Concorrência deve ditar os rumos de BM&F Bovespa em 2012, enquanto Cetip avança

Entrada de bolsas dos EUA no mercado acionário brasileiro deve penalizar BVMF3; ações da Cetip devem ser beneficiadas

Paula Barra

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SÃO PAULO – A possível chegada de bolsas de valores norte-americanas no Brasil em 2012 tem balançado o mercado nos últimos meses. São grandes as preopações com a redução do market share da BM&F Bovespa (BVMF3) e o papel que a Cetip (CTIP3) desempenhará nesse ambiente.

O cenário segue tortuoso para a BVMF3 neste ano, enquanto as ações da Cetip são vistas como uma boa opção no médio e longo prazo, já que devem ser beneficiadas pelo aporte de capital das empresas privadas e pelo uso de produtos financeiros mais estruturados. 

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1 – Entrada de novos players no mercado acionário brasileiro
Apesar da concorrência se estabelecer no País apenas no final deste ano, com a entrada da Direct Edge e posteriormente a Bats, o ano de 2012 será marcado pelas notícias sobre a entrada de novos players no mercado acionário brasileiro, podendo representar um fator negativo para as ações da BM&F Bovespa.

O analista Henrique Navarro, do Santander, acredita que o cenário será semelhante ao que aconteceu com a Redecard e Cielo no mercado de adquirência, quando a situação de duopólio no Brasil foi quebrada por uma abertura do mercado. “Durante todo esse período, as ações das duas credenciadoras de cartões sofreram muito”, comparou o analista.

Na mesma tendência, Paulo Ribeiro, do HSBC aponta que “o mercado está repetindo o padrão visto no início deste ano – castigar as ações primeiro e fazer as perguntas depois”. Entre as concorrentes para a bolsa de valores brasileira, o analista indica que a Direct Edge representa atualmente uma ameaça mais séria do que a Bats. Contudo, ele acredita que as diferenças estruturais no Brasil e nos EUA, onde a empresa opera, podem atrasar em muito o lançamento estimado para o último trimestre de 2012, e limitar a capacidade para ganhar participação de mercado.

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Vale lembrar que a Direct Edge e a Bats têm em torno de 10% de market share nos Estados Unidos, cada uma. “As duas empresas conquistaram esse market share rápido e isso pode ser totalmente replicável no Brasil. Num cenário de médio prazo, eu vejo essas empresas abocanhando cada uma os seus 10% de partipação no mercado brasileiro”, disse Navarro.  

Enquanto isso, o caminho permanece favorável para a Cetip, que pode ser beneficiada pela entrada de novos players no segmento de bolsa de valores, disse Navarro. Diante disso, o CFO (Chief Financial Officer) da Cetip, Francisco Carlos Gomes, comentou que a entrada das bolsas norte-americanas no Brasil não irá produzir impactos nos resultados da companhia para este ano. 

Além disso, Gomes adiantou que, apesar das especulações de que a Cetip poderia ser uma opção lógica de parceria para as bolsas norte-americanas no serviço de liquidação, a companhia não está interessada neste tipo de negociação. “Nossas ações estão voltadas para o lançamento da nossa nova plataforma de negociação de títulos de Renda Fixa e a um projeto para oferta de soluções para o mercado de crédito imobiliário. Não faz sentido desviar o foco e alocarmos recursos para investir em uma bolsa para negociar ações. Não temos intenção de concorrer em mercados existentes, mas sim explorar mercados novos”, explicou. 

2 – Investimentos em tecnologia
À medida que a concorrência esquenta, as empresas no universo das instituições financeiras diversificadas estão investindo em plataformas mais robustas e novos produtos, com vistas a melhorar a eficiência operacional e as sinergiais de receitas. A BM&F Bovespa lançará seu novo módulo de negociação para ações e a integração dos sistemas de compensação, com investimentos estimados em R$ 240 milhões. Já a Cetip continua a fortalecer seu segmento de gestão de colaterais e a desenvolver o produto de registro hipotecário. 

Diante disso, Ribeiro acredita que a Cetip pode enfrentar um desafio mais difícil trazido pelo upgrade da plataforma da BM&F Bovespa, onde as empresas são concorrentes no segmento de derivativos de balcão, sendo que 75% da participação pertence a Cetip e os restantes 25% à BM&F Bovespa.  

Na mesma direção, o Santader menciona a continuidade dos gastos com tecnologia da informação na BM&F Bovespa como a principal razão para o nível de investimentos projetados para 2012, entre R$ 230 milhões a R$ 260 milhões. Contudo, Navarro espera que a companhia registre um nível mais razoável de investimentos, já que a expectativa é de que as pressões continuem sobre a companhia, devido à concorrência crescente e à demanda por sistemas e plataformas mais rápidas.

3 – Cenário macroeconômico também pode atrapalhar BM&F Bovespa
O cenário macroeconômico também pode afetar a bolsa de valores brasileira, já que os volumes negociados de ações e derivativos são mais suscetíveis à uma desaceleração na economia do País e às preocupações sobre o cenário global. Por sua vez, a Cetip sai na frente nesse quesito, tendo em vista que o crescimento no segmento de títulos e valores imobiliários tem sido bastante estável nos últimos anos.

Vale lembrar, contudo, que a aquisição da GRV – responsável pelo processamento e custódia das informações e transações de financiamento de veículos em todo o Brasil – em dezembro de 2010 aumentou a exposição da Cetip ao segmento mais cíclico do financiamento de veículos, disse Ribeiro. 

Já no caso da BM&F Bovespa, é importante ressaltar que seu desempenho foi afetado ao longo de 2011 devido à desalavancagem e desaceleração dos países soberanos, além dos efeitos colaterais do Quatitative Easing, a apreciação cambial e a inflação, principalmente sobre os países emergentes e as novas medidas governamentais para tentar conter a valorização do real frente ao dólar.

Enquanto isso, a Cetip reportou forte crescimento da receita e ganhos em seus resultados trimestrais do ano anterior. Embora o desempenho do segmento da GRV esteja ligado a atividade econômica, a expansão considerável da Cetip tem sido mais do que suficiente para compensar a desaceleração na venda de veículos. A equipe de analistas do Bradesco, liderada por Carlos Firetti, estima que a aquisição da empresa também pode trazer sinergias nos produtos no médio prazo, assim como a entrada da ICE (IntercontinentalExchange) no capital da companhia.

4 – Ações da Cetip devem apresentar bom desempenho no ano
Os papéis da Cetip aparecem em destaque neste ano dentre as recomendações do HSBC, Santander, Credit Suisse e Bradesco. “Se por um lado, o crescimento de crédito será mais lento este ano, os registros de letra financeira devem continuar a avançar rapidamente”, disse o analista Marcelo Telles, do Credit Suisse. Enquando isso, as ações da BM&F Bovespa não devem registrar um desempenho tão atraente em 2012, devido principalmente à concorrência, que deve afetar fortemente o desempenho dos papéis. 

Para o HSBC, o aprofundamento dos mercados financeiros e as necessidades substanciais de financiamento no Brasil são os principais drivers de crescimento da Cetip. A estratégia futura para a empresa é deixar de ser apenas um centro de registro e se transformar em um pool de liquidez de ativos mantidos em custódia, acredita Ribeiro.  

Ademais, o CFO da Cetip, Francisco Carlos Gomes, comenta que entre os projetos futuros da companhia está a intenção de se aproximar mais do investidor individual. Ele apontou que é preciso criar um mercado de renda fixa mais ativo. “O aumento das atividades e a maior liquidez atraem o investidor individual e tornam nossas operações mais populares”, concluiu.