Coronavírus em planta da JBS derruba ações, que resistiram bem ao início da crise: o que esperar daqui para frente?

Apesar do tombo nas últimas duas semanas, analistas recomendam compra dos papéis diante do choque de oferta e demanda voltando na China

Ricardo Bomfim

(divulgação)

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SÃO PAULO – Líder no setor de frigoríficos, a JBS (JBSS3) resistiu melhor que seus pares ao grande crash dos mercados por conta do coronavírus. No ano, as ações da companhia caem 23%, enquanto o Ibovespa tem queda de 32% e a média de desempenho de todos os frigoríficos da América Latina foi uma baixa de 28%.

Contudo, desde que começaram as notícias de funcionários com coronavírus no abatedouro de bovinos em Greeley, no Colorado (Estados Unidos), os papéis da empresa têm registrado um desempenho mais fraco que o benchmark do mercado brasileiro. Já são 50 casos de infecção por Covid-19 na planta, fazendo com que a JBS fosse obrigada a paralisar a operação do abatedouro até 24 de abril, enquanto os cerca de 6 mil funcionários seguem recebendo salário normalmente.

“Embora a unidade de carne bovina de Greeley seja importante para o suprimento de alimentos e os produtores locais dos EUA, a disseminação contínua de coronavírus no condado de Weld exige ação decisiva”, disse André Nogueira, presidente da JBS dos EUA, em nota.

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De acordo com o analista Ricardo Alves, do Morgan Stanley, as paralisações de plantas nos EUA impactam diretamente o fluxo de caixa da JBS, pois a operação da empresa no país representa por volta de 70% da sua geração de caixa. Todavia, mesmo com a incerteza elevada, Alves entende que as margens da indústria podem aumentar.

Como os produtores de carne bovina não são integrados como os produtores de frango, o fechamento de plantas deve pressionar os preços do gado mais do que se imagina e por mais tempo, avalia o analista. “A disponibilidade de gado nos EUA continua alta, então, na nossa visão, os fazendeiros devem absorver uma parte significativa do impacto.” Ou seja, a oferta de carne no mercado diminuirá junto com a demanda por gado nos abatedouros, o que resultará em preços maiores de carne bovina e custos menores por cabeça de boi. Cenário positivo para os frigoríficos.

Outro ponto que pode ser um bom sinal para as margens da JBS é que as exportações estão se recuperando, com aumento de 32% nas vendas para o Japão na comparação anual e de 37% para a Coreia do Sul. Ao mesmo tempo, o incêndio na planta da Tyson em 2019 continua a ser um fator de redução na oferta de carne nos EUA. “O incêndio basicamente removeu 5% da capacidade de carne bovina do mercado e levou as margens nos EUA para as máximas históricas”, lembra Alves.

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Na mesma linha, a XP Investimentos mantém recomendação de compra para as ações da JBS. A analista Betina Roxo, após reunião com o diretor financeiro do frigorífico, Guilherme Cavalcanti, e com a diretora de relações com investidores, Christiane Assis, destacou que a JBS tem três prioridades hoje: manter trabalhadores seguros, manter plantas operando e manter empregos. A empresa mantém seu plano de investir R$ 8 bilhões no Brasil nos próximos cinco anos.

Betina ressalta que a demanda continua acima da média esperada para esse momento de coronavírus e que a JBS possui um total de nove plantas de carne bovina e cinco de carne suína nos EUA. Assim, há bastante flexibilidade para realocar a produção entre cada uma. Com o aumento no desemprego no país, causado pela pandemia, a empresa brasileira tem encontrado muito mais facilidade do que antes para contratar mão de obra qualificada, o que permite a cobertura dos funcionários afastados pela doença.

A analista comenta ainda que nenhum caso de coronavírus foi registrado até agora nas plantas da JBS na Austrália. A demanda chinesa também estaria se normalizando aos poucos. “Neste trimestre, as exportações das três proteínas fecharam positivamente tanto em preço quanto em volume: em dólares, as vendas de frango do mercado brasileiro como um todo cresceram 8,4% na comparação anual, seguidas pelas vendas de carne bovina com +29,2% A/A e pelas de carne suína com +66,3% A/A.”

Vale lembrar que a China ainda não está livre da peste suína, que dizimou os plantéis do país e gerou uma demanda muito forte por carne, motivo por que as ações de frigoríficos dispararam entre o fim de 2018 e o começo de 2020. Com a abertura do mercado chinês às exportações de carne dos EUA, as perspectivas são ainda mais positivas para as vendas da JBS à maior economia da Ásia.

Os analistas Leandro Fontanesi, Tiago Mello e João Grandi, do Bradesco BBI, também comentaram em relatório a demanda da China. A equipe do banco revela que o país importou 391 mil toneladas de carne de porco no mês passado, um aumento de 207% na comparação com o mesmo mês do ano anterior.

As importações de carne bovina, por sua vez, atingiram 531 mil toneladas no primeiro trimestre de 2020, o que representa um crescimento de 65% na base anual. Os analistas ressalvam, entretanto, que as compras devem cair após uma queda na demanda do setor de serviços alimentícios, à medida em que as pessoas ficam longe dos restaurantes para evitar a pandemia de coronavírus.

“Como já sinalizamos, gostaríamos de ter mais clareza em relação à recuperação da demanda pelo setor de serviços alimentícios na China, pois esse segmento é importante para a demanda de carne bovina e pode definir o ritmo de recuperação das exportações das empresas que cobrimos”, escreveram.

No Brasil, Betina aponta que houve queda nas vendas para bares e restaurantes, algo parcialmente compensado pelo aumento nas vendas em supermercados. O canal online também cresceu muito durante a quarentena, dobrando as vendas.

Até agora, poucos funcionários de frigoríficos brasileiros foram infectados pelo coronavírus, sendo três em uma planta da JBS em Santa Catarina e seis trabalhadores da BRF. O diretor-executivo da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin, minimizou o risco de fechamento de plantas. “Não vejo risco de parar porque as empresas tem trabalhado com prevenção e estão cumprindo a risca esse protocolo, com desinfecção reforçada”, sustentou.

Finalmente, a analista da XP diz que a JBS hoje possui um sólido balanço com níveis elevados de caixa que podem servir como um “seguro” diante da volatilidade do mercado. “Quando o cenário voltar a normalidade, a empresa poderia voltar a renegociar dívidas com o objetivo de diminuir sua despesa financeira”, pondera.

A recomendação da XP para JBS é de compra, com preço-alvo de R$ 36,00, o que corresponde a uma valorização de 73,41% sobre o atual valor de negociação dos papéis JBSS3. Já o Morgan Stanley estabelece como preço-alvo R$ 31,00, um upside de 49,33% em relação à cotação desta quarta. A recomendação também é de compra.

Das 15 casas de análise que cobrem o papel, segundo dados da Bloomberg, 13 (ou 86,7%) recomendam compra para o ativo, enquanto 1 possui recomendação de manutenção, sendo o Goldman Sachs o único que recomenda venda. O corte de recomendação pelos analistas do banco aconteceu no fim de março, com a avaliação divergente de que haveria um risco maior de que a divisão de carne bovina nos EUA da JBS sofra desaceleração em volumes e apresente margens menores a partir do segundo semestre.

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Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.