Corte da Opep+ pode pressionar Petrobras (PETR4) e testar nova diretoria, dizem analistas

Nos cálculos do CBIE, a gasolina da Petrobras estava 9,31% abaixo do mercado externo no fechamento de sexta-feira, enquanto o diesel estava 4,34% acima

Reuters

Sede da Petrobras (foto: Getty Images)

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Um potencial aumento contínuo de preços do petróleo no mercado internacional, com o corte extra de oferta pelo cartel de grandes exportadores Opep+ anunciado de surpresa no domingo (2), poderá pressionar a Petrobras (PETR3;PETR4) por reajustes e testar reação da nova diretoria da petroleira, disseram especialistas à Reuters.

Os preços do petróleo Brent – um dos indicadores levados em conta pela atual política de preços da petroleira – saltaram mais de US$ 5 o barril nesta segunda-feira (3), fechando com ganhos superiores a 6%, depois que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo e seus aliados, incluindo a Rússia, anunciaram novos cortes na produção.

Analistas e operadores ouvidos pela Reuters acreditam que a decisão poderá empurrar os preços do petróleo para US$ 100 o barril, apertar o mercado e as margens das refinarias.

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“Nada descarta que o barril, com esse corte de produção, tenha picos de US$ 100, chegue próximo dos US$ 100 e, sem dúvida, o barril mais alto será um teste para a política de preços da Petrobras, que hoje vem seguindo o PPI (preço de paridade de importação)”, disse o diretor do CBIE Pedro Rodrigues.

O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, tem defendido alterar a política de preços da Petrobras para deixar de considerar o PPI. No entanto, ele defende ser importante ainda seguir o mercado internacional para a definição dos preços, uma vez que o Brasil não é autossuficiente em combustíveis e depende de importações.

Uma nova diretoria da Petrobras tomou posse na semana passada. Pela política atual, são os diretores de comercialização e financeiro, juntamente com o CEO, os que definem os ajustes na gasolina e no diesel. Já o novo conselho de administração da companhia, que deverá ser alterado no final de abril, teria capacidade de mudar mais políticas comerciais de forma mais radical, se este realmente for o interesse do novo governo.

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“Vamos ver como ela (Petrobras) vai se comportar agora com petróleo mais alto, porque com petróleo mais alto é sempre mais difícil para anunciar uma política de preços, porque o custo é muito maior… Sem dúvida esse aumento do preço do barril, no médio e longo prazo, terá efeitos sim na Petrobras”, disse Rodrigues.

Nos cálculos do CBIE, a gasolina da Petrobras estava 9,31% abaixo do mercado externo no fechamento de sexta-feira, enquanto o diesel estava 4,34% acima.

A consultoria StoneX, por sua vez, calculou no início da tarde desta segunda-feira que haveria espaço para a Petrobras reduzir ainda em 4,9% o preço do diesel, apesar da disparada de preços, enquanto a gasolina estava em paridade. Dessa forma, um reajuste da Petrobras não seria imediatamente necessário.

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“Os preços futuros de fato estão em alta, mas a dúvida é se o físico vai acompanhar toda essa alta ou não”, ponderou o analista de petróleo e derivados da StoneX, Pedro Shinzato.

Mas para o presidente da Associação dos Importadores de Combustíveis (Abicom), Sérgio Araujo, a redução da produção da Opep+, sem dúvida, “vai pressionar a Petrobras para que ela aumente seus preços”.

No fechamento de sexta-feira (31), a Abicom calculou que o diesel da Petrobras estava 2% acima da paridade de importação, enquanto a gasolina estava 4% abaixo da paridade.