no crédito automotivo. 

Do lado positivo, está o indicador de despesas operacionais ao permanecer sob controle, de acordo com Galliano e Santiago. Para eles, o Itaú Unibanco deve continuar a registrar o melhor controle de custos dentre seus pares, em virtude de uma redução no número de funcionários do banco.

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em R$ (milhões)  3T12E 2T12 3T11 3T12E/2T12 3T12E/3T11
Despesas operacionais excluindo depreciação 7.874 7.895 7.781 -0,3%  +1,2%
Lucro Líquido 3.400 3.585 3.940 -5,2%  -13,7%
Índice de inadimplência (mais de 90 dias de atraso) 5,20% 5,20% 4,50% 0 pontos-base  +70 pontos-base
NIM anualizado (%) 7,7% 7,9% 7,8% – 16 pontos-base  – 13 pontos-base


Santander: alta no lucro com diminuição das provisões
Já o Santander Brasil (SANB11), que divulgará seus resultados na próxima quinta-feira (25), deve ter alta de 3% no lucro líquido na comparação com o segundo trimestre – depois que o último período foi afetado por provisões não recorrentes -, avaliam os analistas, mas com baixa de 11,9% na base anual. 

Contudo, afirmam, esse movimento positivo deve ser parcialmente compensado pelo crescimento mais lento do crédito e pressões nos nas margens, com alta de 2% na comparação trimestral e de 11% na base anual. Com isso, a expectativa é de um lucro líquido ajustado de R$ 1,275 bilhão. Além disso, a mudança no mix de crédito e o seu ritmo mais lento, juntamente com a queda das taxas deve aumentar as pressões sobre  NIM (Net Interest Margim, mais conhecido como margem financeira), esperando assim queda de 8% no trimestre. 

A qualidade dos ativos também deve se deteriorar, mas as expectativas é de uma queda de 13% nas provisões. Com relação à inadimplência, apesar da expectativa de melhora ao longo do tempo, o índice deve ter alta, motivado pelo crédito ao consumidor. Já as despesas operacionais seguem controladas, estimando uma queda de 2% na comparação trimestral. 

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em R$ (milhões)  3T12E 2T12 3T11 3T12E/2T12 3T12E/3T11
Despesas operacionais excluindo depreciação 5.247 5.354 4.930 -2,0%  +6,4%
Lucro Líquido 1.275 1.237 1.448 +3,0%  -11,9%
Índice de inadimplência (mais de 90 dias de atraso) 5,00% 4,85% 4,29% +15 pontos-base  +71 pontos-base
NIM anualizado (%) 9,6% 10,2% 7,7% -62 pontos-base +187 pontos-base

Banco do Brasil: redução do lucro com baixa dos spreads
Fechando o mês, será divulgado o balanço do Banco do Brasil (BBAS3) no dia 31 de outubro antes de começarem as operações na bolsa. A expectativa é de uma redução de 3% no lucro líquido na comparação trimestral e de alta de apenas 0,1% com base no mesmo período de 2011, para R$ 2,92 bilhões. 

A queda nos spreads pode ser compensada pelo crescimento ligeiramente mais rápido do crédito, afirmam os analistas, com os dados do Banco Central sugerindo que os bancos estatais estão liderando o crescimento do crédito no sistema. “Portanto, esperamos uma expansão acima dos pares privados Bradesco e Itaú Unibanco, de 5,5% na base trimestral e de 21% na comparação anual”, afirmam.

Entretanto, a erosão de margens deve ser contrária à expansão mais rápida do crédito, afirmam Santiago e Galliano, devido a maior pressão do governo para baixar as taxas de juros, principalmente para pessoas físicas. 

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Para os analistas, o índice de qualidade de ativos e despesas de provisões devem ficar estáveis, estimando ainda uma pequena queda nas despesas de provisões, de 1,8% na base trimestral e de 10,8% na comparação anual. Por outro lado, as projeções apontam para alta das despesas operacionais acima do guidance – de cerca de 4,3% no trimestre e de 15,3% na comparação com o mesmo período do ano anterior, enquanto a expectativa da companhia era de um intervalo entre 8% e 12% no ano. 

em R$ (milhões)  3T12E 2T12 3T11 3T12E/2T12 3T12E/3T11
Despesas operacionais excluindo depreciação 8.027 7.693 6.959   +4,3%  +15,3%
Lucro Líquido 2.920 3.009 2.918 -3,0%  +0,1%
Índice de inadimplência (mais de 90 dias de atraso) 2,2% 2,1% 2,1% 0 pontos-base  +4 pontos-base
NIM anualizado (%) 5,21% 5,40% 5,47% – 19 pontos-base  -26 pontos-base

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.